Te Deum é a designação de um hino
que faz parte da Liturgia das Horas da Igreja Católica. É a forma abreviada de
Te Deum Laudamus, Louvamos-te, Ó Deus! O momento apropriado para cantar este
hino é o final de Dezembro, quando os fiéis agradecem as benesses recebidas
durante o ano decorrido. É também inspiração para músicos que cultivaram o
género: Purcell, Charpentier, Mozart, Haydn, Bruckner e outros compuseram, com
este título, obras-primas festejadas por crentes e não crentes.
Hoje, as coisas tomam outras
formas. Dispensa-se o génio musical. Retira-se o Deus fora de moda. Antecipa-se
a cerimónia para o início do novo ano fiscal. Coloca-se em cena o objecto do
louvor. Rodeia-se o sujeito de uma corte bem apessoada, que até pode ser um
Conselho de Ministros, em vez dos tradicionais querubins. Adjudicam-se os
procedimentos a uma Agência de Imagem. Contrata-se uma Universidade “a fim de
credibilizar” o exercício, segundo as palavras dos protagonistas.
Seleccionaram-se umas dezenas de
figurantes por amostra calibrada, a quem se pagam deslocações, bebidas, um
snack e um per diem de ajudas de custo (150 euros, segundo testemunhos).
Solicita-se a um sacerdote que se ocupe do ritual. Os figurantes agem como se de
um coro grego se tratasse, mas em intervenções sucessivas, não em coral
clássico. Às perguntas inteligentes dos figurantes, o solista responde com
desenvoltura. A fim de mostrar o espírito de equipa, vários membros da Corte
são chamados a participar.
Vozes incómodas fizeram reparos.
Foi-lhes dito de imediato que “no ano passado também houve”. A quem referisse
que já é a segunda vez que isto se faz, foi esclarecido que o anterior governo
também tinha feito algo de parecido na televisão. Aos que estranharam a inclinação
dos socialistas, de Costa e de Sócrates, para a propaganda, foi garantido que
as direitas, Cavaco Silva, Santana Lopes e Passos Coelho, também o faziam.
É preciso má vontade para
comparar esta liturgia honesta à propaganda das direitas! Na verdade, enquanto estas
tudo fazem para enganar os cidadãos, as esquerdas apenas se limitam a ouvir o
povo, escutar as pessoas, tentar perceber o seu pensamento e entender os
anseios profundos da população. Só com muita má fé se pode imaginar que este
governo queira fazer qualquer coisa que não seja uma genuína e honrada
tentativa de ouvir e de sentir o pulsar dos Portugueses, as suas críticas e as suas
sugestões!
Aqueles vinte ministros não eram
os patrões dos funcionários presentes no coro litúrgico e em nada intimidavam os
que, livremente, pretendiam fazer perguntas: eram coadjuvantes competentes,
prontos a ouvir e esclarecer. Aquela Universidade e aqueles académicos eram
dedicados à ciência e à cultura, não estavam ali para obter reconhecimento e
fama junto de quem decide os orçamentos. Aquela Agência de imagem desempenhou
as suas funções de modo isento e com profissionalismo.
O que ali se passou não foi
medíocre. Não foi armadilha, nem manipulação. Não foi a transformação da
informação em publicidade empacotada. A quermesse de Aveiro é boa e genuína. É
uma encenação patriótica e plural. A melhor prova de que é coisa boa reside no
facto de, no ano anterior, se ter feito igual. E de dois anos antes, na
televisão, organizada pelo governo da direita de Passos Coelho, ter havido
coisa parecida!
Os cidadãos que ali se deslocaram
prestaram um serviço ao país, dispuseram-se a representar os restantes
Portugueses que não puderam estar todos presentes, deram ao governo dados
autênticos, entre eleições, sobre o estado da nação. Fizeram-no de modo mais verdadeiro
do que as sondagens que não permitem esta consulta de proximidade. Melhor do
que o focus group a seguir aos incêndios, este Grupo é uma auscultação em
comunhão. É o próprio de um governo para as pessoas, não para os números.
DN, 3 de Dezembro de
2017
1 comentário:
Pode até ser que tenha razão, mas continua a parecer-me folclore. Afinado e com passo certo. Mas não faz esquecer o que tem havido de desconcerto governativo.
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