Senhoras e Senhores,
EM NOME da
Fundação Francisco Manuel dos Santos, saúdo todos os presentes, convidados,
oradores, relatores, voluntários, parceiros, agências e empresas organizadoras.
Dou-vos as boas vindas e exprimo os meus votos de uma excelente jornada de
debates e convívio.
Saúdo o mais
velho convidado deste Encontro, com 88 anos. Saúdo a família que inscreveu três
gerações, pais, avós e filhos ou netos. Saúdo o mais novo convidado, que, com
um mês de vida, ainda não me pode perceber!
Após três anos e
meio de existência, esta Fundação tem hoje uma iniciativa de grandes dimensões.
Esta é a nossa primeira grande conferência. Pretendemos criar uma tradição ou
um hábito. Gostaríamos de realizar um Encontro deste tipo todos os anos.
Este Encontro
foi organizado sob a orientação científica de Maria João Valente Rosa, com a
ajuda de um Conselho Científico e a colaboração de muita gente liderada pela
comissão executiva de José Soares dos Santos
e Pedro Castro.
O “Presente no Futuro – Os Portugueses em 2030”
foi o tema escolhido. Aproveitámos a publicação pelo Instituo Nacional de
Estatística dos resultados finais do Censo 2011. Assim como os trabalhos da
PORDATA. E as previsões e projecções da população para 2030 e 2050 preparadas
por Maria Filomena Mendes e Maria João Valente Rosa.
É uma boa altura para olharmos para nós e para tentarmos descortinar o que
podemos ou queremos ser dentro de duas ou três décadas. Com as projecções que
serão analisadas ao pormenor durante estes dias, vemos que a população
portuguesa se encontra numa fase de extraordinária importância. Alguns cenários
sugerem que Portugal pode perder entre dez a trinta por cento da sua população
em vinte a trinta anos!
A missão desta
Fundação tem, à cabeça, o estudo, a divulgação, a informação, o conhecimento e
o debate. Com esta Conferência, cremos estar a cumprir essa missão. Tanto mais
que consideramos que o povo português não está devida e suficientemente
informado, nem tem oportunidades bastantes para debater os seus problemas e as
suas opiniões. Talvez seja esta uma tradição ou um antigo fardo, mas não nos
conformamos. Se a nossa primeira preocupação, o nosso objectivo central e o
nosso desígnio fundamental é a liberdade, também sabemos que a informação, a
opinião independente e o debate público são condições e instrumentos de
liberdade. É para isso que queremos colaborar. Porque não acreditamos que as
autoridades e as forças políticas sejam suficientes para proteger a liberdade.
E parece até que as instituições políticas não estão à altura da gravidade dos
problemas, das carências dos Portugueses e da procura de soluções. Por isso
temos a certeza de que todos devemos contribuir.
Parece haver
algo de estranho. Enquanto, lá fora, no país e na sociedade, se vivem momentos
particularmente difíceis, aflitivos mesmo, nós estamos aqui a discutir o que
será dos Portugueses dentro de vinte a trinta anos! Enquanto o mundo, lá fora,
sofre e luta pela sobrevivência, nós, no conforto deste Encontro, estudamos e
discutimos os cenários para 2030! Parece absurdo, mas não é.
Foi uma decisão
nossa: prever, projectar e antecipar... Para melhor decidir hoje. Para tudo
saber hoje. Para formar opinião hoje. Isto, porque queremos preparar as
próximas décadas. E porque pretendemos cuidar de um bem valioso: a liberdade de
escolha.
Não me ocorre
discutir aqui a política nacional, nem, por exemplo, as recentes medidas
oficiais decorrentes dos acordos de assistência internacional. Não é para isso
que aqui estamos. Mas sei, sabemos que os Portugueses estão preocupados.
Inquietos. Por vezes até aflitos. Vivem um dos momentos mais difíceis da nossa
história recente, uma das mais sérias crises sociais e económicas. Muitos não
sabem como vão viver amanhã, em 2013 ou 2014, e nós estamos aqui a discutir
2050! Parece irónico, mas não é. Partimos do princípio que as melhores soluções,
mesmo para os problemas do dia, são as que forem pensadas com profundidade, com
participação e com conhecimento ou informação.
Mais ainda, as
decisões tomadas hoje vão moldar o país que teremos em 2030. Nas migrações, por
exemplo. Na habitação e no urbanismo. Na organização da educação e da formação
profissional. O que fizermos hoje, como o fizermos e quando o fizermos, não
terá apenas efeitos nos défices, nos rendimentos ou na segurança de amanhã ou
depois. Será o princípio do que seremos dentro de duas décadas.
Se não soubermos
cuidar hoje da informação, do debate, da opinião livre e da coesão social,
então perderemos mais tarde o bem mais precioso: a liberdade de escolha.
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Fundação Francisco Manuel dos Santos
Lisboa, Centro Cultural de Belém, 14 e
15 de Setembro de 2012