domingo, 25 de agosto de 2013

Luz - Madrid, Pull and Bear

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Nesta montra, o jogo entre a menina de fora e os manequins de dentro interessou-me. Só em casa reparei que o nome da loja estava discretamente inscrito no vidro. Ao que me dizem, esta loja faz parte de um gigantesco grupo que inclui a Zara, a Pull and Bear, a Massimo Dutti, a Springfield, a Bershka, a Stradivarius e outros. Cada nome, cada marca, cada estilo e cada preço tem um destino próprio: a idade, a classe social, o país, a cidade, a região e a profissão. O que eles chamam um “target”. São as técnicas modernas de venda que nos ultrapassam, mas que tão eficientes se revelam! (2012)

domingo, 18 de agosto de 2013

Luz - Barcelona, Saída da Igreja

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Numa pequena transversal das “Ramblas”, nesta pequena e bonita Igreja, repete-se uma cena comum na iconografia ocidental de “costumes” e “paisagens”: um ou vários mendigos sentado no chão, a pedir, enquanto fiéis saem (ou entram) na Igreja. Há gravuras assim, com estes motivos, desde finais do século XVIII. Em livros de viagem do século XIX, por terras do “Sul”, ilhas e países do Mediterrâneo, é imagem muito frequente. Em certos casos, no Próximo Oriente e na Índia, diante de mesquitas e de templos hindus, nas imagens que os ocidentais traziam (especialmente fotografias desde os anos 1860 ou 1870), lá vamos encontrar os mendigos sentados no chão. A primeira fotografia que fiz com um motivo similar foi em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, nos Açores. No ano de 1975! Só muito mais tarde percebi que tinha “repetido” essa imagem em vários países e diversas cidades. Incluindo, de novo, Ponta Delgada, mais de trinta anos depois. (2012)

domingo, 11 de agosto de 2013

Luz - Barcelona, Mistérios numa avenida

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Há fotografias assim: escondem mistérios. Por vezes, mais do que aquele que o fotógrafo tinha detectado. É raro conseguir desvendar o mistério, sobretudo quando se rata de fotografias de rua, ao acaso do passeio ou da espera. Nesta avenida de Barcelona, a senhora do primeiro plano surpreendeu-me e intrigou-se. Tantos embrulhos, tantos sacos. Mudança? Despejo? Separação? Pobreza? Compras? Caridade? Desemprego? Distribuição? Entrega a uma loja de segunda mão? Nunca saberei. Fica a interrogação sobre o modo como ela vai sair dali e levar aqueles sacos todos… Mas avanço o olhar e, no segundo plano, vejo um casal estranho, pelo volume dos corpos, pela pose de um (que parece homem), pelo gesto do outro (que parece mulher) … Mais longe ainda, já em casa, descubro um terceiro grupo de pessoas, que olham para cá, de frente, talvez para o casal, quem sabe se para a mulher e seus sacos, ou porventura para outro sítio qualquer! Será tudo de uma total banalidade? Haverá mais do que isso, drama ou sofrimento? (2012)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A Europa e a Liberdade são mestiças

Quando se sente europeu?

QUANDO ouço Felipe II, rei de Espanha e de Portugal, filho do imperador Carlos V do Sacro Império Romano Germânico e de Isabel de Portugal, casado três vezes com uma rainha inglesa, uma princesa portuguesa e uma princesa francesa, cantar, na Ópera Don Carlo, de Verdi, sobre libreto de Joseph de Méry e de Camille de Locle e drama original de Friedrich Schiller, a área na qual prevê ser enterrado sozinho no Escorial, sei que estou na Europa. 

Quando, na Polónia, visito Auschwitz, campo de concentração construído por alemães, no qual foram assassinados alguns milhões de polacos, russos, romenos, judeus, alemães, ciganos, húngaros, ucranianos, comunistas, socialistas, testemunhas de Jeová, homossexuais e outros, sei que estou na Europa. ++Quando visito uma aldeia perdida na Toscânia chamada Borgo di Sansepolcro e deparo, no Museo Cívico, com a Ressurreição, de Piero della Francesca, sei que estou na Europa. 

Quando passeio pela Normandia e visito uns tantos cemitérios da segunda guerra mundial onde estão enterrados 1.000 Polacos, 15.000 Britânicos, 5.000 Canadianos, 16.000 Americanos e 42.000 Alemães, sei que estou na Europa. 

Quando me passeio entre os bardos de vinhas do Douro, que produzem um dos grandes vinhos do mundo, dito do Porto, feito por lavradores portugueses, trabalhadores galegos, comerciantes escoceses e transportadores holandeses e ingleses e bebido por toda a gente, sobretudo franceses, sei que estou na Europa. 
«DN» de 26 Jul 13

domingo, 4 de agosto de 2013

Luz - Barcelona

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Numa passagem de peões, duas crianças brincam. Ou será que treinam? … (2012)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Respostas a perguntas de o «Expresso»


- No final da ditadura, o que mais nos distanciava dos restantes países europeus?

A pobreza. A ignorância. A saúde pública. A falta de liberdade. Era o que nos distinguia dos europeus, em todo o caso da maioria dos europeus. Os últimos dez a quinze anos de ditadura tinham no entanto mudado muita coisa. Em resultado da integração europeia (EFTA), da emigração para a Europa, da guerra em África e do turismo, havia desenvolvimento industrial, muito investimento externo, praticamente pleno emprego, oportunidades de trabalho na cidade e na indústria e alguma pressão liberal ou democrática. O período que vai de 1960 a 1974 é o período de maior crescimento económico da história de Portugal. Foi pena não ter havido desenvolvimento político. Foi nesse período que surgiu o início daquela que vai ser a classe média. Frágil. Recente. E dependente do Estado.

- Quais foram as maiores conquistas da sociedade portuguesa desde então?

As liberdades públicas. O sistema democrático. O Estado de protecção social (saúde, educação e segurança social universais). A presença da mulher no espaço público. Um formidável melhoramento do nível geral de bem-estar e conforto. A integração europeia. E, com excepção dos últimos anos de crise, a diminuição das desigualdades sociais e económicas.

- Quais foram os maiores falhanços?

A dependência em que Portugal se colocou perante o estrangeiro e os credores. A incapacidade do sistema democrático para gerar desenvolvimento económico. A demagogia da maior parte dos dirigentes políticos e partidários. O sistema eleitoral amigo do despotismo. A mediocridade ineficiente e atávica do sistema judicial. A partidarização da Administração Pública. A incapacidade para conduzir a reconversão económica, designadamente industrial, agrícola, silvícola e marítima. Na verdade, com a guerra colonial, o estertor da ditadura, a revolução, a contra-revolução e a demagogia democrática, perdemos talvez vinte a trinta anos!

- O que é preciso fazer diferente para corrigir esses falhanços?

Mudar o sistema eleitoral. Mudar a Constituição. Alterar o sistema político, colocando um termo ao famigerado semi-presidencialismo. Reforçar os poderes do Tribunal de Contas. Criar uma poderosa Inspecção-geral da Administração Pública. Revogar o regime de autogestão da magistratura. Abolir o sistema da Administração Pública de “confiança política”.

- Considera que o país está hoje a retroceder nas conquistas feitas? Em que áreas?

Está a retroceder, com certeza. Há dez anos que o produto decresce e que nos afastamos da Europa. Os Portugueses têm hoje menos coberturas sociais (saúde, educação, segurança social) do que tinham há dez anos. A criação de emprego e de oportunidades está no mais baixo há várias décadas. A emigração para o estrangeiro retomou há quase dez anos. As expectativas das gerações jovens são pobres e desoladoras. O sistema político está desacreditado. O sistema democrático, tal como existe entre nós, não merece confiança. 

In «Expresso» de 13 Jul 13