.SENTIR A FALTA de alguém. Eis um sentimento ambíguo. Porque é triste, muito triste, mas também porque é doce, muito doce. Sentir a falta é a melhor homenagem que se pode fazer. É alguém que nos dava e trazia qualquer coisa. Alguém que desempenhava um papel. Alguém para quem olhávamos. Alguém cuja opinião era referência: “que pensaria ele nesta situação?”, eis o que todos nos perguntamos em relação às nossas referências em qualquer situação.
Muitos sentem a falta de José Luís Saldanha Sanches. Os familiares, seguramente. Os amigos, não tenho dúvida. Os colegas e alunos, com certeza. Mas também os cidadãos atentos ao debate público. Em questões de cidadania, dos direitos humanos, de cumprimento dos deveres, da fiscalidade, do sistema de justiça e especialmente da corrupção, tinha-se transformado numa luz. Com o seu quê de Provedor, mesclado de Ancião e Profeta. Nos cafés, aquelas infernais televisões sempre abertas poucas vezes criam o silêncio. Com o José Luís, vi eu, era o caso. As pessoas queriam ouvi-lo.
Na origem deste fenómeno, estão vários atributos. A inteligência, a firmeza de juízo, a cultura e o doce sorriso. Mas havia outro, indelével: a honestidade.
Alguns dirão que a honestidade não merece ser sublinhada, é apenas o cumprimento do dever. Mas a verdade é que, actualmente, a honestidade é referida. Pela sua raridade, talvez. Tempos duros e difíceis, estes que vivemos.
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Texto lido na cerimónia evocativa na Universidade Católica.