Com campanha eleitoral, é
inevitável que se fale de racismo. O passado colonial é terreno fértil para o
tema. Em certas áreas é costume dizer-se que Portugal não é um país racista e
há gente que até gosta imenso de pretos. Noutras, é hábito dizer-se que
Portugal é racista e por isso temos de pedir desculpa aos Africanos.
É difícil tratar deste assunto
sem incorrer em ódios vigorosos. Em Portugal, há racistas. Há práticas legais
ou comuns de carácter racista. Há comportamentos racistas da responsabilidade
de brancos europeus, cristãos ou ateus. As vítimas são ciganos, negros, judeus,
muçulmanos, chineses e outros. Também há comportamentos racistas da
responsabilidade de africanos, ciganos, chineses e muçulmanos, sendo as vítimas
brancos, europeus, cristãos e ateus. Portugal não é um país racista. Talvez já
tenha sido. Mas hoje não é. Há racistas, mas não é racista. Não se conhecem
normas públicas ou legais que estipulem a inferioridade de etnias ou a redução
dos seus direitos.
Estatisticamente, a corrupção, a
trafulhice, a promiscuidade, o nepotismo e o peculato são fenómenos praticados
maioritariamente por brancos e europeus. Ninguém se lembra de dizer que aqueles
crimes são europeus e brancos. Nem há quem garanta, muito menos, que os brancos
e europeus sejam todos vigaristas.
Os maiores crimes, em volume de
negócios, cometidos em Portugal nas últimas décadas, foram da responsabilidade
de banqueiros e da autoria de empresários portugueses, brancos e cristãos, com
a ajuda de alguns africanos e chineses, mas a ninguém ocorre afirmar que todos os
corruptos, ladrões, culpados de branqueamento e enriquecimento ilícito são
católicos portugueses e brancos. E também não se diz que todos os empresários
brancos e portugueses sejam corruptos.
Tão mau quanto o crime é o
preconceito. Um vigarista aflige tanto quanto um racista. O crime de um branco
incomoda tanto quanto o de um negro. A vigarice de um rico empresário é tão
condenável quanto a do sindicalista. Um criminoso branco é tão responsável
quanto um criminoso negro, não há atenuantes que resultem da família, da origem
social ou da cor da pele.
É preconceito pedir desculpa aos
povos africanos. É preconceito demagógico pedir perdão pela escravatura ou pela
exploração de há cem ou quinhentos anos. É preconceito ignorante esquecer que
esclavagistas foram também africanos, árabes, indianos e chineses!
Tão má quanto o preconceito e o
crime é a generalização. A generalização abusiva, a popular e a elitista, a dos
brancos e a dos negros, é vício de pensamento e calúnia certa. Os homens são
todos iguais… A direita é fascista, a esquerda é comunista… Os políticos são vigaristas…
Os ciganos são bandidos… Os brancos são racistas… Os negros são ladrões… Os
imigrantes fazem tráfico de droga… Os muçulmanos são terroristas… Os chineses
não pagam impostos… Os portugueses gastam o dinheiro em mulheres e vinho… Os
empresários são aldrabões… Os sindicalistas são preguiçosos…
Há ciganos a viver de abonos e
subsídios indevidos. Há africanos a viver de extorsão, jogo ilegal e tráfico de
droga. Há ucranianos a viver da prostituição e do lenocínio. Há asiáticos que
fogem ao fisco e não respeitam as leis do trabalho. Mas, pela lei da
estatística simples, há muitos mais brancos, europeus e cristãos a cometer aqueles
crimes. Se muita gente se lembra de dizer que os ciganos e os africanos são
isto e aquilo, já não pensam em dizer o mesmo dos Portugueses, brancos e
cristãos. O preconceito racista começa aí. Mas também é preconceito racista
desculpar ou perdoar os crimes dos africanos, dos asiáticos e dos ciganos por
serem o que são. É preconceito e crime desculpar o terrorismo porque é cometido
por islamitas. É preconceito e crime desculpar o tráfico de droga porque é da
autoria de africanos. É preconceito e crime desculpar qualquer comportamento
ilegal por causa da etnia, da religião, dos motivos políticos e das crenças
religiosas. Um racista branco não é pior do que um racista negro. E um
terrorista cristão não é melhor do que um terrorista muçulmano.
DN, 27 de Agosto de
2017