A Autoeuropa é, em Portugal, o
primeiro exportador e o mais importante investimento industrial. Está em curso
uma negociação difícil entre a Volkswagen e os seus trabalhadores, a fim de
garantir a produção de um novo modelo, o que trará muito emprego e mais
exportações. A Comissão de Trabalhadores chegou a um acordo com a administração
alemã. Os sindicatos comunistas estão contra o acordo, contra a empresa e
contra a Comissão de Trabalhadores que não controlam. Os sindicatos venceram
uma votação. A Comissão demitiu-se, não se sabe se a pensar numa reeleição. O
assunto merece atenção. Na verdade, tudo deve ser feito, com dignidade e
equilíbrio, a fim manter e desenvolver a Autoeuropa.
No entanto, como disse Wolfgang
Münchau, no DN, esta semana, a VW e a indústria automóvel alemã estão em perda
de importância. A responsável por essa destruição não foi a concorrência que os
alemães tão bem souberam derrotar durante décadas. Nem sequer foram os acordos ilegais
e secretos entre construtores (VW, BMW, Mercedes, Audi…). Foi a trafulhice que
os dirigentes da Volkswagen praticaram durante anos: uma das maiores
falsificações da história da indústria!
A Alemanha, actualmente, não é de
confiança. Foi, mas já não é. A impressão que tínhamos de uma Alemanha séria,
de boas contas, trabalhadora e rigorosa desvanece-se gradualmente. Um dos
valores da Alemanha no mundo, a qualidade dos seus produtos, ficou danificado.
A sua superioridade perante os concorrentes está comprometida. Vão ser
necessárias décadas para recuperar uma reputação perdida.
A primeira mácula contemporânea
na reputação alemã foi a história de doações financeiras aos políticos e aos
partidos nos tempos de Helmut Kohl. Os processos não foram concluídos, nunca se
apurou a verdade e poucos foram punidos.
Depois, a manipulação das taxas da
Euribor foi episódio desastrado para a reputação alemã. O assunto provocou
desgaste nos meios financeiros e deixou muita gente em posição desconfortável,
mas as autoridades alemãs e europeias fizeram o necessário para não levar as
coisas até às últimas consequências.
A honestidade alemã foi ainda abalada
pelos negócios dos submarinos, pelo menos com Portugal e Israel. Já hoje há
evidência suficiente, incluindo judicial, para sabermos que não se trata apenas
de boato. Para vender os submarinos, a Alemanha, com conhecimento oficial e
participação privada, fez o que podia e não devia para corromper Estados,
políticos e militares.
A seriedade e o rigor da
indústria alemã foram destroçados com as fraudes automóveis da Volkswagen
destinadas a enganar os clientes e as autoridades ambientais do mundo inteiro.
Não foi acidente nem invenção fortuita de técnico atrevido: foi uma actuação
premeditada e minuciosa destinada a defraudar toda a gente! Os fabricantes de
automóveis destruíram a reputação e o prestígio alemães. As autoridades
colaboraram e tentaram diminuir os custos, sem o conseguir. Aos países
poderosos os fabricantes pagam milhões de indemnizações e multas. Nos Estados
Unidos, pagaram 25.000 milhões de dólares e retomaram 500.000 veículos. Aos
fracos e devedores (Portugal, por exemplo), os fabricantes limitam-se a reparar
o “software”…
A Alemanha soube fazer com que os
Europeus pagassem grande parte dos custos da sua unificação. A Alemanha
comunista foi admitida na União Europeia, sem aprovação pela União Europeia:
foi assim porque foi assim, porque a Alemanha quis e a França deixou. A
conversão do Deutsche mark comunista em Deutsche mark federal fez-se em termos
paritários, o que foi em grande parte financiado pelos europeus, excluídos da
decisão. Gostemos ou não, estes gestos foram políticos, revelaram força e
influência, não foram feitos por meios ilegais. Agora, a Alemanha está a dar
cabo de si própria!
DN, 6 de Agosto de
2017
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