quinta-feira, 31 de março de 2016

Luz - Vendedora de fast food, num stand de rua, em Beijing, China.

Clicar na imagem para a ampliar
O olhar orgulhoso da vendedora, quem sabe se em pose habituada, foi o ponto de atracção para esta imagem. Depois, foram os “pitéus”, entre cobras, larvas, casulos e vermes… Ainda me deixei tentar por um vizinho desta senhora, um que vendia espetadas com grande nacos de fruta fresca mergulhados em açúcar caramelizado… Mas esta bicharada… Nem pensar! Nem estes, nem as centopeias, aranhas, baratas, lacraus e escaravelhos gigantes oferecidos pelos outros vendedores! Fiz um passeio ao longo de dezenas de quiosques destes à procura de um ocidental, europeu ou americano que realmente estivesse a degustar aqueles bichos. Nem um! Alguns riam muito, faziam troça e fugiam. Outros ficavam amarelos ou pálidos e desapareciam. Outros, finalmente, gabavam-se de comer, de já ter comido, de que era fácil e de que era gostoso não fossem os preconceitos dos ocidentais… Mas, chegada a hora, nem um se atreveu! Não tinham apetite naquele momento, disse um alemão! (2014)

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Senhora “Rom” com criança, a pedir esmola, no Boulevard Saint Germain, Paris
O termo “Rom”, usado em várias línguas, não tem tradição em Portugal. Aqui, fala-se de Ciganos. Noutros países, diz-se “Gitans”, “Gypsies”, “Roma” ou “Romani”. Os Ciganos ou Gitans recusam o termo “Rom”. Este povo tem origem no Norte da Índia. Concentraram-se nos Balcãs, na Roménia, na Bulgária e na Turquia, mas há comunidades em vários países europeus, até nos Estados Unidos e no Brasil. Por todo o lado, já foram expulsos, perseguidos, gaseados, esterilizados e massacrados. Em geral, defendem-se lutando contra a integração e recusando alojamentos, escolas oficiais, legalização, serviço militar ou bilhete de identidade. Há ciganos mais ou menos cristãos, assim como mais ou menos muçulmanos. Há grupos estabelecidos, mas também há nómadas e ambulantes. Hoje, pela Europa fora, vindos da Roménia ou de qualquer outro país, são muitos os que fazem “biscates”, pedem esmola ou procuram sobras e restos. 
DN, 27 de Março de 2016

Sem emenda - Terror!

Os atentados de Bruxelas trouxeram mais intranquilidade à Europa. E uma insegurança cada vez mais funda, a tocar no coração e nos ossos. Foram feitas milhares de declarações. Até agora, nada de novo. Mas três ideias merecem comentário. A primeira afirma que o terrorismo veio para ficar. Não sei se é verdade ou não. Mas sei que recuso admitir essa inevitabilidade. O Ocidente deve tudo fazer para erradicar o terrorismo e eliminar os terroristas. Sem cedência! Se não nos resignamos à ditadura, à desigualdade, à corrupção, à pobreza e ao analfabetismo, não vejo razões para o fazer ao terrorismo, forma superior de selvajaria! Apesar das declarações firmes, fica-se com a estranha impressão que os Europeus não desejam combater os terroristas. Não digo que tenham medo, mas parece que se resignam a viver com eles. Será que têm sentimento de culpa? Entenderão que os terroristas têm uma qualquer razão? Por terem sido pobres há três gerações? Colonizados há dois séculos? Derrotados há mil anos?

A segunda ideia sugere que o terrorismo é provocado pelas condições sociais. Diz-se que onde há pobreza, desigualdade e desemprego, há condições para surgir o terrorismo. Mais ainda quando se acrescenta a segregação nacional: desempregados e imigrantes. Parece que o terrorismo tem legitimidade social! Esta ideia é uma espécie de ortodoxia. Mas, com o terrorismo islâmico, não resiste à análise. Na Europa, na América e noutros continentes, não se conhecem terroristas nas comunidades africanas, latino-americanas, chinesas ou indianas. Também não consta que os bairros de pobres de Espanha, de Portugal, da Grécia e da Roménia sejam fonte de terrorismo.

Uma terceira ideia sublinha, como causa do terrorismo, a situação marginal em que vivem os imigrantes. A falta de respeito pelas tradições dos povos imigrados, muito especialmente muçulmanos, conduz ao sentimento de dignidade ferida, condição favorável à escolha da “carreira” de terrorista como modo de afirmação do seu orgulho. Há mesmo quem aluda às Cruzadas, ao colonialismo e à escravatura. Nada disto merece uma fracção de segundo de reflexão. Estamos perante propaganda e demagogia para crentes. As “feridas históricas” são argumentos baratos de oportunismo intelectual. Os que acreditam nesta argumentação poderiam também esperar pelas 70.000 virgens. Há dezenas de povos que foram vítimas do colonialismo e não se dedicam hoje ao terrorismo. Há dezenas de povos que estiveram, ao longo da história, sucessivamente dos dois lados, o dos que faziam escravos e o dos que eram escravizados. Em todos conhecemos hoje os interesses, os meios, a vontade de domínio e o desejo de independência. Isto é, a política! A história, em qualquer caso, é sempre um belo argumento, nunca é a razão.

O terrorismo é essencialmente gesto político e intenção política. A situação individual do terrorista é questão menor. Os mandantes são políticos. Os meios, o “cérebro”, a organização e o recrutamento são políticos, apoiados por Estados e redes poderosas de organização. Mesmo os factores religiosos, tão importantes para o terrorismo islâmico, são instrumentais. O espírito e o carisma servem ao recrutamento, mas a acção é principalmente política.

Os países ocidentais têm culpa de muitas coisas, mas o terrorismo, de que são vítimas, não é uma delas. O terrorismo islâmico tem os seus responsáveis. São Estados, partidos e famílias. Servem-se das condições existentes nos meios imigrados para recrutar soldados rasos. Mas estes não são os responsáveis. Os bairros segregados fabricam terroristas, não fazem o terrorismo. Já há quem diga que a culpa do terrorismo reside nas políticas e nos governos da direita. Se de alguma coisa os governos europeus são culpados será eventualmente de não ter melhores polícias. E de não ter mais coordenação antiterrorista entre as várias polícias. Essas, sim, são culpas nossas.

DN, 27 de Março de 2016

domingo, 27 de março de 2016

Sem emenda - Moral e política


Sempre fizeram mau casamento. Quando uma, a moral, é invocada a propósito da outra, a política, é quase sempre mau sinal. Pode ser impotência da política, isto é, da justiça e da lei para pôr cobro a certas atitudes e determinados comportamentos. Também acontece ser sinal de despotismo ou de ambição totalitária: por exemplo, políticos que desejam impor um código moral de que carecem para os seus actos de governo. Poderá ainda ser, à falta de argumentos racionais, uma tentativa de impor regras por outras vias que não sejam as dos métodos políticos tradicionais, com o que se transforma a religião e a moral em instrumentos de poder. E já não me surpreende que, tantas vezes, os privilegiados e favorecidos reclamem “ética” e comportamentos “morais” para que os seus dependentes obedeçam e aceitem o estado presente e “natural”. Não me canso, finalmente, de ouvir, todos os dias, gente de várias gerações queixar-se da “falta de ética” e da inexistência de “valores morais” por parte daqueles que, simplesmente, têm valores diferentes e crenças diversas. Nas ruas, nas empresas, nas escolas, nos estádios de futebol, nos recintos de espectáculos, nas repartições, nos comércios e até nas igrejas, muitos que querem conservar e manter a ordem estabelecida reclamam contra a ausência de moral dos outros.

Por vezes, em certas circunstâncias, em determinadas épocas e em vários países, assiste-se a fenómenos ainda mais complexos, tais como o da presunção de que a política de alguém implica uma moral, uma cultura, uma ciência e uma visão de classe totalmente opostas à do outro. E que a verdade de um é incompatível com a verdade do outro. Melhor ainda: à verdade de um opõe-se, por definição, a mentira do outro. A moral de um é combatida pelo interesse do outro. E a honestidade de um é contrariada pela corrupção do outro. Estas são as raízes do fanatismo, político ou religioso. A que não são alheios fenómenos tão diversos como o sectarismo nacionalista ou o facciosismo desportivo.

O que se passa no Brasil, com Lula da Silva à beira de ser nomeado ministro, a fim de evitar ser preso por corrupção, e um juiz federal a tentar impedir aquele gesto, merece toda a atenção. Não para resmungar, mais uma vez, contra a “falta de valores” e a “ausência de moral”, mas sim para perceber o modo como as tribos políticas transformam em virtude não só as suas ideias, como também os seus interesses, os seus crimes e os seus roubos. No Brasil ou na Venezuela, em Portugal ou em Itália, políticos ou banqueiros, empresários ou sindicalistas, assumem a sua mentira e a sua corrupção como actos legítimos na defesa dos seus interesses e pontos de vista que são obviamente lícitos, contra os dos outros, que os combatem com meios evidentemente ilegítimos. Um governante que mente e rouba, um banqueiro que esconde e desfalca, um empresário que corrompe e disfarça, um gestor que favorece e dissimula ou um deputado que falsifica e engana, tem todo o interesse em demonstrar que os seus inimigos são, não a lei nem as instituições democráticas, mas os opositores, os outros partidos, as outras classes sociais, as outras nacionalidades. Por isso, os envolvidos nestes casos procuram, na imprensa, nas televisões e na rua, ganhar as batalhas que nunca venceriam na justiça. Por isso há bandidos que tentam vencer, com a política, o que nunca obteriam com a lei. Por isso, os grandes delinquentes consideram que a justiça e os magistrados estão “ao serviço do inimigo”.
Na América Latina e na Europa, lá como cá, não estamos diante de mais uma escaramuça, mas sim de um grave conflito de cujo resultado depende a democracia. A vitória desta última só pode ser ganha com a justiça. Não chegam as maiorias políticas. Nem os poderes sociais e económicos. Nem a força da rua.
.
DN 20 de Março de 2016

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Nicolau Breyner como José do Canto, em “Uma família açoriana”, com Maria João Luís – Há cinco ou seis anos, Nicolau Breyner assediou-me na rua. “Não quer fazer um guião para mim?”. Perguntei-lhe se estaria interessado numa série de televisão que a Maria Filomena Mónica e eu tínhamos escrito vinte anos antes e tinha ficado à procura de realizador... Disse logo que gostava de ler. Era na altura “Os Cantos”, que mais tarde viria a ser “Uma Família Açoriana”. Tínhamos uma condição: a de que o protagonista, José do Canto (na série Vasco Ataíde Câmara) fosse desempenhado por ele, Nico. Três anos depois, a série estava terminada. Feita pela Cinemate para a RTP, com realização de João Cayatte e direcção de Nicolau Breyner, foi exibida em 2013. Nicolau fez uma notável composição da personalidade complexa e contraditória de José do Canto. Tive o privilégio de acompanhar a rodagem em vários momentos. Aproveitei a oportunidade para fazer algumas fotografias e ver a maneira como ele, entre duas cenas, se preparava, entre o silêncio concentrado e a galhofa com os amigos.
.

DN, 20 de Março de 2016

Luz - Senhora às compras, na Piccadilly Arcade, em Londres

Clicar na imagem para a ampliar

Na zona de Piccadilly, há duas destas galerias, datam do século XIX ou do princípio do século XX, são ainda hoje de comércio muito sossegado e de lojas especiais: jóias, antiguidades, alfaiates, acessórios de vestuário, gravatas, luvas, meias, lingerie, prata, relógios e perfumaria. Há a Burlington arcade e a Piccadilly arcade. Esta última mais pequena, talvez mais exclusiva, certamente mais cara. Tem duas entradas, por Piccadilly e por Jermyn street (antiga rua de Londres, famosa pelos seus alfaiates e costureiros para homens). Foi inaugurada em 1909. (2015)