Na União Europeia, Portugal é o
quinto país, à frente de vinte, com mais médicos por habitante! Muito acima da média!
Quase o dobro do Reino Unido e do seu National Health Service!
Na UE e na OCDE, é o quarto país com
menos habitantes por profissional de saúde, melhor do que a média! Na União
Europeia, Portugal é o país com mais médicos de família por habitante. Mas é
verdade que também é um dos países com menos enfermeiros por habitante.
Na Europa, Portugal é um dos
países com menos camas hospitalares por habitante, está em sétimo lugar. Mas,
abaixo, estão por exemplo a Dinamarca, a Espanha e o Reino Unido!
Os vencimentos dos médicos estão,
em termos absolutos, entre os mais baixos da Europa. Em paridade de poder de
compra, estão na primeira metade, acima da média. Como parte do PIB, o total
dos vencimentos dos médicos está entre os mais elevados da OCDE. Isto é, os
médicos têm uma das maiores fatias do PIB. Ganham pouco, mas o PIB é muito
pequeno.
Em despesa pública e privada com
a saúde, por habitante, Portugal fica ligeiramente abaixo da média, atrás de
catorze países e à frente de onze. Mas, em percentagem do PIB, fica em sétimo
lugar, acima da média e à frente de mais vinte.
Com todos estes dados, é difícil
perceber por que razão há “falta de médicos” e filas de espera para consultas e
cirurgias.
As organizações mais credíveis
(UE, OCDE, OMS, INE) surpreendem-nos com observações favoráveis e elogiosas,
mas os partidos denunciam um verdadeiro inferno e os utentes queixam-se. A
esquerda diz que a direita “destruiu” o SNS. A direita garante que a esquerda
nada fez de jeito em três anos.
Pelas más razões, a saúde está de
novo no centro do debate político e das tensões sociais. O tempo e as filas de
espera aumentam. Os custos sobem, os preços também. O orçamento não chega. O
défice cresce. Há luta de classes no sector.
Tudo leva a crer que a saúde
esteja em crise. Não se conhecem bem as causas, mas parece que tem havido menos
investimento. Só que não se sabe se isso é realmente importante. A diminuição
de investimento não parece ter sido assim tão grande. E convém não esquecer que
a saúde é há muito considerado o sector de actividade onde há mais desperdício
e pior gestão.
O debate político sobre a saúde e
o Serviço Nacional de Saúde está a ficar insalubre. Com a aproximação de mais
um orçamento, do ano eleitoral e da revisão das alianças, os nervos estão
tensos. Os ânimos ficam exaltados e a reflexão simples.
Esquerda e direita pensam menos.
A primeira é totalmente a favor do Estado e contra os privados. A segunda é o
contrário. O que não parece ajudar muito. Este clima não é propício ao rigor
dos factos e do diagnóstico. Concretamente, não se sabe por que razões o país
tem tão bons indicadores quantitativos (médicos, hospitais, camas, equipamentos,
consultas, urgências), alguns muito bons resultados (esperança de vida,
mortalidade infantil, vacinações) e tão maus índices de qualidade (espera,
acidentes, desigualdades, preços dos medicamentos, horrendas condições de
espera e atendimento nos serviços públicos).
Será que um dia, como já
aconteceu duas ou três vezes desde 1974, poderemos voltar a tratar da saúde sem
fanatismo político? Será que se poderá olhar a sério para a organização dos
hospitais? Para a exigência de condições decentes de atendimento? Para as horas
de serviço dos médicos e dos enfermeiros? Para a necessidade de estabelecer a
exclusividade de funções? Para os efeitos nefastos da acumulação de funções
públicas e privadas de tantos profissionais? Para a inflação de custos de
medicamentos e equipamentos? Para a diminuta prestação de cuidados continuados
e paliativos e de cuidados aos idosos e doentes no domicílio? Para o facto de
os blocos operatórios funcionarem poucas horas por dia, muito abaixo dos
padrões de segurança e eficiência?
Sem a estupidez do fanatismo
político, a saúde e o Serviço Nacional de Saúde poderiam ser a mais formidável
realização da democracia portuguesa.
DN, 29 de Abril de
2018
1 comentário:
Os médicos são como os "tascos", São muitos, mas tem sempre fregueses. Depois o português é desconfiado e gosta de "tirar pareceres" noutros médicos (é como na tasca a tirar a prova de cada casco,) só que no caso do SNS é de borla ou quase. Lusitano doente acolitado por familiar chegado que se preze, gosta de ir desencarnar num hospital do SNS, pois tem médico á cabeceira e enfermeiro aos pés comida , lençois lavados e água quente "a borliu",a pedido dos familiares, que em casa não tratam deles mas no SNS tudo exigem como "direitos", sem ter que lhes fazer o comer e a higiene. Pois a hotelaria do SNS essa é absolutamente de borla. Além de que um hospital é muito animado e dá muito consolo e práctica ao acompanhante do enfermo, que vai assim tirocinando o seu futuro, como previsível hospedeiro do SNS
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