domingo, 10 de junho de 2018

Sem emenda - Mistérios por desvendar

Hoje é Dia de Portugal! Dia das Comunidades! Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas! Dia da Raça! Dia da Raça portuguesa! Dia de Camões! Cada designação vale um regime, um tempo e uma moda. Uma boa maneira de comemorar o país seria conhecer melhor e estudar mais. E desvendar mistérios.
Onde estão realmente as fontes da profunda desigualdade social em Portugal? Na lei? Na propriedade? Nos sistemas de sucessão e herança? No fisco? Nos costumes? Na religião? Na falta de liberdade? No analfabetismo? Na pobreza? Por que razões Portugal é mais desigual do que países com menos rendimento (Polónia, Roménia), parecidos (Grécia e República Checa) e com mais rendimentos (Reino Unido, França)?
Por que razões a mobilidade social é tão reduzida em Portugal? Por que é tão difícil “subir na vida”? Por que motivos o crescimento do produto, tão impressionante nos últimos quarenta anos, teve tão pouca influência na diminuição dos graus de desigualdade?
Por que motivos teve Portugal taxas de analfabetismo únicas na Europa em 1900 (80%, contra 2% a 10% nos países do Norte) e até aos anos 1960 (mais de 35%)? E ainda está hoje em último lugar entre todos os países industrializados? Onde estão as causas? Pobreza? Catolicismo? Ausência de Reforma? Atraso geral? Ignorância das elites? Ruralidade? Falta de indústria? Fraqueza da sociedade civil? Centralismo do Estado?
Como se explica o facto de a Justiça em Portugal não se ter reformado nem modernizado depois do 25 de Abril? E por que razão foi tão difícil ou impossível a Justiça adaptar-se à democracia, ao Estado de Direito, à integração europeia, ao capitalismo e à economia de mercado?
Quem são hoje os militares em Portugal? Que influência têm na sociedade e na política? Que pensam dos assuntos públicos? Exercem cargos ou funções de poder? Serão simples burocratas ou funcionários públicos? São meros contratados? Há que recear alguma intervenção política dos militares nos próximos anos? Ou há que desejar uma sua intervenção?
Como se explica o facto de não haver liberalismo em Portugal? Nem liberais? Nem partidos liberais? E o facto de “liberal” ser mesmo um insulto político?
Por que nunca se contou, com investigação rigorosa e completa, a história das reprivatizações em Portugal, com passagens de pessoal dos partidos para as empresas e vice-versa, com homens de palha e testas de ferro  dos partidos que eram mandatários de capitalistas, com “barrigas de aluguer” da política portuguesa que serviam de intermediários de aventureiros que não podiam concorrer directamente? Por que ainda não se fez um verdadeiro “Gotha” dos governantes, deputados e gestores que fizeram carreira na política, nos partidos, nas empresas públicas e depois, alternada ou sucessivamente, nas empresas privadas que eles próprios reprivatizaram?
Por que não se sabe realmente o que se passou com as escutas telefónicas (relativas a Sócrates) mandadas destruir por Noronha do Nascimento e Pinto Monteiro? Quem ficou a ganhar com tal destruição? Se não tinham importância, por que foram destruídas? Se eram muito importantes, por que se destruíram? Por que se diz hoje com tanta insistência que, afinal, não foram destruídas?
Quem foram os responsáveis pela quase destruição do BCP, da PT, da CIMPOR, do BPN, do BPP, do BANIF?
Como foi realmente possível fazer um buraco de mais de 5 mil milhões no BPN? Onde está esse dinheiro? Como foi possível fazer um buraco de mais de 9 mil milhões no Grupo Espírito Santo? Onde está esse dinheiro? Como foi possível que, já depois da “resolução”, ainda tivessem fugido do BES mais de três mil milhões de euros?
Quanto é que a CGD gastou, empatou e perdeu em negócios estranhos levados a cabo por decisão política, designadamente no BCP, no BES, no GES, no BPN, no BPP e na PT?
Por que nunca se fez um “atlas” ou um elenco completo de todas as Parcerias Público Privadas, uma a uma, com indicação dos beneficiários, dos bancos envolvidos, dos sobrecustos suportados pelo Estado, dos riscos atribuídos sempre ao Estado e dos benefícios sempre concedidos às das empresas privadas?


DN, 10 de Junho de 2018

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