Grande Europa! Bela Europa! Europa complexa e difícil! Europa forte e frágil, vulnerável e resistente! Europa quase sempre em risco diante do adversário de fora, do inimigo vizinho e das ameaças de dentro! Europa a viver um dos seus mais difíceis momentos da história recente, depois da segunda guerra, Europa com guerra ao lado da sua União, às suas portas, dentro do seu continente! Europa sempre a sofrer dos ataques dos seus tradicionais inimigos, dos impérios que a rodeiam! Europa que criou, adoptou ou desenvolveu, mais do que qualquer outro continente, o que de melhor a humanidade fez na história, das artes à ciência, da cidade ao campo, das viagens aos descobrimentos, da máquina ao espírito, da democracia aos direitos humanos, da liberdade à diversidade humana!
A Europa que hoje foi a votos é uma Europa ferida, amedrontada, perseguida, frágil por dentro, vulnerável por fora, invejada, atacada e ameaçada. Será que a Europa tem os meios suficientes para resolver e superar as crises que criou, as que deixou criar e as que lhe trouxeram de fora?
Estas eleições permitem todas as leituras, nacionais e europeias. Conforme os países, as direitas ganharam e perderam, as esquerdas perderam e ganharam. Algumas extremas-direitas subiram, outras desceram. Aumentou a fragmentação política da Europa, alargou-se a diversidade das comunidades nacionais e ficaram ainda mais marcadas as diferenças políticas entre países. Confirma-se uma vez mais que a fraqueza da Europa, a sua diversidade, as suas diferenças e os seus contrastes, é a sua riqueza, o que faz do continente uma civilização invejável.
Confirmou-se que as ameaças actuais são das mais graves que a Europa conheceu nas últimas décadas. As percepções europeias das migrações são perturbadoras. O receio de desordem interna aumenta. Os sentimentos nacionais sentem-se ameaçados. A agressividade nacionalista procura caminhos. A Europa está ameaçada pelo afastamento americano. A Europa está posta em perigo pelo imperialismo agressivo russo. A Europa está fragilizada pela guerra no Próximo Oriente. A Europa não tem defesa capaz, nem unidade à altura dos grandes cionflitos. A Europa perdeu grande parte da sua indústria e da sua energia. A Europa… ou se refunda ou se destrói.
A Europa é uma obra de arte de política, de engenho, de cultura e de civilização. Mas é frágil porque se deixou acomodar. Será a Europa capaz de resolver os problemas que criou e que deixou que a viessem perturbar? Será que a democracia é capaz de resolver os problemas que ela própria criou? Estas últimas eleições europeias nada resolveram, não definiram caminhos, não encontraram soluções. Mas avisaram! Chamaram a atenção! Os Europeus têm poucos anos, muito poucos, para encontrar o seu caminho, a sua defesa, a sua unidade e o seu programa. Têm poucos anos, muito poucos, para consolidar a sua diversidade, sem destruir a sua história. Para refundar a sua dimensão continental, sem perder de vista a sua variedade nacional. Para reforçar a sua liberdade, sem perder o seu espírito.
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Público – 9 de Junho de 2024
2 comentários:
«Mas é frágil porque se deixou acomodar.»
Deixou-se acomodar a quê?
- A que o culto da igualdade, lhe mantém o poder e a riqueza construídos pela diferença?
- A que por ter feito cruzadas, deve dar lugar aos inimigos dos valores da cruz?
- A que não se preparando para a guerra, garantirá a paz?
- A que por colonizadora se deve deixar colonizar?
- A que o respeito da Liberdade requer tudo consentir?
Pois está viva e seguirá vivendo. A cada momento veremos como ou de que forma!
Obra da arte política foi sem dúvida. Nos tempos idos em que a política era assente em ideais, guiada nestes e aplicada num propósito maior que o umbigo do líder/político. Hoje, esta obra da política, mais não parece que um meio para partilha dos despojos por quem toma o poder.
Por princípio quem se acomoda estará consciente. Não me parece o caso. Não me parece porque, à parte dos milhares de milhões canalizados para desenvolver e dinamizar a industria dos semicondutores, vejo:
- uma continuada acção baseada na reacção. Ausência de um plano, desígnio ou estratégia próprios.
- um contínuo floreado entre os discursos e as práticas.
- a menorização das diversas línguas e toda a capacidade crítica, que cada uma delas aporta, face ao inglês. Colonização da língua.
- um "green deal" preparado como a estocada final no sector secundário e o carrasco do primário.
- toda uma classe dirigente e académica, insistindo na receita falhada, a roçar o niilista e num culto hedonista.
Portanto haja alegria, confiança e capacidade de sofrimento ... "go forward"!
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