Quem? O Partido Socialista, com certeza. Em certa medida, merece. Depois de tantas derrotas (Tancos, incêndios, Sócrates, declínio dos serviços públicos, corrupção, famílias no Estado, investimento insuficiente e endividamento crescente), é uma grande vitória os Socialistas terem resistido. Os eleitores não consideraram negativamente aquelas derrotas. Também é verdade que, depois de um êxito tão grande na estabilidade do governo, na paz social, na queda do desemprego e no aumento de rendimentos, é evidentemente uma derrota política não ter vencido com maioria absoluta.
Porquê? Porque o PS teve jeito e sorte, porque a economia ajudou e o turismo também. Porque a economia europeia soprou a favor. Porque o governo soube aproveitar alguns ventos. Porque as oposições tiveram um comportamento desastrado. Porque a direita portuguesa, no seu conjunto, atinge fasquias da sobrevivência, na linha de vida. E porque, com ou sem razão, os eleitores preferem as esquerdas, que, parece, lhes dão mais benefícios.
Com quem? Na legislatura anterior, o PS não tinha escolha: precisava de todas as esquerdas. Agora, tem. Pode governar sozinho, à bolina, com terra à vista, de lei em lei, saltitando entre as esquerdas ou entre a esquerda e a direita, o que será mau para o país. Ou pode governar com um, dois ou três. Já não basta ser hábil, é necessário ter uma política, um carácter e um objectivo. Já não é suficiente ficar com quem mais convém, mais promete facilidades ou mais se prepara para cedências. Com uma legislatura nacionalmente difícil e internacionalmente muito complexa e perigosa, será melhor ter uma solução consistente, de compromisso e de responsabilidade.
O quê? Todos têm centenas de promessas. Como todos, o PS também tem dezenas de prioridades e outros tantos “planos nacionais” e “estratégias nacionais”. Escolher para governar vai ser difícil. Sobretudo porque se trata da segunda legislatura. Mas é difícil contestar a ideia de que as grandes prioridades são mesmo a Justiça e a corrupção. E logo a seguir o investimento.
Para quê? Esta é a questão mais difícil. O PS partilhou, com quase todos os candidatos, a atitude ignorante que consiste em ignorar o mundo e a Europa, em não ter uma qualquer ideia clara sobre um e outra. Portugal não pode, evidentemente, ter uma voz mais forte do que os outros, não deve julgar que está sozinho no mundo, nem se lhe permite imaginar que a Europa e o mundo devem a Portugal o que quer que seja. Mas não se admite que os dirigentes políticos portugueses se limitem a negociar as margens e os restos, ou a deixar os europeus tratar de nós.
E depois? Esta foi a mais elevada taxa de abstenção da história da democracia portuguesa. Quase metade da população não votou nem se interessa pela política. É bom pensar nisso.
Público 7 de Out 19
2 comentários:
a abstenção também conta com muita desactualização dos cadernos eleitorais e o PS ganhou porque os portugueses tendem a beneficiar quem está no poder
e paz social com tantas greves? do sector público
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