As gruas abraçadas – As gruas “Poderosa” e “Vigorosa” residem nas docas
do Poço do Bispo, em Lisboa. Têm mais de trinta anos. Funcionam
perfeitamente. Foram construídas em Portugal, pela Mague, empresa que
desapareceu na voragem da revolução, do socialismo e do capitalismo. As gruas são
especializadas em cargas a granel. Vão de batelão ao largo, carregam e
descarregam mercadorias. Têm uma mecânica antiga e interessante. São bonitas e
arrasam os guindastes modernos e os pórticos para contentores. Os estivadores,
homens sensíveis, deixaram-se há muito seduzir e deram-lhe aqueles maravilhosos
nomes, que pintaram no eixo principal. Depois de terminadas as suas tarefas, no
Mar da Palha, regressam ao seu poiso, encostadas ao cais, cruzadas uma com a
outra. Ao fim de algum tempo, as duas gruas transformam-se em imagem familiar. A
sua posição tem algo de afável. Quem sabe se acolhedor, termo aqui inesperado. Há
quem diga que, naquela posição, as duas gruas fazem lembrar, estilizados, os
corvos de Lisboa! Está tudo certo!
DN, 25 de Fevereiro de
2018
Sem comentários:
Enviar um comentário