quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Luz - Carroça Azambuja

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Perto da Azambuja, próximo de um sítio chamado a Vala Real, existe uma ruína conhecida como o “Palácio”, mas que é de facto o resto de uma antiga Estalagem e Mala-posta. Quem ia para o Norte, saindo de Lisboa, ia de barco até aí, onde pernoitava. De manhã, no dia seguinte, seguia de diligência para o Norte. O local e a função são mencionados por Almeida Garrett nas “Viagens na minha terra”.Trata-se de um enorme e bonito edifício, hoje reduzido a uma ruína só com paredes. A poucos metros de distância, um braço do Tejo. O sítio é todo ele de grande beleza e serenidade. Quando nos aproximamos, vemos duas entradas, uma bordada de palmeiras (é a que vemos na imagem), outra de eucaliptos. Deveriam ser socialmente distintas. Sei que houve já várias tentativas de recuperar o edifício e o local. Por mim e por uma vez prefiro que não lhe toquem. Não vale a pena trazer para ali pizzas e frangos no churrasco, muito menos “spas” e competições desportivas. Na primeira vez que lá estive, algo aconteceu de miraculoso. Passeava entre as palmeiras quando ouço ruídos. Volto-me para trás e vejo esta carroça, saída do fundo dos tempos. (1979).

7 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

O texto que acompanha esta fotografia foi usado como pretexto, no Sorumbático (blogue onde António Barreto é contribuidor), para um "passatempo com prémio" que termina às 20h de amanhã. Ver [aqui]

António Viriato disse...

Tem piada. Quando comecei a ler este texto, saltou-me logo à cabeça o livro do Garrett, que depois surge também mencionado.

Garrett, se bem recordo, ao longo do livro, vai emitindo alguns remoques, a respeito dessa sede de progresso que, já no seu tempo, se fazia sentir de um modo talvez até mais insistente do que na actualidade.

Também então, a crença nas Luzes do Progresso e nos seus inevitáveis benefícios materiais eram enormes.

A Religião seria rapidamente substituída pela formação científica, que daria ao Homem uma confiança ilimitada na libertação da Humanidade : do flagelo da fome, da doença, da miséria, da ignorância, etc.

Passados quase 200 anos, vemos muito progresso material, mas escasso aperfeiçoamento do Homem, a mesma sede de Justiça e idêntica repulsa pela desigualdade económica dos cidadãos, sem que queiramos, todavia, o nivelamento maoísta, na miséria comum, como nos idos de 1960 alguns iluminados, como Sartre, procuraram inculcar, como ideal, nas cabeças dos ufanos europeus subitamente aburguesados.

Daí que nos tenhamos de precaver contra certos intelectuais ou pensadores, que, debaixo da sua poderosa lógica argumentativa, são capazes de sepultar metade da Humanidade sem derramarem uma lágrima sequer.

A que contraditórios pensamentos somos conduzidos, sempre que reflectimos no Progresso da Humanidade !

Peço desculpa pelo excurso, mas o texto comentado tinha este sestro ou assim eu o senti.

Continuação de boa inspiração, nos textos e nas fotografias.

Um seu leitor antigo, atento, por vezes crítico, mas, no fundo, porque não dizê-lo, grato também.

António Jorge Lopes disse...

Com a devida vénia, linkei este post no Discurso Directo.

Com os melhores cumprimentos,

António Jorge Lopes

António Barreto disse...

Prezado António Viriato,
Obrigado pelo seu comentário. Apesar de as exprimirmos de modos diferentes, temos ideias afins sobre o "progresso". Basta olhar para exemplos reais. Por exemplo, as vacinas, o computador e o cinema estão do lado positivo do progresso. O modo de tratamento dos idosos, o ruído no espaço público e o tempo de deslocação de casa ao trabalho estão certamente no outro...

Rui Moio disse...

Este texto trasportou a minha memória para uma passeio que dei para os lados da Azambuja há duas ou mais décadas. Havia aí um palácio alto em ruínas e perto uma vala. Talvez a vala da Azambuja. De repente oiço o buzinão de um vapor,pooooo e, debruço-me para a vala com margens perigosas cheias de vegetação selvagem. Era um navio grande antigo, subia apertado aquela vala e passou rápido a poucos metros de mim. Que lugar encantador, sombrio, onde se adivinhavam fantasma e, depois, o surgir inesperado daquele barco enorme num espaço que para mim era impensável haver barcos! Nunca mais lá voltei e, nem sei o caminho directo. Como gostava de lá voltar e encontrar tudo na mesma!...

António Barreto disse...

Caro Rui Moio,
Era exactamente o mesmo sítio. Esta avenida, entre palmeiras, é paralela à Vala da Azambuja. Há dois anos, voltei lá pela quinta ou sexta vez. Estava quase tudo na mesma. Um pouco mais arruinado. Um pouco mais sujo. Mas com o encanto essencial.

A Voz de Al Canaitra disse...

Venho deste modo, informar que utilizei a foto no artigo que escrevi Ver Aqui. Obrigado e um bom artigo!