quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Luz - Homens aos cestos

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Depois de despejadas as uvas nos lagares, os homens regressam às vinhas para recomeçar. Cada cesto tinha entre 60 e 70 quilos de uvas. A subir e a descer os montes e os socalcos, a caminhar em cima das pedras de xisto a arder, tudo isto com 30 ou 40 graus de calor e durante alguns quilómetros, era um enorme esforço! À noite, estes mesmos homens ainda iam fazer duas ou três horas de pisa de uvas, a pé, nos lagares. Todas estas imagens passaram para a literatura turística, sendo geralmente estes homens representados com um imenso sorriso! Pareciam levitar de prazer e folclore! Na verdade, tratava-se de um dos mais penosos trabalhos que se fez na agricultura de qualquer parte do mundo! Hoje, já quase não se repete esta cena. Os “cestos” são muitas vezes de plástico e com menos de trinta quilos. Entre as vinhas, tractores ou camionetas esperam pelas caixas, já não é necessário aquele calvário! (1979).

3 comentários:

Gonçalo Rosa disse...

E quando se fala, com um misto de grande mágoa e preocupação, em abandono agrícola, esquece-se muitas vezes que esta foi durante décadas suportada por trabalho "escravo", pago por diárias verdadeiramente miseráveis. Em boa medida, era essa agricultura de subsistência que existia um pouco por todo o país e que, sem aqueles pressupostos, tem dificuldade em competir numa economia aberta, global.
E hoje, quando dizemos "isto nunca esteve tão mal", esquecemo-nos de todos aqueles que passaram "as passas do Algarve" para conseguir comer...

António Barreto disse...

Partilho o seu ponto de vista. Muitas vezes lamento o abandono da agricultura e das pescas (e da floresta), assim como a "troca" que foi feita, junto da União Europeia: fundos para a indústria e as estradas, mas limites à agricultura. E sobretudo pouca formação, pouco regadio, pouca reconversão. Chegou-se ao ponto, como sabe, de pagar para não produzir, pagar para abandonar. Mesmo assim, a passagem para a indústria e os serviços tem algo de progresso e "liberta" os homens e as mulheres desse trabalho de "escravo", como você diz. Em toda a minha vida, o que vi de mais violento, mais cansativo, mais penoso e mais miserável foi sempre o trabalho agrícola. Mas sabemos hoje que é possível trabalhar na agricultura e nas pescas sem esse esforço, sem esse "calvário". Infelizmente, para Portugal, para a maior parte do território, é já tarde de mais.

Zé Bonito disse...

De facto, parece ser tarde de mais. Talvez tenha começado a ser tarde, precisamente quando a agricultura que nos é possível fazer, passou a ter algum sentido. De facto, a agricultura intensiva viveu desse quase trabalho escravo- não tínhamos condições para mais e o que fizemos dependeu muito do "proteccionismo" salazarista. Mas hoje, na era do pleno mercado global, interrogo-me se não faz sentido uma agricultura mais virada para a protecção das especificidades regionais, com produtos de elevada qualidade, mas produzidos em menor quantidade. Veja-se a evolução verificada na produção vinícola, na produção do azeite. Não seria possível fazer o mesmo nas outras áreas? Produtos não faltam. Talvez comece a faltar a terra... Se calhar, era o momento certo para aproveitar, enquanto a especulação imobiliária está tolhida... pela crise.