MANUELA FERREIRA LEITE foi eleita. Pode prever-se seriedade, estudo, trabalho e responsabilidade. Pouca demagogia, também. O resto não se sabe. Com este modo de eleição directa dos líderes, prática populista e demagógica, tem de se esperar pelo congresso para ver a equipa dirigente e o programa. E para avaliar as reacções dos seus opositores. Logo se verá se Ferreira Leite tem condições para governar o partido. São muito altas as probabilidades de dissidência e cisão. Mas qualquer previsão é, por enquanto, arriscada.
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Não se pode é esquecer que Ferreira Leite não tem assento no Parlamento. O que lhe diminui fortemente a margem de acção. Além disso, os deputados foram eleitos por outra direcção. O que agrava as coisas. Mas esta é uma quase tradição nesta democracia tão pouco parlamentar. Na verdade, é longa a lista de chefes de partido que, durante todo ou parte dos seus mandatos, não tinham cadeira no Parlamento, nem tinham sido previamente eleitos: Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Vitor Constâncio, Jorge Sampaio, Freitas do Amaral e Paulo Portas estiveram nessa situação! O que faz pensar sobre a função e a natureza dos partidos.
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PROSSEGUEM AS GREVES e as manifestações. Funcionários públicos, professores, enfermeiros, pescadores, automobilistas, camionistas... O mal-estar social é evidente. A grande manifestação de Lisboa atingiu uma dimensão surpreendente. Mas o governo despreza manifestações e números. Diz o Primeiro-ministro que só os argumentos lhe interessam, não os números. Coitado! Não sabe que as manifestações e os números são argumentos.
A evolução económica não dá sinais de melhoria. Nem agora, nem a prazo. Sócrates e Pinho continuam a divulgar, todos os dias, as dezenas e centenas e milhares de milhões de euros de investimentos estrangeiros, nacionais e do Estado. Parece que nunca mais acabam. Mas a verdade é que a alegada cornucópia é muito inferior ao necessário. E as obras públicas, necessárias ou inúteis, continuam a ser o principal recurso desta economia frágil e destas políticas económicas de curto prazo.
A evolução económica não dá sinais de melhoria. Nem agora, nem a prazo. Sócrates e Pinho continuam a divulgar, todos os dias, as dezenas e centenas e milhares de milhões de euros de investimentos estrangeiros, nacionais e do Estado. Parece que nunca mais acabam. Mas a verdade é que a alegada cornucópia é muito inferior ao necessário. E as obras públicas, necessárias ou inúteis, continuam a ser o principal recurso desta economia frágil e destas políticas económicas de curto prazo.
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AO MESMO TEMPO que se ouvem declarações messiânicas sobre as novas fontes de energia e a poupança de combustíveis, anunciam-se mais auto-estradas, pontes e viadutos. A mão esquerda castiga o automóvel, a mão direita protege e incentiva o automóvel. Prepara-se o fecho definitivo da linha de comboio do Tua, assim como do troço do Pinhão ao Pocinho, na linha do Douro. Mas anuncia-se a construção de um túnel luxuoso e pouco útil sob o Marão, ao preço de perto de 400 milhões de euros. Será, dizem o governo e os construtores concessionários, o maior de Portugal!
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ENTROU FINALMENTE em fase de julgamento o caso de um vendedor de apartamentos de um condomínio na Ajuda, em Lisboa. O queixoso ficou sem o sinal e não aceitou um apartamento que não correspondia às condições contratuais. Nada de anormal, até aqui. Acontece apenas que o julgamento começou 12 anos, digo bem doze anos, depois da ocorrência dos factos. Quantas vezes estes “faits divers”, escondidos num canto de uma página de jornal, são um retrato rigoroso e verdadeiro do país!
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A RTP PROSSEGUE na sua via de renovação e de criação de uma televisão mais popular, mais moderna e mais jovem. Perde audiências, assim como alguns dos seus funcionários e artistas, mas descobre novos valores. A última novidade é um programa intitulado “Telerural”. Passa às terças-feiras, às 21.00, a seguir ao jornal, no melhor horário possível. É mais uma demonstração de populismo grosseiro e de desprezo puro pelas populações e pela decência. O programa pretende parodiar um canal de televisão de um município rural, o “Curral das Moinas”. É ordinário como poucos. Os textos e as graças são de uma boçalidade quase inédita. Reina a obscenidade e a piada grossa. O programa foi feito à imagem, não das populações rurais, mas do pior da RTP. Alegrem-se os optimistas: esta concepção de serviço público teve mais de um milhão de telespectadores!
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PARECE UMA METÁFORA para os tempos que correm. Por iniciativa de japoneses amigos de Portugal, com a ajuda dos respectivos diplomatas, criou-se em Lisboa um “jardim japonês” feito de cerejeiras vindas daquele país. Foi há dois ou três anos. Ali à beira Tejo, junto dos restos da antiga Exposição do Mundo Português, perto de um farol, foi instalado um jardim feito de estranhos mas bonitos montículos de terra semeada de erva. No cimo dos montículos, foram plantadas cerejeiras, árvores especialmente cultivadas no Japão. Cada árvore foi plantada com todo o cuidado, amarrada a uma estaca, regada e tratada. Na altura, fiquei radiante. E tentei antever a beleza que seria aquelas árvores todas em flor! Estava tudo perfeito. A atenção ao pormenor era de rigor. O melhor de Portugal associou-se a este empreendimento: governo, câmara, administração portuária, instituições públicas, as mais importantes fundações do país, as maiores empresas portuguesas e algumas das mais conhecidas empresas japonesas. Há três anos que espero que as árvores cresçam e apareçam as primeiras flores e cerejas. Nada! Nenhuma cresce. De um total de cerca de 400 árvores, só três mostraram meia dúzia de miseráveis folhas ressequidas sem futuro nem desenvolvimento. As restantes estão irremediavelmente secas e mortas! Ou parecem. Fui saber. Quem sabe explicou-me. Primeiro, naquele sítio, com aquelas condições de clima e temperatura, com o sal marinho, a vento e a humidade (e a salsugem), só um milagre faria florir e crescer as cerejeiras. Houve quem alertasse, na altura, mas as opiniões científicas foram consideradas cépticas e ignorantes. Segundo, as plantas, quando chegaram do Japão, estiveram uns meses à espera que a Alfândega as deixasse entrar! É assim! Não se aprende nada!
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«Retrato da Semana» - «Público» de 8 de Junho de 2008
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