domingo, 30 de agosto de 2015

Luz - Fast food numa rua de Beijing

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Eram nove da noite. Fomos passear a pé, ver o movimento, a agitação era grande e o clima afável. Numa larga e moderna avenida de Beijing, onde se situam pelo menos dez hotéis de luxo e de cinco estrelas, assim como várias dezenas de lojas de grande luxo (Cartier, Prada, Louis Vuitton, Versace, assim como as populares Zara e Beneton), aparece, de repente, uma longa fila de stands de comida para levar ou comer ali, comes e bebes, “fast food”… Eram talvez duzentos stands, todos iguais, com número e nome dos responsáveis, com pessoal vestido da mesma maneira, com os mesmos bonés e aventais! Stands iguais, mas especializados nos seus petiscos. Provei umas deliciosas espetadas de fruta ao natural, outras com fruta mergulhada em açúcar caramelizado: óptimas! Quando comecei a ver comidas mais sólidas e espetadas mais problemáticas, percebi que estávamos em mundo diferente. Além da fruta, as espetadas podiam ser de pedaços de carne (talvez de porco) ou de inofensivos camarões e similares, mas também de ouriços, baratas gordas ou afins, cobras, lagartas, centopeias, aranhas e escorpiões. Dei “hossanas” ao relativismo cultural gastronómico, elogiei a diferença e a tolerância, lembrei-me dos nossos passarinhos fritos, dos caracóis, das pernas de rãs, das tripas e do arroz de cabidela… Mas virei as costas àquela bicharada toda e fui comer massa chinesa num restaurante vulgar e sem graça! (2014)

domingo, 23 de agosto de 2015

Luz - O “ninho” dos desportos Olímpicos, o estádio de atletismo em Beijing

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O seu nome completo é “Ninho de Pássaro”. Tem a capacidade para 80.000 espectadores. Ali se realizaram as provas de atletismo e algumas de futebol. A sua construção terminou em Março de 2008, a tempo dos Jogos de Verão desse mesmo ano. O estádio é muito curioso e a sua arquitectura interessante. Talvez não seja muito diferente de outros similares, mas conheço poucos. Os seus arquitectos foram os suíços Herzog e De Meuron, associados a grandes empresas multinacionais e chinesas. A concepção estética e formal depende de princípios e de “fórmulas” complexas, como sejam as oposições entre o bem e o mal, entre o caos e a ordem e entre o Yin e o Yang. É verdade que a assimetria, dentro de um conjunto aparentemente harmónico, é atraente ou pelo menos desperta a curiosidade. Nesta imagem, vêem-se três ou quatro vendedores de qualquer coisa, incluindo uma, no primeiro plano, que vende fotografias dos visitantes, mostrando uma espécie de exemplos dos planos possíveis para o cliente fotografado com o ninho atrás! Mas repare-se na maneira como está vestida! Como ela, havia mais umas dezenas ali à volta. Boné, cachecol, lenço, véu, Estrela Vermelha, camuflado… Tentei perceber as razões deste disfarce ou deste uniforme. Só obtive uma informação para o lenço na boca: protecção contra a poluição de Beijing, geralmente elevadíssima, mas naquele dia, por sorte a minha, quase inexistente. Como se pode ver pelo céu pelas cores e pelos objectos… (2014)

domingo, 16 de agosto de 2015

Luz - Stand de relógios na avenida dos Jogos Olímpicos, em Beijing

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Esta avenida, que leva até aos grandes pavilhões de natação e ao famoso “ninho”, o estádio olímpico, assim como a outros equipamentos olímpicos, é muito longa e larga, tendo por todos os lados centenas de stands, mesas e quiosques de todos os feitos. Muitos deles são simples mesas, como esta aqui. As vendas de relógios são das mais populares, logo a seguir às de capas de telemóveis. Parei diante de algumas e estive a ver as marcas. Rolex, Tag Heuer, Longines, Ómega, Vacheron, International Watch… É o embaraço da escolha! Os preços variam entre 5 e 30 dólares, mas os mais caros, bem conversados, podem sair por 10 ou 12 dólares! Vi um senhor europeu comprar vinte! E um casal chinês que levou dez! Esta mesa era especializada em desenhos esquisitos no mostrador e atributos mais adolescentes. (2014)

domingo, 9 de agosto de 2015

Luz - A escadaria de São Bento em dia de manifestação, Lisboa

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Ao fim da manhã, era assim: praça quase deserta, nenhum sinal de desordem ou de multidão. Um pai atravessa a rua com a filha, ordeiramente, pela passagem de peões. Quatro polícias zelam pela tranquilidade dos locais e defendem a integridade do Parlamento, a casa da democracia. Não é que se veja ou sinta, mas há qualquer coisa nesta imagem que revela tensão. O “silêncio” e a falta de ruído iconográfico (poucas pessoas, pouco movimento, pouca confusão…) sugerem uma ansiedade. A presença dos agentes da polícia diante de nada ou de ninguém obriga-nos a pensar no que virá a seguir, nas possíveis tempestades. Algo se prepara e a polícia parece preparada. Horas depois, assistiríamos a uma das manifestações mais estranhas e mais difíceis na história da democracia portuguesa. Uns milhares de polícias e guardas manifestavam-se ruidosamente contra o governo e alertavam o Parlamento. A um momento dado, os polícias manifestantes quiseram dizer aos poderes que, se quisessem, podiam invadir o Parlamento e ir até onde lhes apetecesse. Os polícias de serviço ainda tentaram resistir, mas foram submersos e empurrados. Em poucos segundos, os manifestantes galgaram barreiras e subiram as escadas. Só pararam onde quiseram, à beira dos últimos degraus do Parlamento. O recado foi dado. Os poderes estabelecidos tremeram. Até a oposição engoliu em seco. Um dia saberemos se esta foi a primeira de uma série maior… (2014)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Morreu um amigo!

Luís Roseira era lavrador do Douro, produtor de vinho do Porto e do Douro. Deu corpo à empresa e aos vinhos da Quinta do Infantado. Lutou durante pelo menos setenta anos pelo Douro e pelos Durienses. Era médico João Semana e anestesista. Exerceu em Covas do Douro e no Porto. Fez dezenas de partos, milhares de quilómetros para socorrer doentes, ajudou pobres e tratou dos amigos. Era um democrata, um socialista e um homem livre. Partido, autoridade, Igreja, Banco, burocrata ou milionário: ninguém mandou nele. Por isso esteve preso. Por isso os dirigentes de tudo e de mais qualquer coisa o consideraram sempre um incómodo. Escreveu centenas de artigos em jornais, assim como um livro de memórias e de combate. Só a doença o calou. Morreu ontem.

domingo, 2 de agosto de 2015

Luz - Cais das Colunas, Praça do Comércio, Lisboa

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É possível que este local se tenha tornado uma dos “spots” mais visitados e mais fotografados de Lisboa e de Portugal. Em certo sentido e sem comparar com as belezas excepcionais (como sejam a região do Douro, os Açores, o mosteiro de Alcobaça…), devo dizer que o merece. O sítio, pela topografia e pela história, tem qualquer coisa de mágico. Não foi dali que as míticas caravelas partiram, mas toda a gente, a começar pelos turistas, pensam isso! Quando por ali ando, a passear ou a fotografar (o que faço, naquele local, há mais de trinta anos), olho para as caras dos outros, passantes e turistas: todos têm o ar sério de quem está diante da História! Ou de quem por ela está subjugado. Mesmo agora, com selfies e auscultadores, ou com “piercings” e tatuagens, ninguém resiste a um pouco de meditação diante do Cais das Colunas! Na outra margem, o Barreiro industrial (deveria agora dizer-se ex-industrial), a Lisnave (o que dela resta na Margueira) e o Cristo Rei não são os melhores conselheiros para sonhar e meditar com a história nacional. Talvez Belém. Ou, melhor ainda, o Cabo Espichel… (2014)