domingo, 28 de fevereiro de 2016

Luz - Comércio em Alfama, com telemóvel e Coca-Cola

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Algures no bairro que parece ser o mais popular de Lisboa, uma loja e seus clientes dão sinais de “modernidade”: o comércio já não é o que era. Nestas montras e máquinas, encontrar uma bebida portuguesa é quase trabalho labiríntico! Líquidos portugueses, além do extintor, só reparei nas cervejas Sagres... O bairro, com as suas adjacências para a Castelo e a Graça, assim como, mais longe, o Martim Moniz, é um dos mais inter-culturais do país, maneira de dizer que é ali que vivem grandes concentrações de minorias étnicas: Indianos, Chineses, Muçulmanos e Africanos. Ao que consta, uma das últimas novidades será a de apartamentos muito simples e confortáveis arranjados para estrangeiros, que os alugam pela Internet, meia dúzia de dias cada vez. (2015)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sem emenda - Refugiados e imigrantes: Portugal

Perante uma das mais graves crises da história recente da Europa, as autoridades portuguesas (Presidente, Parlamento e Governo, assim como partidos políticos) já deveriam ter tomado uma posição comum. Sozinho, Portugal pouco poderá fazer. Na União e com a Europa, muito pode e deve ser feito. Ora, as instâncias internacionais só fazem o que os seus mandantes querem. No fim da decisão, estão sempre serviços, empresas, funcionários, médicos e polícias. Todos estes pertencem a países, não à União. Esta tem feito pouco, porque os seus membros não se entendem. Eis por que Portugal deverá estar mais empenhado a propor o que a União deve fazer. 
Portugal tem fraca tradição no acolhimento de refugiados. Umas tantas cabeças coroadas dos séculos XIX e XX. Um ou outro ditador. Alguns milionários. Uns tantos Judeus no século XX. Uns jovens austríacos logo a seguir à guerra. Uns oriundos dos países comunistas. Coisa pouca. É pena, dado que o acolhimento de refugiados em busca de liberdade e segurança é, desde a Antiguidade, um dos grandes sinais de civilização e decência! Infelizmente, Portugal tem tradição em “fazer refugiados”: Judeus nos séculos XV e XVI, Jesuítas no século XVIII, padres e freiras nos séculos XIX e XX, liberais e miguelistas no século XIX, republicanos, monárquicos, democratas, socialistas e comunistas no século XX.
Mais tradição tem Portugal como fonte de emigrantes. Foram três ou quatro milhões durante os séculos XIX a XXI. Para todo o mundo. No acolhimento, temos menos prática. Nos anos 1974 a 1976, talvez 600.000 repatriados, expatriados e retornados. Depois disso, 100.000 brasileiros, outros tantos ucranianos, 70.000 outros lusófonos e umas dezenas de milhares de outras nacionalidades. Esta experiência poderá servir-nos, mas a verdade é que só há imigrantes quando há oportunidades e emprego. Ora, a curto prazo, não parece haver nada disso.
Portugal deve receber refugiados. Deve distinguir entre nacionalidades, situações, objectivos e circunstâncias. Deve receber de uma maneira os refugiados e de outra os imigrantes. Deve ser mais generoso com os primeiros e muito mais rigoroso com os segundos. Os refugiados devem poder gozar de apoios excepcionais, mas limitados no tempo. Direitos e deveres dos refugiados devem deixar de ser extraordinários a breve prazo. O número de refugiados que Portugal está disposto a aceitar deve ser anunciado, com todas as condições necessárias: circunstâncias, origem e procedimentos legais. A fixação de limites, tão generosos quanto possível, tem a vantagem de permitir prever recursos, dispositivos jurídicos e condições de instalação, além de conferir a autoridade de rejeitar candidaturas e deportar quem o deva ser. Os refugiados não serão distribuídos como mercadoria ou animais, mas sim como seres humanos que têm alguma coisa a dizer sobre o seu destino.
Sobre matéria tão difícil e delicada, não poderia o Parlamento chegar a uma posição comum à grande maioria? Não poderia realizar um debate sereno, sem vozes estridentes e sem as armas de arremesso habituais, a fim de delinear uma posição consistente de Portugal? Não poderiam o governo e o Presidente da República associar-se? Não seria possível, por exemplo, estabelecer quantitativos de refugiados e definir montantes de despesa excepcionais? Especificar as circunstâncias e os países de origem deste acolhimento extraordinário? Fazer um elenco claro dos direitos e dos deveres desses refugiados, a fim de consagrar a humanidade, mas também a igualdade relativamente aos cidadãos nacionais e outros imigrados?
O Primeiro-ministro António Costa surpreendeu, curiosamente em Bruxelas, com o anúncio de que Portugal estaria disposto a receber 10.000 refugiados a seleccionar entre os que já residem em certos países europeus (na verdade, acrescentar 5.000 aos quase outros tantos “distribuídos” pela União). Muito bem. Um limite quantitativo, que traduz uma vontade e uma disposição, foi anunciado. Não foi preciso ficar à espera. Por isso, aplauso. Mas tudo leva a crer que não estejamos perante uma decisão sólida. Os cálculos não estavam feitos. As condições não foram anunciadas. As questões mais difíceis não são referidas (Com que recursos? De que países? Em que condições? Como serão alojados e empregados? Com que garantias individuais? Com que deveres? Com que direitos?). O acordo amplo com partidos não foi tentado, foi mesmo evitado, o que trará dificuldades subsequentes. O actual Presidente da República e o Presidente eleito não foram comprometidos. Não se sabe se é um propósito firme ou de um anúncio para consumo europeu e moeda de troca para negociações com as entidades europeias. O Primeiro-ministro mostrará a sua sinceridade se esclarecer todas estas dúvidas e se tornar nacional o que pode ser apenas uma invenção. Portugal, país aberto, bem o merece.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Luz - Europeia e Asiática, num café, na Strand, Londres

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Era um dia quente de Verão. Estudantes, gente de trabalho e turistas passeavam-se lentamente pelo Strand. Do Instituto Courtauld para a Universidade de Londres, de Somerset House para o Tamisa. Neste café, fresco e sossegado, liam-se livros, ouvia-se uma música distante e despachava-se ao telemóvel. (2015)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Sem emenda - Refugiados e imigrantes na Europa

É uma das piores crises da União. A coesão, os valores e os interesses são ameaçados. Os equilíbrios internos andam mais instáveis que nunca. Estão em causa a política e as políticas sociais. A Europa vive confrontos da pior espécie, os dos preconceitos e da intolerância. Mas também os da irresponsabilidade. Abrir totalmente as portas é tão errado quanto fechar.

É importante tentar perceber o que se passa e o que acontece. Cá dentro e lá fora. O que se passa não é único e inédito. Já vimos. Já conhecemos. Mas não com esta escala. Não desta maneira. Não perante a inacção das autoridades que não conseguem entender-se. Até agora, a União falhou.

Temos de compreender. Os que querem receber ainda mais refugiados e os que não querem. Os que querem peso e medida e os que acham que a Europa deve receber toda a gente. Perceber os que apenas admitem brancos e cristãos, mas também os que só querem aqueles de que precisam para varrer as ruas. Sem percebermos o que realmente está em causa, nunca encontraremos soluções. E seremos, Europeus, os primeiros a sofrer as consequências dos preconceitos.

Percebê-los todos é indispensável. Mesmo os que, como eu, são favoráveis a receber centenas de milhares de refugiados e imigrantes, devem compreender os outros, os que se fecham e receiam ver a sua Europa desaparecer. Ora, a Europa que vale a pena é a Europa que sempre deixou partir e sempre viu chegar. Com condições, claro: registos, contratos de trabalho, distinção entre refúgio e imigração, separação entre perseguição e procura de oportunidades.

Perceber os europeus permitirá, talvez, resolver problemas, sem deixar esfacelar a União e sem encorajar a intolerância. Compreender implicaria ajudar a Europa a evitar as mensagens contraditórias da União. Foram dados sinais de que todos podiam vir e sinais de que ninguém podia. Houve quem forçasse, pois seria recompensado. Partir à aventura com filhos de ninguém e ver morrer crianças na praia ou idosos na montanha cria emoções convincentes. E deixam-se fazer negócios de passadores, passaportes, barcos falsos e cicerones. Este mercado ilegal que vive da contradição, da chantagem e dos medos das administrações e dos políticos vale 20 mil milhões de euros por ano. O princípio da legalidade é o único capaz de travar os salteadores, os fabricantes de salva-vidas falsos, os que prometem viagem, agasalho e emprego. Os países europeus podem lutar contra esses e aniquilar uma boa parte dessas redes criminosas.

Toda a gente tem ideias e faz propostas. Muito bem. Certo que não há uma solução, há milhares de soluções. Mas deve haver princípios que presidem a essas acções. O da generosidade benemérita e humanista. O da solidariedade, também. O da necessidade europeia de receber mais população e o da integração. Mas ainda o da defesa dos equilíbrios sociais internos na Europa. O da prevenção do crime e da desordem. E o do Estado de direito em vigor.

Prioritário é ordenar os movimentos de população com registos e identidade, definição de residência, emprego e aprendizagem rápida da língua. E rejeitar ou deportar quem não cumpra. Como urgente é ainda distinguir um candidato a refugiado, um imigrante à procura de uma oportunidade e populações deslocadas pela violência. Como é evidente, trata-se sempre de seres humanos. Mas os graus de necessidade e urgência são muito diferentes. E as soluções também.


Convém, finalmente, recordar que os refugiados e os imigrantes têm deveres, como sejam respeitar as leis e os costumes dos países de acolhimento. Confiscar os bens dos refugiados é medida infame, mas levá-los a contribuir pelos impostos e pelo trabalho, tal como qualquer cidadão nacional, é decente. Os refugiados e os imigrantes não têm mais nem menos deveres ou direitos do que os nacionais. Têm os mesmos.
DN, 14 de Fevereiro de 2016

Sem Emenda - As Minhas Fotografias


Memorial do Holocausto, Berlim
Perto de Unter den Linden, da porta de Brandenburgo, do Reichstag e da Potsdamplatz, quase em cima do terreno que era, há poucos anos, a fronteira entre o Leste e o Oeste, foi construído este memorial, inaugurado em 2005. A sua simplicidade é total. São cerca de 2.700 destes blocos, iguais em tudo, menos na altura. Vistos de cima, criam uma impressão ondulante fascinante. As formas fazem lembrar os cemitérios de Jerusalém. Pode-se deambular ao longo dos corredores. O silêncio é quase absoluto. Os grafitos inexistentes. Não são as formas que comovem: é a simplicidade e o despojamento. Sem referências visíveis ao Holocausto ou à morte, este memorial, que não é bem um monumento, acabará por sê-lo. Mesmo com centenas de carros à volta, pessoas a passar, turistas a correr, crianças a brincar, comerciantes a vender souvenirs e intenso barulho da cidade, mesmo assim, sente-se mais o silêncio do que o ruído. E pensamos melhor numa Europa que já foi. (2010)
DN, 14 de Fevereiro de 2016

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Luz - Fila de espera para o eléctrico, com Tuk-Tuk, no Martim Moniz, em Lisboa


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Já muita gente aludiu, nestes últimos anos, ao crescimento do turismo em Lisboa (e no Porto). Na verdade, ao longo desta década, mais ano, menos ano, os turistas deixaram rapidamente de vir a Portugal apenas ou quase só por causa das praias e do Algarve e começaram a encontrar outros pontos de interesse. Na lista das prioridades, vamos encontrar Lisboa e Porto, o rio Douro, os monumentos habituais (Belém, Jerónimos, Pena, Sintra, Batalha, Alcobaça, Mafra, Tomar…), o vinho, a cozinha e os centros históricos das cidades. Museus e cultura parecem atrair pouco, com excepção dos Coches (pela originalidade), talvez a Gulbenkian (pela qualidade) e quem sabe se o das Janelas Verdes, bem administrado e animado como está, virá também um dia a atrair forasteiros. Como se sabe, todo este incremento ficou em grande parte a dever-se aos “low cost”, às crises e às guerras do Mediterrâneo e aos cruzeiros. Mas, como sempre, enquanto uns reagem a uma velocidade espantosa (até de mais…), como os Tuk Tuk que invadiram tudo, outros demoram anos e perceber. Os carros eléctricos, por exemplo, são uma coqueluche, não há estrangeiro e até português que não queira viajar lá. Só que é necessário fazer filas estúpidas, longas, demoradas, quantas vezes ao sol de queimar… Mas sejamos optimistas! Uma coisa reagiu depressa: os ladrões e os “pick pockets” são mais que muitos! Chega a haver vários em concorrência dentro do mesmo eléctrico! (2015)

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Livro de reclamações - Os Comunistas

Está de novo a criar-se um ambiente mitológico de branqueamento dos comunistas. A fazer lembrar os anos 1950: eram, ao mesmo tempo, os heróis e as vítimas. Os únicos heróis e as principais vítimas.
            Hoje, ser adversário dos comunistas, não desejar os comunistas no poder e lutar contra eles é mau, é primário e é reaccionário… Pelo contrário, ser adversário dos fascistas e da direita em geral é bom, é honroso, é democrata e é progressista…
Não querer os comunistas no governo, nem sozinhos, nem acompanhados, é preconceito, é considerar que há partidos de segunda e é censura… Ao invés, não querer fascistas nem a direita no governo é patriótico.
Detestar os capitalistas, a direita, os social-democratas e a mesmo alguns socialistas é honroso e patriótico. Detestar os comunistas é pior do que racismo.
Colocar no mesmo pé comunistas, fascistas e nazis, atitude justa e de bom senso, é considerado primário e grosseiro.
Os comunistas portugueses, últimos abencerragens de obscura utopia, derradeiros exemplares de raça quase extinta, estão aí, para preocupação maior, a exibir o nosso atávico atraso perante o mundo, a economia, a sociedade, a liberdade e a cultura! Chegámos atrasados a quase tudo, até à liberdade. E ainda tivemos de sofrer a ultima revolução comunista, felizmente abortada. Tivemos a última revolução industrial na Europa, o último fascismo, o último colonialismo, a última descolonização, a última revolução socialista e agora os últimos comunistas.
O mais curioso é que os comunistas conseguiram convencer grande número dos seus adversários, a começar pelos seus mais abominados rivais, os socialistas, a serem complacentes e a pensar como eles. São estes os responsáveis pelo resgate moral e político dos comunistas.
Os comunistas fazem tudo o que se lhes permite, permitem tudo o que se lhes faz. Dizia De Gaulle. Só conhecem uma regra, a da relação de forças. E uma lei: a do mais forte!
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DN, 7 de Fevereiro de 2016