Com o fim de Outubro, terminam as
actividades que dão pelo nome de praxe e que consistem num catálogo de actos
gratuitos de violência, de assédio sexual, de bebedeira, de escatologia barata,
de expressão animalesca de autoridade e de deficiência moral profunda. Alguns,
autores ou vítimas, alegam que se trata de actividades iniciáticas e de
integração dos jovens caloiros. O que não ponho em dúvida: estas actividades revelam
bem a qualidade dos comportamentos que se esperam para os integrados e
veteranos. Como sou liberal, não me ocorre tentar proibir ou castigar quem
praxa ou é praxado. Cada um come o que gosta. Mas não me conformo com o facto
de essa gentinha andar por aí à solta em território comum. Nem me parece
aceitável que essas actividades sadomasoquistas se realizem diante de nós. Sei
bem que os imbecis têm direito à vida. Também sei que há estudantes que gostam
de praxar e outros de ser praxados. Como sei que há professores que aceitam as
praxes. É sabido que muitos estudantes que não aceitam ou não querem a praxe,
têm dificuldades em escapar, dadas as pressões psicológicas e outras exercidas
sobre eles. Dito isto, os idiotas que querem divertir-se na praxe podem
fazê-lo. Em privado, de preferência. Já me surpreende que o Estado, as leis da
comunidade, os deputados do Parlamento, os professores, os dirigentes das
escolas e algumas polícias não façam o que têm de fazer: proibir as praxes
dentro das escolas, das instalações públicas, nos recreios e recintos das
universidades e nos territórios ou espaços públicos sujeitos à autoridade,
entre os quais os jardins e os parques. As universidades deveriam também deixar
de subsidiar as associações que se dedicam à praxe. Enquanto se sentirem
tolerados, os idiotas da praxe continuarão. Quando se sentirem pestíferos,
talvez comecem a pensar…
Livro de reclamações - DN, 25
de Outubro de 2015
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