Luz em Serralves, Porto – Dominar e guiar a luz devem ser antigas ambições dos humanos. Organizar o espaço e os edifícios de modo a que seja possível orientar a luz é uma das artes da arquitectura. Em alguns casos excepcionais, como em Alcobaça, por exemplo, tem-se a impressão de que a luz é trazida por força invisível. Com Siza Vieira, na Igreja do Marco de Canavezes ou em Serralves, tem-se uma sensação forte e mais estranha: chega a pensar-se que o arquitecto leva a luz, à mão, pelos corredores e pelas salas, até a colocar onde ele quer. Pode mesmo imaginar-se que, com este Mestre, a luz não se desloca em linha recta, mas escorre, cai e contorna os objectos e as paredes em ondas curvas. Ou fica imóvel, suspensa. Esta imagem foi feita no Museu de Serralves, construção recente (1999), acrescentada ao conjunto da Casa de Serralves (que data dos anos 1940). É um momento de luz especial. Como quase sempre com Siza Vieira, Mestre da luz.
DN, 26 de Fevereiro de 2017
domingo, 26 de fevereiro de 2017
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2 comentários:
Uma fotografia interessante que pretende iluminar um texto cheio de sombras.
Ao contrário da prosápia do autor, a imagem não se limita a mostrar uma coisa e o seu contrário, ao branco/ preto, à luz/sombra ou ao claro/escuro. A imagem revela zonas de penumbra em matizes de cinza deliciosas.
Relativamente à legenda, apraz-me dizer que tempos houve em que o povo se deixou extasiar e dominar pela altura das construções religiosas e pelos raios solares filtrados por vitrais ou nuvens atmosféricas.
Na Idade Média acreditava-se que a altura das construções góticas permitia aos fieis acederem mais facilmente ao reino dos cèus e os raios de luz no seu interior simbolizavam Jesus Cristo.
Curiosamente, há precisamente 100 anos, na Cova de Iria, a interação da luz solar com as nuvens permitiu o embuste de Fátima que muitos conhecem e é bem explicado por Ratzinger antes de ser Bento XVI.
Depois de Deus ter deixado de ser o centro de todas as coisas, novas e verdadeiras Luzes surgiram, louvadas por uns e detestadas, ainda hoje, por outros.
É bonita a imagem "leva a luz à mão". E, em Serralves, verdadeira. Ainda que o museu não seja o que mais prefiro por lá, reconheço a sua concepção impecável. Oxalá a aproveitem sempre, que a arte precisa dela e do espaço para ser bem vista. Que não façam como o museu do Chiado que expôs Amadeo num espaço tão curto e imerecido ao artista que, faltava o espaço da contemplação (também faltaram outras coisas) perante as telas, retiraram ao visitante a perspectiva da sua beleza. Perdem elas. Perdemos nós. E já foi. Cada vez mais me convenço que não há verdadeiros estetas à frente destas coisas. Que pena!
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