terça-feira, 20 de setembro de 2016

Sem emenda - As esquerdas e o dinheiro


Sempre se disse que as esquerdas têm um problema com o dinheiro. A começar pelo facto de não o terem. É natural. Tivessem dinheiro e talvez não fossem esquerdas. Com algumas excepções, as pessoas de esquerda não têm muito. Por isso, quando estão no governo, têm uma atitude ligeira com o dinheiro dos outros. Querem promover a educação, a saúde, a segurança social e as obras públicas, o que é excelente, só que para isso, que custa tão caro, faz falta o dinheiro. Mas, convencida de que a direita tirou aos pobres para dar aos ricos, a esquerda também quer reverter e devolver aos pobres… No entanto, dar é uma coisa. Crescer e distribuir é outra, bem diferente e mais difícil. Mas a verdade é que uma e outra, esquerda e direita, desde 2000, não conseguem investir nem crescer.

Nos bons tempos, gasta-se o que se tem. Nos anos difíceis, gasta-se o que não se tem. Depois, é necessário encontrar dinheiro. As soluções: fazê-lo, pedi-lo emprestado ou ir buscá-lo onde ele está. Portugal está a viver um período desses, dos maus. Só que não se pode fazer dinheiro, o Banco de Portugal e a Casa da Moeda já não servem para isso. Pedir emprestado, é o que se vai fazendo, mas está cada vez mais caro. E quem tem dinheiro ficou exigente: ou não empresta ou impõe condições proibitivas. O que se deve é tanto que só os juros levam os recursos para investimento. Foi aliás por causa de se ter pedido a mais que chegámos onde estamos.

Sobra, portanto, a última hipótese. Ir buscá-lo onde ele está. Em primeiro lugar, entre os capitalistas do mundo inteiro, para investir. Seria o ideal. Só que Portugal não oferece hoje, nem sequer nos últimos anos, boas condições. Não sabe criar incentivos nem atrair investimento. Se não há capitalistas lá fora, é preciso ir ter com os de cá de dentro. E levá-los a investir. Só que… Já não há! Ou quase não há! O capitalismo português acabou. Sobravam uns banqueiros, umas empresas e umas famílias: faliram, estão depenados, levaram o seu dinheiro para outros países ou não têm confiança no regime e no governo. O dinheiro dos bancos já não existe ou está preso pelo BCE. Os bancos já não têm que chegue e precisam dos contribuintes!

Há, evidentemente, o dinheiro dos turistas, mas não é suficiente. Há o dos emigrantes: é bom, apesar de já não ser o que era, mas também não chega para as encomendas. Há finalmente os dinheiros europeus, os famosos “fundos”. Esses são excelentes, essenciais há mais de trinta anos, mas o montante já não é o que era. Além disso, estão sob controlo europeu cada vez mais apertado e presos na tenaz burocrática portuguesa. E também em risco de suspensão, dado o mau comportamento financeiro do governo e do país. Os fundos já não são a solução!

Se o que havia fugiu e se não se atrai o que está lá fora, só resta mesmo ir à receita miraculosa dos comunistas, do Bloco e dos socialistas mais nervosos: ir buscá-lo onde está! É há anos a receita infalível. Os dirigentes políticos dos novos aliados do PS sempre o disseram. Ir buscá-lo onde? Aos ricos. Às contas bancárias. Às empresas. Às casas. O problema é que não há ricos. Ou antes, não há ricos que cheguem. Os que tinham dinheiro já o puseram a recato. E o dinheiro já não chega. Por conseguinte, vamos aos que se seguem, todos os que têm alguma coisa. Passam a ser todos ricos. Por exemplo, para já, aos que têm património de mais de 500 mil euros… Faz-se uma lei sem saber quantas pessoas, quantas casas, qual o rendimento… Não se faz a mínima ideia, o governo não define o que é um rico, nem um pobre. É quem convém. E se não chega, arranjar-se-á mais, com os impostos indirectos, antes de se passar aos directos. E a tudo o que vive. Tudo o que tem ou ganha qualquer coisa. Até se chegar aos remediados. Até deixar de haver ricos. Mesmo que então já só haja pobres…
DN, 18 de Setembro de 2016

2 comentários:

Anónimo disse...

A oeste nada de novo. Há muito, desde o século XIX, que a direita repete o mesmo estribilho.

http://www.jornaldenegocios.pt/economia/impostos/detalhe/ha_240_muito_ricos_em_portugal_de_onde_lhes_vem_o_dinheiro.html

bea disse...

Crescer e distribuir parece-me de facto a solução quase ideal. Mas o que constato do post é que, nas actuais condições, isso nos é impossível. Portanto, parece-me menos mal que se procurem outras formas, sem carregar apenas nos que são pobres já que, como refere, a pobreza aumentou substancialmente; somos um universo em expansão.

Não me caem os parentes na lama se os ricos ficarem um pouco menos ricos. Mas deve ser porque me incluo no imenso número de esquerdistas sem dinheiro. 500.000 euros parece-me bastante, mas, lá está, é de certeza por andar sempre lisa. Mero preconceito de quem não tem onde cair morto e e está livre da entediante salvaguarda de economias no estrangeiro.

Eu e tantos como eu, somos, na verdade, burros de carga. Carregamos um país mal governado, quase sempre às mãos benévolas de "amantes do povo", nascidos ou a ambicionar viver no cume da pirâmide. Ao país carregámo-lo sempre. Durante séculos. E, caso não haja implosão, desconfio que vamos ser nós a aguentá-lo.