Depois de ter a certeza de que as
instituições europeias não castigariam Portugal, os partidos parlamentares
decidiram aprovar um protesto contra as eventuais sanções. Não havia riscos e
ficavam todos bem, pensava-se. Assistiu-se então ao espectáculo lamentável de
um Parlamento que não se entende a propósito de um voto “patriótico” de
repúdio! Qual associação de estudantes, aquela assembleia, perante uma
hipotética ameaça europeia, nem um texto medíocre aprovou. Protestar daquela
maneira é adolescente e prova de menoridade. Mas nem sequer conseguir alinhar
três parágrafos sobre o assunto é simplesmente infantil! E sinal de que o clima
político está mau, a caminho de péssimo. Foram aprovados dois protestos… Os
socialistas votaram dos dois lados…
Deveria, evidentemente, haver
sanções. Não há outra maneira de estimular um país à disciplina orçamental e
financeira. A proverbial incapacidade dos Portugueses para conseguir disciplina
e rigor financeiro só pode ser tratada de duas maneiras. Uma, com ditadura, o
que já foi experimentado no passado com os maus resultados conhecidos. Outra,
com sanções impostas por quem tem legitimidade para o fazer, o que só parece
competir à União Europeia.
Portugal é incapaz de alcançar de
livre vontade os equilíbrios financeiros e orçamentais necessários a um bom
desenvolvimento económico. A adesão ao Euro, há quinze anos, justificava-se
pela necessidade de pôr ordem nas finanças portuguesas. A seriedade europeia,
prolongamento da severidade alemã, era um excelente argumento para justificar a
adopção do Euro. Infelizmente, os resultados foram os piores. A indisciplina
portuguesa aumentou. A complacência europeia foi total. O interesse dos países
exportadores e credores transformou-se em cumplicidade e co-autoria dos
desmandos. A demagogia, a corrupção e a trapaça bancária foram moeda corrente
durante duas décadas. Mais ou menos aquelas durante as quais Portugal deixou de
crescer. Até hoje.
É todavia ridículo e ilegítimo impor
sanções a Portugal e, ao mesmo tempo, desculpar a França e ser complacente com a
Itália e a Grécia. E já ter desculpado a Alemanha, quando ela precisou. Além disso,
a União Europeia e o BCE não souberam, durante quinze anos, impor disciplina e ser
mais severos no acompanhamento. Sem equidade e sem eficácia, a União perde
autoridade.
Este não é o momento para impor
sanções a Portugal nem a qualquer outro país. A União tem primeiro de se
reconstruir, depois podemos voltar a pensar nisso. Mas, se não houver sanções,
nem agora, nem mais tarde, em Portugal ou noutro membro não cumpridor, nunca
mais haverá disciplina. Nem cá, nem lá. E se assim for, adeus Europa, adeus
União!
Começa a desenhar-se uma “frente
comum”, uma “aliança implícita” entre países do Sul, Latinos, mediterrânicos e
socialistas: Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Esta convergência pode
dar mais peso a uma eventual posição portuguesa. Mas o problema é que com este
sindicato de caloteiros, jamais conseguiremos o mínimo de disciplina necessária
a um esforço de investimento e de crescimento. Com tantos economistas à solta
por essa Europa fora, não se conseguirão inventar mecanismos mais eficientes de
salvaguarda da disciplina orçamental e financeira e do rigor nas contas
públicas?
Para os Portugueses, o grande
problema é o endividamento e o défice público. Nestes capítulos, Portugal é
incorrigível. Aproveitam-se todas as oportunidades para aumentar a dívida e a
dependência. Os Portugueses não têm vergonha de dever dinheiro aos outros. São
tão perversos que até se sentem bem, isto é, com direito a ter dívidas! Não têm
emenda, parece que só a mal ou à força é que os Portugueses ganham juízo
financeiro!
DN, 12 de Junho de 2016
2 comentários:
Que tristeza de país! É uma mentalidade cimentada na pobreza e ignorância do povo e da terra que pouco dá em solo ou subsolo e sobre a pobreza no espírito dos mandantes portugueses (veja-se o parlamento português e já basta). Como se a dívida seja uma fatalidade tão certa como a morte e não valha a pena saldá-la. Somos um país pobre que não sobrevive sem ela. Tornou-se hábito e saltou sobre os parâmetros da honra. Deveio necessidade. E, ou tivemos sempre maus líderes e teremos de reconhecer que exercer a liderança não nos faz o género; ou não há mesmo outro caminho do que gerir a dívida, continuar a jogar a bola para cá-para lá, para cá-para lá.
Entre um sindicato de usurários e um sindicato de caloteiros, venha o diabo e escolha.
O problema não está só no endividamento que, aliás, é uma dificuldade instalada em muitos países, inclusive nos EUA. O problema em Portugal, como diz o outro, "It's the economy, stupid!"
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