Em quinze anos, desde 2000, o
crescimento económico português foi, para o período ou em média anual, zero!
Nunca tal se viu, na evolução económica recente. Diante da brutalidade destes
números, com a esquerda ou com a direita, as esperanças no desenvolvimento
económico e social esfumaram-se. O que se esperava que a modernização tivesse
trazido, o que se pensava que a integração europeia tivesse produzido, o que se
imaginava que a nova economia e os novos empresários tivessem criado, tudo isso
parece ter desaparecido! Aspira-se a um crescimento de 0,5 a 1 por cento, como
se fosse o El Dorado! Sonha-se com desemprego a 7% como se do paraíso se
tratasse! Com o actual endividamento e o respectivo serviço, décadas serão
necessárias para libertar recursos indispensáveis para o investimento. Até lá,
vamos procurando culpados.
É normal. Compreende-se. Cada crise
tem o seu culpado. Nunca é unânime, há sempre polémica, mas, em cada momento,
um culpado sobrepõe-se aos outros. Houve um tempo em que era o fascismo. Pela
pobreza, pelo analfabetismo, pela doença e pelo atraso, a culpa era do
fascismo, da “ditadura terrorista dos monopólios”, segundo a preciosa definição
do Dr. A. Cunhal. Também se dizia que os culpados eram cem famílias.
Quando a liberdade parecia
despontar, logo surgiram os que a queriam atacar e ficaram responsáveis por
todos os desmandos: eram os comunistas, a extrema-esquerda e os militares do
MFA. Com a União Soviética à frente. Foram eles os responsáveis pelos desastres
da economia, pelo desemprego e pela inflação.
Encerrado esse ciclo, o culpado
passou a ser o Estado. A burocracia. Os funcionários. As empresas públicas. E,
através do Estado, a Maçonaria. Era no Estado que floresciam a corrupção e a
promiscuidade. O sector público nada fazia, nada produzia, só gastava.
Esgotada a ladainha do sector
público, chegou a vez das elites. Elites económicas e políticas (nunca as
artísticas nem as intelectuais, pois claro…) incapazes de dirigir e enriquecer o
país. O povo trabalhava, os trabalhadores cumpriam, mas as elites gastavam ou
não se interessavam. E não estavam à altura dos desafios e das necessidades.
Não faltou muito para que se
encontrasse um novo grande culpado: o país inteiro, o povo, a população que
viveu acima dos meios, muito acima das suas possibilidades. Viver a crédito,
com dívidas, como se não houvesse filhos nem dia seguinte, foi a razão pela
qual o país se afundou. Todos os Portugueses, com excepção de alguns
iluminados, tiveram a sua quota-parte de culpa.
O contra-culpado não tardou: a
direita! A direita dos ricos e dos banqueiros. A direita dos patrões. A direita
do Partido Socialista, por um tempo. A direita do PSD e do CDS, claro. Com a
direita vieram, evidentemente, a União Europeia e os alemães, culpados
indesmentíveis da nossa pobreza!
Agora, de repente, temos um novo
culpado. Disse o ministro das finanças, Mário Centeno, que a economia não
cresce por causa do sistema bancário! Segundo os jornais, ele entende que os
trabalhadores portugueses são os que mais trabalham em toda a Europa, como são
igualmente, de longe, os que menos ganham. Eis que constitui, diz o ministro,
uma força a aproveitar para fomentar o investimento. Para dinamizar esta
economia, feita pelos que mais trabalham e menos ganham, é necessária uma banca
que funcione. É o que ele promete! Não tínhamos pensado nisso antes. Não nos
lembrávamos dos mais de 30 mil milhões de crédito mal parado, nem dos
trapaceiros que destruiriam o que sobrava de reputação da banca portuguesa.
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DN, 19 de Junho de 2016
2 comentários:
Ai isso é que lembrámos. Há muito tempo que se vocifera contra os bancos e o sistema bancário que leva o tempo a ser salvo. E que quem não tem onde cair morto leve o tempo a salvar endinheirados sem juízo é no mínimo estranho.
Em última análise, só falta dizer que os culpados foram o Soares, a maçonaria e os rapazes medíocres do secretariado do PS. Sem estes, os "iluminados" teriam construído um Portugal radioso com sede na freguesia da Lapa.
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