terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Prémio Pessoa

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O JÚRI DO PRÉMIO PESSOA,
de que faço parte, designou o laureado deste ano: D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, teólogo e historiador. Tenho honra e prazer em pertencer a tal júri. Recordei o lançamento do livro dele, “Um só propósito...”, no Porto, em Março deste ano, no qual tive a oportunidade de dizer algumas palavras. Estas foram já publicadas nos blogues Sorumbático e no Jacarandá. É para eles que remeto os leitores.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não entendo porque foi dado a D. Manuel Clemente o Prémio Pessoa. Li há pouco o seu livro Portugal e os Portugueses - que comprei, por curiosidade, em 2008 - e achei-o um livro mediano de um pensador católico culto e inteligente, mas sem qualquer chispa. Foi por ter sido «o primeiro bispo católico português a publicar uma mensagem no YouTube»? Por ser «um excelente contador de histórias»? Por ter «uma intervenção cívica onde se destaca a defesa do diálogo e da tolerância»? Dizem que sim.
Se queriam distinguir um pensador religioso, e um daqueles que se destaca e destacou na defesa do diálogo e da tolerância, Frei Bento Domingues tem muito mais mérito do que este bispo. Mas Frei Bento tem um senão: acham que ele é das margens da Igreja institucional e, se calhar, meio de esquerda - grandes pecados, mesmo num dominicano. Enquanto que D. Manuel Clemente é convidado para falar nas jornadas parlamentares do PSD...
Aí está também o valente teólogo Anselmo Borges, grande cabeça e coração católico, mas é demasiado avançado e rebarbativo para estes júris conservadores, consagradores do mainstream e da banalidade. Anselmo Borges está demasiado alto para a fasquia do júri.
Pode ser que D. Manuel Clemente tenha tido indiscutível mérito à frente do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, mas isso não basta, creio, para se lhe conceder o prémio Pessoa. Ele recebeu-o, quer-me parecer, porque quiseram destacar uma «alta figura» da Igreja. Escolheram-no a ele, que é, de facto, do mais apresentável que a hierarquia da Igreja tem, juntamente com o bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo.
«Em tempos difíceis como os que vivemos actualmente, D. Manuel Clemente é uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo», considerou o juri do prémio Pessoa. Tudo bem, não vamos discutir agora isso. Mas conceder-lhe um prémio com o nome de Pessoa, destinado a galardoar obras notáveis na arte, na literatura e na ciência? No entiendo!
Não sei, de resto, se temos em Portugal suficientes figuras merecedoras deste prémio para ele poder ser atribuído todos os anos. Arriscamo-nos a vê-lo novamente concedido a Vascos Graças Mouras e Manuéis Alegres. É verdade: o sectário, bilioso e mesquinho autor do artigo «A porcaria», publicado há dias no DN, foi galardoado com o Prémio Pessoa em 1995. Não sei se foi pela medíocre poesia que produz, se foi pelos seus lindos olhos e dentes. Parece que também melhorou a Divina Comédia ao traduzi-la para português...
Note-se que, na poesia, o Prémio Pessoa foi dado a Vasco Graça Moura e a Manuel Alegre depois de ter sido atribuído a Ramos Rosa e Herberto Helder. Ou seja, a fasquia está a ir pelo cano abaixo.
O prémio, criado em 1987, patrocinado até 2007 pela Unisys e agora pela CGD, não considerou a obra de Saramago digna de distinção, contra a opinião da Academia Sueca e de muitas centenas de milhares de leitores por esse mundo. Da família Lobo Antunes só contemplaram o «bom», o neurocirurgião e conselheiro de Estado de Cavaco. Estarão no seu direito. Mas o Prémio Pessoa corre o risco de se tornar num novo Prémio do SNI, desta vez gerido pelos amigos de Balsemão.
(Nik, Nikadas)

www.angeloochoa.net disse...

ANÁFORA DA VIDA PROBLEMÁTICA
EM UM QUASE SONETO:
Se só uma vez estás vivo,
se só uma vez dizes Amor,
se só uma vez salvas Amigo,
se só uma vez acenas Adeus,
se só uma vez vives,
se só uma vez morres,
se só uma vez vês a Cor,
se só uma vez vives a vida,
se só uma vez morres da morte,
se só uma vez o grão do trigo sepultas
para dares lugar ao pão para a mesa…
Porque disse então
o Jesus Cristo dos paradoxos
ser preciso nasceres de novo?