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A PUBLICAÇÃO, pelo Ministério da Educação, do “Manual de Aplicadores” não passou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insigne peça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico. Trata-se de um compêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde se desenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. Mais preciso e pormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais não são novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos. São essencialmente iguais e revelam a mesma paranóia controladora: a pretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala durante as provas.
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ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”. Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!
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A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.
A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.
Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.
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O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.
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OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão. Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia. Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade. Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos. Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa. O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores. Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. Todos estão exaustos. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano.
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ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”. Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!
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A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.
A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.
Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.
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O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.
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OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão. Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia. Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade. Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos. Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos. Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa. O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores. Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. Todos estão exaustos. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano.
«Retrato da Semana» - «Público» de 24 de Maio de 2009
20 comentários:
Boa tarde.
Subsiste em mim uma dúvida.
Se por um lado se exige que "Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual” como proceder no caso de, à pergunta "Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?, um aluno apresentar uma dúvida?
Deve ser conduzido às instalações do ME para ser esclarecido? Deve ser ignorado? Deve ser ostracizado para a Patagónia?
E se o professor deve "Não [procurar] decorar as instruções ou interpretá-las" deve ler "estou a ser claro?", "estou a ser clara?", segundo o género ou deve cingir-se a "Estou a ser claro(a)?" e ser exacto?
Já imaginava que isto mais tarde ou mais cedo ia a acontecer. Não imaginava é que estes F.D.P. fossem tão longe. Uma coisa é certa, nem o Regulamento de Disciplina Militar (RDM) consegue ser tão estúpido quando este manual. O povo, no qual eu me incluo, elegeu-os, estamos em democracia e temos que os aguentar. O que não entendo é depois destes comportamentos aberrantes e ditatoriais, darem-lhe ainda a maioria.
Finalmente, o país está a acordar!...
Estas instruções já existem e são aplicadas há três anos...
Porque é que os professores não as denunciaram mais cedo?! Porque, na altura, ninguém desconfiava da "bondade" da sra ministra e a classe docente, com a casa a arder, não ia preocupar-se com a cor das cortinas...
Ao texto que segue, eu assino por baixo.
"Este texto do Barreto, Aplicadores, é de alguém que tem a perfeita consciência de ser instrumental para o acirrar dos ódios contra o Governo entre dois tipos de professores cruciais para a manutenção do boicote às reformas na Educação: os corporativamente mais bélicos e os cognitivamente mais frágeis. Faz parte do aquecimento para a manifestação de 30 de Maio e pretende incendiar emocionalmente os diferentes grupos que irão comparecer: professores, sindicalistas, militantes de partidos da oposição, familiares de uns e de outros, reformados e desempregados.
O recurso ao Manual de Aplicadores, para embrulhar as ofensas que preenchem todo o texto com nexos falaciosos, mostra-nos um Barreto completamente desvairado. Trata-se de uma desonestidade intelectual grosseira, chocante e nojenta — a qual não deve ser esquecida nem perdoada sem acto de contrição. Porque esse documento, abandalhado pelo Barreto, não passa de um simples protocolo destinado a uniformizar as condições em que se prestam provas, assim garantindo maior fiabilidade e justiça nos resultados a nível nacional. O documento oferece informações suficientes para que até um professor imbecil consiga cumprir com o objectivo, para além de apelar a que as eventuais dúvidas sejam apresentadas e esclarecidas em devido tempo. E o objectivo do protocolo está ao serviço dos alunos, dos seus encarregados de educação e da comunidade, como é óbvio, evidente e inquestionável.
Só que o Barreto está num outro campeonato, o do ressentimento narcísico. A sua atitude antigovernamental é a exuberante manifestação de alguém cujo prazer na vida já só consiste na descoberta de inimigos; como outros precisam de encontrar água no deserto. Por isso a retórica usada é precisa, maníaca, pérfida. Mete golpes baixos como manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa à mistura com fogareirices como regimento de disciplina militar — assim alertando as senhoras professoras para não se deixarem tratar como balofas donas de casa e avisando os senhores professores para resistirem à invasão da escola pelos coronéis e generais. O texto, como é timbre neste decadente publicista, não traz qualquer esperança nem esboço de solução exequíveis, cívicos. Não gasta meio caracter na tentativa de levar as partes ao diálogo, ao entendimento, à negociação e ao compromisso. É precisamente ao contrário, aposta tudo no conflito, na batalha, na carga romântica e desesperada contra as linhas inimigas. É por isso que se permite catalogar a equipa ministerial, responsável por uma das áreas mais complexas e decisivas do nossos destino colectivo, como sendo um grupo de déspotas loucos. Esta bosta disfuncional vem de um sociólogo considerado referência intelectual, referência académica e referência da democracia. Bom, então, e que se pode fazer a um déspota louco senão assassiná-lo? É o se que tem procurado fazer, politica e moralmente, a essa honrada e corajosa portuguesa de nome Maria de Lurdes Rodrigues."
in AspirinaB
A paranóia controladora
de déspotas iluminadas,
é miseravelmente reveladora
de políticas estagnadas.
As normas militarizadas
de cariz “taylorista”,
só podem ser preconizadas
por gente purista!
Preocupado com a educação
nestas terras lusitanas,
o mexilhão aguça a elocução
contra as políticas puritanas.
"Exaustos" é muito pouco para o que é. Somos acossados por quase todos e "bodes expiatórios" para quase tudo.
É muito raro encontrar alguém do "mundo dos comentadores" como o António Barreto. É dos poucos que sabe exactamente do fala.
António Barreto mostra neste texto que não reconhece a importância de aplicar os métodos de Gestão da Qualidade quando se pretende evitar erros em procedimentos de rotina. Talvez não saiba que quando ele ou alguém vai ao laboratório fazer análises clínicas, os procedimentos dos técnicos do laboratório também estão descritos em Manuais de Procedimentos com regras rígidas. O cumprimento escrupuloso dessas regras é que nos dá a garantia de que as análises são bem executadas, e de que podemos ter confiança nelas. E os Técnicos dos laboratórios são gente com formação e são gente honesta e séria.
Os Manuais de Procedimentos são documentos que ajudam as pessoas competentes a não improvisar quando executam tarefas para atingir objectivos precisos. Cada parágrafo de um Manual de Procedimentos está lá para evitar que se repita um erro cometido anteriormente por alguém, que tinha formação e que era competente mas que errou (talvez por ter confiado demasiadamente na sua própria criatividade).
Gostei muito do texto que li e "assino por baixo" (atenção que não me inspirei em nenhum cartaz publicitário para dizer isso)..
Para Deolinda, não é verdade afirmar que pela primeira vez se chama a atenção para o absurdo das instruções do referido manual. Nos últimos anos vários jornais fizeram referência aos mesmos, e com o mesmo tom de crítica! O problema é que não se deu a mesma importância (talvez algum arbitro tenha "roubado" algum golo, e essa tenha sido a notícia da semana...)
Este Ensino ainda terá cura ?
Com mais algum esforço «socrático», todas as Escolas obterão as melhores classificações; todos os alunos alcançarão o seu merecido Diploma;os mais distraídos terão até a sua segunda ou terceira ou quarta oportunidade até à sua vitória final, a sua e a do festejado Governo «socrático», claro, que, para isso, todos se esforçam, todos devotadamente se aplicam.
É só continuarem na via correcta que desenharam, que ainda chegarão à sua Índia prenhe de especiarias embriagadoras.
E no cabo deste venturoso caminho, não restará cidadão sem Diploma, sem Computador Magalhães e outras acabadas maravilhas da Modernidade Socrática.
Só mais um esforço, bons portugueses, que o Eldorado já espreita... Mas nunca se esqueçam do grande Timoneiro que vai ao leme.
O artigo, na parte referente ao manual do aplicador, está fundado num desconhecimento. Estes manuais não são invenção deste ministério, nem tão pouco de qualquer equipa anterior. Fazem parte dos estudos internacionais comparativos em educação. Tendem a uniformizar a aplicação de um estudo (por exemplo, os estudo internacionais sobre Matemática e Ciência, ou os estudo tipo PISA)a toda a amostra seleccionada. Portanto, os professores não são naquele momento professores, mas aplicadores que seguem estritamente convenções para assegurarem a fiabilidade do estudo. As Provas Aferidas não são exames. São um estudo sobre o sistema.
O que mereceria questionamento não seria, então, o manual do aplicador, mas a própria noção e extensão das Provas de Aferição. Estas não são, como si disse atrás, exames mas um estudo sobre o sistema. Uma amostra seria o suficiente para avaliar o sistema e seria desnecessário gastar tanto dinheiro para aplicar o estudo a todo o universo. Depois, não tem sentido estar a avaliar o sistema todos os anos.
O que mereceria também questionamento é ainda aquilo que as Provas de Aferição ocultam. Em primeiro lugar, elas ocultam o desejo de não avaliar seriamente os alunos. Estas Provas estão no lugar dos exames. Finge-se que se avalia os alunos, mas não se avalia. Os resultados não contam nas classificações finais. Por outro lado, oculta-se também a necessidade de avaliação externa nas outras disciplinas, como se só Português e Matemática fossem saberes reais e importantes no currículo nacional.
Contestar o manual do aplicador, um instrumento padronizado proveniente do estudo internacionais comparativos sobre educação, é uma espécie de tiro de pólvora seca, quando a própria noção de avaliação aferida, introduzida pela Reforma Roberto Carneiro, deveria ser questionada. A utilização deste tipo de avaliação, na escala e ritmo em que é usada, diz muito mais do sistema educativo do que mil manuais do aplicador.
Que belos salazaristas me sairam algumas pessoas disfarçadas de socialistas. O meu velho pai, grande defensor do Botas, e que sempre abominou o 25A, dizia-me quando surgia na TV o Mário Soares. Foram os socialistas que derrubaram o regime, mas vão ser eles que vão de novo instaurar o estado novo, não lhe dou mais que dez anos.
Quanto ao tempo, enganou-se, foram 31 anos, quanto ao resto, acertou em cheio.
Quanto vejo alguns comentadores e seguidores do Socretino, recordo sem saudade o tempo em que o meu pai e os amigos defendiam o salazarismo de uma forma doentia, as leis e a forma de organização desse velho Portugal. De facto, digam o que disserem, voltámos ao fascismo.
O autor do texto de ‘AspirinaB’, postado por ‘Prof. Sílvia’, esta e o caríssimo ‘Manolo Heredia’ argumentam como uns tristes ignorantes, aparentemente um tanto imbecis, que confundem o ‘frasco com o perfume’, a ‘lata com as salsichas’, ‘o chapéu com o que devia estar dentro da cabeça’. Os procedimentos a normalizar com um Manual de Procedimentos são os que se prendem com a essência do acto e não com aspectos absolutamente laterais ao mesmo, tais como o triste nível de detalhe a que se chega no referido documento. No caso, o que deve ser normalizado (e normalmente não é) são os conteúdos a testar, a estrutura das provas, os critérios de avaliação, etc. etc., e não a (estupidificante) exacta formulação textual das instruções aos vigilantes. Isso é um pouco como obrigar o cientista a seguir o traço amarelo, riscado no chão do laboratório, pé ante pé, quando transporta a amostra de tecidos para determinação do ADN, julgando que disso dependem de alguma forma os resultados dos testes.
O desempenho dos examinandos em nada, mas absolutamente nada, depende da exacta formulação verbal das instruções do professor/vigilante/funcionário-mais-ou-menos-imbecil que as lê. Tudo o que ele e o sistema necessitam a esse respeito é da informação clara e objectiva das regras a cumprir, coisa que os professores sabem fazer desde que se fazem exames; isto é, há já muitos anos.
Ou será que um aluno deixa de saber multiplicar ou dividir porque o professor/vigilante/funcionário-mais-ou-menos-imbecil que leu as instruções disse ‘os cuidados a ter durante a prova são os seguintes:’ em vez de ‘passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova’? Bem, talvez tal se verificasse com as pessoas acima referidas. Ou talvez isso não seja assim, talvez haja aí é uma grande dose de desonestidade intelectual...
O que se lê em "Aspirina B" tresanda a ataque pessoal. Basta ver que o autor do texto se refere sempre a António Barreto como "O" Barreto.
É um artigo definido bem "definidor".
"Tudo o que ele e o sistema necessitam a esse respeito é da informação clara e objectiva das regras a cumprir, coisa que os professores sabem fazer desde que se fazem exames; isto é, há já muitos anos."
O problema está precisamente aqui. Ainda há professores que não conhecem nem gostam de aplicar as regras do ME, nestas e noutras situações semelhantes, nomeadamente de exames nacionais,quer do básico como do secundário, apesar da informação ser obrigatória para todos os intervenientes. Há sempre alguém que está contra os procedimentos e os boicota alegremente, outros nem querem saber da sua existência e passam à frente, outros gostam ainda de improvisar, etc. Mas isto é residual, tende a desaparecer, digo eu...
"De facto, digam o que disserem, voltámos ao fascismo."
Asa Negra,
Indique os factos que provam que "voltamos ao fascismo".
"Comenius" não leu o que escrevi nem o que "JCM" escreveu. Protegido por um anonimato rigoroso debita argumentos que não justificam minimamente o que pretendem justificar.
Estas iniciativas só dão mais força a Socras.
Acho que vou emoldurar o texto!
(Onde é que andam as cabeças pensantes e lúcidas e críticas deste país?)
Um aluno entrou de tal forma na onda da obediência que me perguntou se podia fechar a prova quando terminou a composição. Trite, muito triste.
Bem pior e por muito tempo.
Infelizmente, constato que a Sílvia e o AspirinaB enganaram-se na época: devem estar saudosos dos helicópteros de Pinochet de onde lançavam aos tubarões do oblívio Opinadores Divergentes do Dogma Socratinesco & da sua Sibila Profetisa Lurdes.
Parece que quanto mais horrendos, mais ofensivos, mais insultuosos, mais resilientes! Temos fractura, abuso de autoridade e torcionarismo moral nas Escolas como começo de conversa. Como os fascizóides dos denigridores não amouxam da sua paixão e dos seus cargos bem pagos com tempo para comentar blogues, isto só se corrigirá com bordoada e arruaça, mais tarde ou mais cedo.
Há um sorriso falsário por aí que julga ter o País 'by it's balls'. Veremos.
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