Os atentados de Bruxelas
trouxeram mais intranquilidade à Europa. E uma insegurança cada vez mais funda,
a tocar no coração e nos ossos. Foram feitas milhares de declarações. Até
agora, nada de novo. Mas três ideias merecem comentário. A primeira afirma que
o terrorismo veio para ficar. Não sei se é verdade ou não. Mas sei que recuso
admitir essa inevitabilidade. O Ocidente deve tudo fazer para erradicar o
terrorismo e eliminar os terroristas. Sem cedência! Se não nos resignamos à
ditadura, à desigualdade, à corrupção, à pobreza e ao analfabetismo, não vejo
razões para o fazer ao terrorismo, forma superior de selvajaria! Apesar das
declarações firmes, fica-se com a estranha impressão que os Europeus não
desejam combater os terroristas. Não digo que tenham medo, mas parece que se
resignam a viver com eles. Será que têm sentimento de culpa? Entenderão que os
terroristas têm uma qualquer razão? Por terem sido pobres há três gerações? Colonizados
há dois séculos? Derrotados há mil anos?
A segunda ideia sugere que o
terrorismo é provocado pelas condições sociais. Diz-se que onde há pobreza,
desigualdade e desemprego, há condições para surgir o terrorismo. Mais ainda
quando se acrescenta a segregação nacional: desempregados e imigrantes. Parece
que o terrorismo tem legitimidade social! Esta ideia é uma espécie de
ortodoxia. Mas, com o terrorismo islâmico, não resiste à análise. Na Europa, na
América e noutros continentes, não se conhecem terroristas nas comunidades
africanas, latino-americanas, chinesas ou indianas. Também não consta que os
bairros de pobres de Espanha, de Portugal, da Grécia e da Roménia sejam fonte
de terrorismo.
Uma terceira ideia sublinha, como
causa do terrorismo, a situação marginal em que vivem os imigrantes. A falta de
respeito pelas tradições dos povos imigrados, muito especialmente muçulmanos, conduz
ao sentimento de dignidade ferida, condição favorável à escolha da “carreira”
de terrorista como modo de afirmação do seu orgulho. Há mesmo quem aluda às
Cruzadas, ao colonialismo e à escravatura. Nada disto merece uma fracção de
segundo de reflexão. Estamos perante propaganda e demagogia para crentes. As
“feridas históricas” são argumentos baratos de oportunismo intelectual. Os que
acreditam nesta argumentação poderiam também esperar pelas 70.000 virgens. Há
dezenas de povos que foram vítimas do colonialismo e não se dedicam hoje ao
terrorismo. Há dezenas de povos que estiveram, ao longo da história,
sucessivamente dos dois lados, o dos que faziam escravos e o dos que eram
escravizados. Em todos conhecemos hoje os interesses, os meios, a vontade de
domínio e o desejo de independência. Isto é, a política! A história, em
qualquer caso, é sempre um belo argumento, nunca é a razão.
O terrorismo é essencialmente
gesto político e intenção política. A situação individual do terrorista é questão
menor. Os mandantes são políticos. Os meios, o “cérebro”, a organização e o
recrutamento são políticos, apoiados por Estados e redes poderosas de
organização. Mesmo os factores religiosos, tão importantes para o terrorismo islâmico,
são instrumentais. O espírito e o carisma servem ao recrutamento, mas a acção é
principalmente política.
Os países ocidentais têm culpa de
muitas coisas, mas o terrorismo, de que são vítimas, não é uma delas. O
terrorismo islâmico tem os seus responsáveis. São Estados, partidos e famílias.
Servem-se das condições existentes nos meios imigrados para recrutar soldados
rasos. Mas estes não são os responsáveis. Os bairros segregados fabricam terroristas,
não fazem o terrorismo. Já há quem diga que a culpa do terrorismo reside nas
políticas e nos governos da direita. Se de alguma coisa os governos europeus
são culpados será eventualmente de não ter melhores polícias. E de não ter mais
coordenação antiterrorista entre as várias polícias. Essas, sim, são culpas
nossas.
DN, 27 de Março de
2016
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