Quando muito parecia mostrar o
caminho de uma relativa acalmia, tudo se deteriorou. Poderia pensar-se que a
falta de dinheiro, a supervisão dos credores e a fiscalização das instituições
internacionais fossem sedativos para a rotação de cargos políticos e
empresariais. Também era legítimo imaginar que o elevado número de políticos,
altos funcionários, banqueiros e empresários condenados ou arguidos fosse um
dissuasor das manobras de nomeação de amigos e um travão nos circuitos da
promiscuidade. Além disso, as leis recentes e as funções da CRESAP (Comissão de
Recrutamento e Selecção para a Administração Pública) poderiam desempenhar um
papel moderador dos apetites políticos e partidários. Mas não! Desenganemo-nos.
As demissões e as nomeações
regressaram. Aliás, nunca tinham cessado. A promiscuidade voltou. O Carrossel recomeçou.
E vai durar o tempo que dure o governo e a legislatura. Como esta mudança de
governo e de maioria foi aparentemente mais radical do que as anteriores, é
possível que o movimento seja mais rápido. Nos dois sentidos. Da vida privada e
dos partidos para a Administração e as empresas públicas, por um lado. Do
governo, do Parlamento e da Administração para as empresas lucrativas, públicas
ou privadas, nacionais ou internacionais, por outro. Por obra e graça do
Governo, as nomeações de favor, de amigos, de camaradas e de convergência de
interesses já começaram, precedidas de ameaças e demissões vingativas. O
recrutamento, por empresas privadas, de antigos membros do Governo e de
deputados, começou também. São, aliás, primos direitos: a promiscuidade, o
nepotismo, a corrupção e o favoritismo.
Contra o Banco de Portugal e seu
Governador Carlos Costa, o Primeiro-ministro António Costa andou mal! Encoraja
a deslealdade, dá luz verde à quezília institucional, assim como dá cobertura
ao comportamento caceteiro de governantes e deputados. Contra António Lamas e o
CCB (Centro Cultural de Belém), o Ministro da Cultura João Soares esteve mal,
pior ainda com Elísio Summavielle. Na sua associação à financeira ARROW, a
actual deputada e antiga Ministra das Finanças Maria Luis Albuquerque esteve
mal, muito mal!
Parece pouco, mas não é. São três
exemplos, diferentes na forma, similares no ânimo, no cume das personalidades e
dos encargos. Daqui para a frente, poderá dizer-se que abriu a caça! Parece
novo, mas não é. Depois das PPP e das direcções-gerais, dos institutos e das
empresas de obras públicas, das estradas e das pontes, dos bancos a privatizar
e dos privatizados… Após as grandes empresas de energia, comunicações e
petróleos e dos grandes serviços públicos… Depois disto tudo, é um recomeço. Como
a caça, que abre regularmente.
Vai ser muito interessante ouvir
deputados e governantes alegar que o que fazem os seus amigos é legal e ético!
Enquanto as mesmas coisas feitas pelos seus adversários políticos não são uma
coisa nem outra. Vamos ouvi-los e vê-los torcerem-se pelos seus companheiros e
camaradas, elogiando as respectivas honras e excelsas virtudes, mas sempre
denunciando a ilegitimidade, a ilegalidade e a corrupção dos mesmos gestos e
comportamentos quando da autoria dos seus rivais. Vai continuar a ser
interessante ouvir António Costa acusar Passos Coelho que acusa José Sócrates!
Será curioso ouvir os actuais governantes e seus apoiantes acusar, com
fundamento, o governo social-democrata e popular das malfeitorias com o BANIF,
o BES, o BNP, as PPP e os SWAPS. Tal como será curioso ouvir os
social-democratas demonstrar, com provas, que foram os socialistas os culpados.
Não fazem as leis que deveriam fazer. Não respeitam as leis que fazem, nem a
moral que pregam. Como o carrossel, gira e volta e anda à roda!
DN, 6 de Março de 2016
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