Vem numa linha directa de
trapalhadas sucessivas. O BANIF, cujas acções, agora suspensas, valiam, durante
uns dias, 0,0006 cêntimos, parece ser apenas mais um tropeção bancário a
inscrever-se numa lista bem recheada e que inclui pelo menos o BPN, o BPP, o
BES, o NOVO BANCO e o BES Mau. A estes, talvez fosse justo acrescentar o BCP,
nos seus piores dias, aqueles em que o governo intervinha por intermédio da
CGD, com a ajuda de alguns dirigentes políticos e de bancários improvisados ou
capitalistas de passagem. Se olharmos para todos estes bancos, que em conjunto
representariam uma fatia excepcionalmente importante do sistema financeiro
português, veremos que pelo menos meia dúzia dos seus dirigentes se encontra
actualmente em situação delicada. Uns são arguidos, outros estão presos, quase
todos aguardam julgamento, outros ainda esperam por resultado do recurso. Ainda
hoje não sabemos sequer se serão julgados, muito menos se vai haver
prescrições. Mas certo é que são muitos os arguidos e os condenados.
No tempo dos governos de
esquerda, intervinha-se descaradamente nos bancos, nomeavam-se amigos e as
entidades públicas emprestavam dinheiro a indivíduos para especular e intrigar
em bancos privados. Nos tempos da coligação de direita, governo e Presidente da
República ofereciam aos depositantes e aos contribuintes garantias de confiança
que não souberam, não puderam ou não quiseram cumprir. Nos tempos de ambos,
esquerdas e direitas, os governos faziam o possível por mostrar que nada tinham
a ver com a banca, que era coisa dos accionistas, da União e do BCE. Ou do
Banco de Portugal, como se este fosse alienígena. E havia uma evidente
esquizofrenia. O governo intervinha e condicionava, mas dizia que nada tinha a
ver com isso. Os cidadãos, com receio de ter de pagar pelos desastres, queriam
que o governo interviesse e assumisse as suas responsabilidades. Esperavam não
ter de pagar as favas, isto é, ficarem os depositantes sem depósitos, os accionistas
sem capital e os cidadãos sem impostos.
O actual governo de esquerda está
evidentemente metido numa embrulhada de todo o tamanho. Já disse a todos que
podem ter calma e que não haverá sarilhos, maneira inconfundível de dizer que
vai haver. Já garantiu todos os depósitos dos clientes do BANIF. E já ameaçou
os accionistas e os contribuintes de que talvez tenham de pagar os estragos.
Como ser equitativo, isto é, como tratar de modo igual os accionistas, os
credores, os investidores e os depositantes de todos os bancos, é coisa que não
sabe nem calcula.
Há dez ou vinte anos que uma
grande parte da banca portuguesa, associada a uns punhados de políticos
trapaceiros, tem vindo a escrever uma das mais negras páginas da história
económica e financeira do nosso país. Quando terão os Portugueses direito a
saber tudo o que se passou nesta longa história bancária? Quando conhecerão,
com os nomes, os políticos responsáveis por esta inacreditável sucessão de
desastres? Quando saberão, nominalmente, quais foram os banqueiros, bancários e
capitalistas que tiveram directa intervenção, com eventuais ganhos, nesta trapalhada?
Quando será possível distinguir entre incompetentes e salafrários?
Este enorme sarilho, com pelo
menos três legislaturas e outros tantos governos, tem a assinatura de diversos
autores, banqueiros, capitalistas e dirigentes políticos de vários partidos.
Traduz um entrosamento de política e negócios inaceitável num Estado de Direito
e ameaçador da democracia. Transita e agrava-se de governo em governo. É uma
herança cada vez mais pesada. Passam os défices e os prejuízos, as perdas e os
desfalques, mas também as cumplicidades, a incompetência e a promiscuidade. Sem
ruptura e sem justiça, tudo ficará na mesma. Isto é, pior.
DN, 20 de Dezembro de
2015
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