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FOI APROVADO o Orçamento. Logo veremos, em 2009, a sua consistência e a adequação aos tempos de crise. O debate poderia ter sido um momento propício para uma reflexão séria sobre a crise internacional e nacional. Mas não foi. A chicana é hoje o supra-sumo do pensamento político e da retórica parlamentar. Ministros e deputados aos berros, troca de culpas e de acusações fúteis: o espectáculo não faz bem à cabeça de ninguém. Sobretudo à dos que lá estão. A superioridade moral da oposição é detestável. Uns disseram mesmo que a crise portuguesa é de exclusiva responsabilidade do Primeiro-ministro e do Governo! A auto-satisfação convencida do Governo é abominável. Nunca argumenta, decreta!
FOI APROVADO o Orçamento. Logo veremos, em 2009, a sua consistência e a adequação aos tempos de crise. O debate poderia ter sido um momento propício para uma reflexão séria sobre a crise internacional e nacional. Mas não foi. A chicana é hoje o supra-sumo do pensamento político e da retórica parlamentar. Ministros e deputados aos berros, troca de culpas e de acusações fúteis: o espectáculo não faz bem à cabeça de ninguém. Sobretudo à dos que lá estão. A superioridade moral da oposição é detestável. Uns disseram mesmo que a crise portuguesa é de exclusiva responsabilidade do Primeiro-ministro e do Governo! A auto-satisfação convencida do Governo é abominável. Nunca argumenta, decreta!
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O GOVERNO CONTINUA a distribuir Magalhães, na convicção, fingida ou não, de que com tal gesto está a estimular a alfabetização, a cultura, a curiosidade intelectual, o espírito profissional, a capacidade científica e a criatividade nacional. Será que nas áreas do governo e do partido não há ninguém que explique que isso não acontece assim?
Segundo a OCDE, o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta. Mais de um terço da população entre 18 e 24 anos não completou a escola e não frequenta cursos de formação profissional. Só 13 por cento da população activa adulta completou o ensino secundário e perto de 57 por cento apenas terminaram o primeiro ciclo do básico.
Ainda segundo a OCDE e um estudo de Susana Jesus Santos (do banco BPI), a distribuição dos tempos de aulas nas escolas, para alunos de 9 a 11 anos, mostra como a juventude portuguesa está orientada. Em Portugal, a leitura (e o português) ocupa 11 por cento do tempo de aulas. Na União Europeia, 25. Em Portugal, a Matemática ocupa 12 por cento. Na União Europeia, 17.
Que é que o Magalhães tem a ver com isto? Nada. Absolutamente nada!
Segundo a OCDE, o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta. Mais de um terço da população entre 18 e 24 anos não completou a escola e não frequenta cursos de formação profissional. Só 13 por cento da população activa adulta completou o ensino secundário e perto de 57 por cento apenas terminaram o primeiro ciclo do básico.
Ainda segundo a OCDE e um estudo de Susana Jesus Santos (do banco BPI), a distribuição dos tempos de aulas nas escolas, para alunos de 9 a 11 anos, mostra como a juventude portuguesa está orientada. Em Portugal, a leitura (e o português) ocupa 11 por cento do tempo de aulas. Na União Europeia, 25. Em Portugal, a Matemática ocupa 12 por cento. Na União Europeia, 17.
Que é que o Magalhães tem a ver com isto? Nada. Absolutamente nada!
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SEGUNDO OS TRABALHOS de rotina do INE e da União Europeia, o “clima económico” em Portugal nunca esteve, desde há dezoito anos, tão baixo como agora. Trabalhos semelhantes sugerem que as expectativas dos consumidores atingiram o mais baixo ponto desde há cinco anos.
O crescimento da economia e do produto tem vindo a diminuir todos os dias. Diminui na realidade dos factos, assim como nas estatísticas. O governo (o mais optimista...), o Banco de Portugal, a União Europeia, a OCDE e o FMI publicam regularmente as suas previsões para 2008 e 2009, baixando sempre as taxas estimadas. Em princípio, Portugal aproxima-se do zero e de taxas negativas (menos 0,2 por cento em 2009, por enquanto...) Há praticamente oito anos que o país tem visto aumentar o atraso relativamente às médias europeias.
O crescimento da economia e do produto tem vindo a diminuir todos os dias. Diminui na realidade dos factos, assim como nas estatísticas. O governo (o mais optimista...), o Banco de Portugal, a União Europeia, a OCDE e o FMI publicam regularmente as suas previsões para 2008 e 2009, baixando sempre as taxas estimadas. Em princípio, Portugal aproxima-se do zero e de taxas negativas (menos 0,2 por cento em 2009, por enquanto...) Há praticamente oito anos que o país tem visto aumentar o atraso relativamente às médias europeias.
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O DESEMPREGO A SUBIR e a atingir níveis desconhecidos há anos. A prometer ainda mais nos próximos tempos. Mais uma vez, os números são controversos: Governo, INE, Banco de Portugal, OCDE, UE e CGTP oferecem estimativas diferentes. Mas num só sentido: desemprego a aumentar.
O endividamento público líquido é de mais de 140 mil milhões de euros, muito perto dos 100 por cento do produto. Só os juros anuais pagos por essa dívida serão de cerca de 8 mil milhões de euros. Talvez 6 por cento do produto.
O défice orçamental ultrapassou as previsões, assim como as metas nacionais e europeias, tendo agora o governo de, ao contrário do que sempre afirmou, recorrer a receitas extraordinárias, no valor de mil milhões de euros, para respeitar o patamar imposto de 2,2 por cento.
O défice da Caixa Geral de Aposentações (funcionários públicos e equiparados) será, em 2008, superior a 3 mil milhões de euros, cerca de 2 por cento do produto. Era, em 2005, de 1,5 mil milhões.
O endividamento público líquido é de mais de 140 mil milhões de euros, muito perto dos 100 por cento do produto. Só os juros anuais pagos por essa dívida serão de cerca de 8 mil milhões de euros. Talvez 6 por cento do produto.
O défice orçamental ultrapassou as previsões, assim como as metas nacionais e europeias, tendo agora o governo de, ao contrário do que sempre afirmou, recorrer a receitas extraordinárias, no valor de mil milhões de euros, para respeitar o patamar imposto de 2,2 por cento.
O défice da Caixa Geral de Aposentações (funcionários públicos e equiparados) será, em 2008, superior a 3 mil milhões de euros, cerca de 2 por cento do produto. Era, em 2005, de 1,5 mil milhões.
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OS ÚLTIMOS NÚMEROS disponíveis revelam que a emigração portuguesa retomou e faz agora lembrar alguns anos da década de sessenta. Nessa altura, a emigração era muita, mas o crescimento económico também. Hoje, a emigração é grande, mas o crescimento económico estagna. Calcula-se em cerca de 60.000 a 70.000 o número de portugueses que vão trabalhar para Espanha todos os dias ou todas as semanas, além de dezenas de milhares que já se estabeleceram definitivamente no país do lado. Com a crise económica espanhola, esperam-se tempos difíceis.
O número de imigrantes estrangeiros em Portugal está a diminuir e muitos dos que aqui viveram uns anos já se foram embora. O problema é que não são substituídos: ou não deixam postos de trabalho vagos, porque estes são extintos, ou não há portugueses que queiram ocupá-los.
As estatísticas demográficas continuam a revelar números que nos obrigariam a reflectir, mas essa não parece ser uma inclinação das autoridades. O número de óbitos já é superior ao número de nascimentos. O envelhecimento é muito rápido. A esperança de vida cresce. O número de pessoas com mais de 65 anos já é muito superior ao de jovens. E não se trata apenas de um problema de força de trabalho. Os gastos com as reformas e pensões aumentam na vertical. Mais: os custos da saúde e dos cuidados com idosos em dependência, nos últimos três ou quatro anos de vida, são iguais a toda a despesa verificada durante os 60 ou 70 anos de vida. É lógico, natural e assim terá de ser, mas a pressão criada sobre as finanças da segurança social é enorme.
Esta semana, em Viseu, numa conferência organizada pela Associação Portuguesa de Seguradores, Eugénio Ramos, especialista em questões da segurança social, resumiu em poucas palavras o que nos espera: “Vamos viver mais, trabalhar mais e ganhar menos”. Disto, o orçamento não fala. Nem o Parlamento.
O número de imigrantes estrangeiros em Portugal está a diminuir e muitos dos que aqui viveram uns anos já se foram embora. O problema é que não são substituídos: ou não deixam postos de trabalho vagos, porque estes são extintos, ou não há portugueses que queiram ocupá-los.
As estatísticas demográficas continuam a revelar números que nos obrigariam a reflectir, mas essa não parece ser uma inclinação das autoridades. O número de óbitos já é superior ao número de nascimentos. O envelhecimento é muito rápido. A esperança de vida cresce. O número de pessoas com mais de 65 anos já é muito superior ao de jovens. E não se trata apenas de um problema de força de trabalho. Os gastos com as reformas e pensões aumentam na vertical. Mais: os custos da saúde e dos cuidados com idosos em dependência, nos últimos três ou quatro anos de vida, são iguais a toda a despesa verificada durante os 60 ou 70 anos de vida. É lógico, natural e assim terá de ser, mas a pressão criada sobre as finanças da segurança social é enorme.
Esta semana, em Viseu, numa conferência organizada pela Associação Portuguesa de Seguradores, Eugénio Ramos, especialista em questões da segurança social, resumiu em poucas palavras o que nos espera: “Vamos viver mais, trabalhar mais e ganhar menos”. Disto, o orçamento não fala. Nem o Parlamento.
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Apostila: O julgamento dito da Casa Pia chega ao fim. Cada um terá a sua ideia. Não deve haver um português que não tenha uma certeza sobre os eventuais culpados e inocentes. Veremos brevemente o que pensam os juízes. De qualquer modo, é com tristeza que se verifica que o principal culpado nunca foi julgado e nunca o será. Refiro-me à Casa Pia, como instituição. A muitos dos seus dirigentes. A vários dos ministros, secretários de Estado e Directores-gerais que exerceram a tutela. É sabido que algumas dessas pessoas tiveram informações sobre o que se passava, mas não quiseram saber ou não puderam agir. Parece mesmo que alguns arquivaram informações e relatórios. Por outro lado, a estrutura, o modo de organização, a dimensão e o espírito daquela casa deveriam ser discutidos e postos em causa. A Casa Pia deveria, creio, ter sido extinta. E os seus alunos distribuídos por várias instituições. Quando se pode extinguir o Inferno, não basta condenar alguns diabos.
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«Retrato da Semana» - «Público» de 30 de Novembro de 2008
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«Retrato da Semana» - «Público» de 30 de Novembro de 2008
34 comentários:
Vou ter de sair, mas deixo aqui uma questão muito rápida sobre o abandono escolar.
Sendo a escolaridade obrigatória em Portugal a frequência de um estabelecimento de ensino até aos 15 anos de idade, é um pouco paradoxal falar-se em abandono escolar de jovens a partir dos 16 anos.
Tal implica a fabricação de estatísticas de abandono escolar altas em Portugal que não correspondem ao quadro legislativo em vigor. Seria interessante contabilizar o "abandono efectivo", de acordo com a definição de escolaridade obrigatória.
Dr. António Barreto
Em relação aos tempos lectivos dos alunos falta-lhe uma informação muito preciosa.
Até ao 3.º ciclo do ensino básico, os alunos portugueses têm menos horas a lingua materna, matemática (e também a humanidades...).
Mas têm muito mais tempo que os seus pares da OCDE nas áreas curriculares não disciplinares, como Estudo Acompanhado, Área de Projecto e Formação Cívica.
Como se tem visto pelos estudos internacionais, o resultado destas tretas inventadas pelas luminárias da Avenida 5 de Outubro tem sido excelente...
Mário
Cara Brit Com,
Fui rever o texto, depois da sua observação. Na verdade, o que lá diz é que a taxa se refere a esse grupo etário que não completou... O que não quer dizer que abandonaram depois dos 16 anos. Terão pois abandonado antes. Esses números vêm tal e qual no trabalho da OCDE (retomados também, sob forma ligeiramente diferente, por El Pais.
Concordo consigo que também será útil (e não apenas...) calcular o abandono em grupos etários mais jovens, isto é, "em cima" do acontecimento.
Caro Mário Rodrigues,
Tem toda a razão. Não quis acrescentar dados, pois o espaço nesta coluna é sempre curto. Mas posso dizer-lhe agora que o item "Outras", que inclui a Área Projecto e outras invenções, representa, para Portugal, 20 por cento do tempo de aulas e, para a média da UE, 5 por cento!
Sou professora interlocutora em matéria de abandono e absentismo escolar e o ME manda contabilizar como abandono escolar todos os alunos que deixem a escola sem concluir o ensino seundário, quando a escolaridade obrigatória é de 15 anos de idade. Portanto deverão ser essas as estatísticas que cita e indica nos seus estudos. Não sei se o estudo da OCDE teve isso em conta, mas mais de 30% de abandono no quadro da nossa escolaridade obrigatória (15 anos de idade) parece-me bem exagerado... são mais de 30 alunos em cada 100. Já se entendem esses números se tiverem sido contabilizados os alunos que não seguiram para o ensino secundário.
Cara Brit Com,
Amanhã vou verificar os números. Mas, para já, creio que você deve ter razão. Isto é, o mais provável é que esses 30 por cento de jovens que não completaram sejam os que não completaram o secundário. Assim sendo, devemos tomar esses números pelo que são, não pela referência à escolaridade obrigatória. De qualquer maneira, serve para comparar com os outros da UE. Do ponto de vista formal e legal, essa taxa de 36 por cento não corresponde ao enquadramento legal. Do ponto de vista essencial (a realidade social), o resultado é esse: mais de um terço não completa o secundário. Do modo que escrevi ("completar a escola"), estava a pensar nisso, não apenas na básica.
Ok. A minha única questão é o uso do termo "abandono escolar". Outra coisa é o termo "não completar o ensino secundário". Mesmo assim não serve de comparação, se os países com os quais nos comparamos têm a escolaridade obrigatória até aos 18 anos de idade...
Pois é certo que, se no nosso país fosse obrigatória até aos 18, haveria automaticamente uma redução significativa da taxa referida.
Doutor António Barreto
Na sequência do diálogo estabelecido com brit com venho acrescentar ainda mais o seguinte: de acordo com os parâmetros estabelecidos para o abandono escolar contidos na avaliação dos professores (não esqueça que este parâmetro foi asuspenso pelo ME APENAS para a avaliação deste ano lectivo - se for avante) a idade limite para considerar abandono escolar foi estabelecida aos 21 anos!!!
Se algum filho meu estivesse na escola, fosse maior de 18 anos e encontrasse trabalho, e para ele desejasse ir, se a escola o retivesse, poderia ter a certeza que processaria o ME se não por sequestro, por retenção contra sua vontade!
Mais, meu caro! Sabe bem que a escolaridade OBRIGATÓRIA está estabelecida pela LBSE no 9º ano. Daí que se um aluno não pretender continuar na escola por sua vontade ou de seus progenitores, ninguém o pode forçar a tal! Já cumpriu o que a lei determina e a mais ninguém é obrigado!
Esta mania das comparações com o estrangeiro faz-nos fazer figuras tristes...
Quanto ao resto, à valia efectiva de um 9º ano, em termos de aquisição de conhecimentos (e não "competências" - moda ridícula e abstrusia que nada significa) é um outro assunto que mereceria um debate amplo.
Saudações
Não nos podemos equiparar aos "ricos" da OCDE no que diz respeito à educação (e não só). Temos uma história recente de analfabetismo que nos obriga a um esforço extraordinário de aprendizagem e humildade. Temos de reconhecer que ainda temos um longo caminho a percorrer para nos colocarmos em pé de igualdade com os mais "ricos" da OCDE. Ainda há muito a fazer e este governo está a dar um bom
contributo nesse sentido. Quem não reconhecer isto não é um bom patriota.
Acho estranho que uma professora não saiba ao certo o que quer dizer "abandono escolar" no contexto educativo actual. Isto parece reflectir bem a ignorância dos profs em relação ao espírito dos normativos e à missão da escola pública portuguesa. Quando um aluno frequenta o 10º ano de escolaridade, por exemplo, e resolve abandonar a escola, obviamente que estamos perante um caso de abandono escolar, até porque há alternativas ao ensino regular nessa mesma escola, e compete à escola e seus professores, no âmbito do seu projecto educativo, criarem condições para que aquele aluno adquira o máximo de competências possível no ensino secundário. Não é, pois, por acaso que o ME obriga as escolas a definirem metas para travar o insucesso e abandono escolar.
Compreendo muito bem a razão pela qual António Barreto opina com desdém, aqui e noutros lugares, sobre o computador Magalhães e a política de Sócrates. Cá para mim,a razão é esta: ambos são jovens e passam bem ao largo de António Barreto.
Mas continuo a beber à saúde dos livre-pensadores da nossa praça,como AB,imprescindíveis à nossa sociedade e democracia. E, desta vez, brindo com um vinho do Porto muito especial.
Cara Sílvia,
Sou, no meu agrupamento de escolas, professora interlocutora em matéria de abandono e absentismo escolar, trabalhando no terreno e em etreita colaboração com a CPCJ.
Sei exactamente o que quer dizer abandono escolar: abandonar a escola antes de terminar a escolaridade obrigatória. A escolaridade obrigatória em Portugal termina aos 15 anos de idade. A partir daí o aluno é livre de seguir o percurso que pretender (salvaguarda a legislação que regulamenta o trabalho infantil). Nada o obriga a continuar a frequentar a escola.
Sugiro-lhe a leitura da LBSE e legislação complementar.
Posto isto um aluno que termina o 9º ano com 15 anos de escolaridade e que decide não optar pelo prosseguimento de estudos legalmente não está a abandonar a escola.
Outra questão é mais um dos famosos despachos ou coisa afim do ME decidir que afinal o abandono escolar é aquele em que um aluno decide não continuar os seus estudos entre as idades de 16 e 21 anos. Relembro-lhe, caso não saiba, que um despacho ou afins não se sobrepõem a uma Lei Geral.
Pegando no seu exemplo "Quando um aluno frequenta o 10º ano de escolaridade, por exemplo, e resolve abandonar a escola, obviamente que estamos perante um caso de abandono escolar", posso assim retribuir-lhe o elogio da ignorância, pois não estamos perante um caso de abandono escolar, mas sim perante uma não continuidade para o completamento do ensino secundário.
Já agora sabia que a legislação que tornaria a nossa escolaridade obrigatória até aos 18 anos, intenção do governo de António Guterres, foi entretanto enfiada nas gavetas? A única razão que vejo para tal é mais uma das medidas econimicistas a que tanto nos habituraram: Faça a conta aos professores que o ME teria de contratar para tal. Ou quer argumentar que não seria positivo o aumento da escolaridade obrigatória em Portugal?
Ainda em nota final a esta sua afirmação:
"Ainda há muito a fazer e este governo está a dar um bom
contributo nesse sentido. Quem não reconhecer isto não é um bom patriota."
Pois eu acho que este governo deu o melhor contributo que poderia dar para destruir o ensino em Portugal. Não vale aqui a pena explicar-lhe porquê, até porque sou uma ignorante, mas talvez ainda saiba o suficiente para lhe aconselhar a leitura do "1984" ou de "O Admirável Mundo Novo". Não lhe direi quais são os autores, pois acho que precisa de treinar um pouco as suas competências de pesquisa...
Com cumprimentos
Correcção: "em estreita colaboração"
Para desalinhar, sou contra o aumento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano. Não são assim tantos os países onde isso acontece. Por exemplo, na Finlândia só vai até ao 9.º ano.
O que ganharia o país com essa medida?
Nada, apenas mais indisciplina no ensino secundário, mais alunos com vontade de aprender a serem prejudicados por desordeiros nas politicamente correctas turmas heterogéneas e a definitiva massificação das escolas secundárias públicas que ainda vão merecendo a confiança da classe média-alta.
E continuaria a existir abandono escolar.
Sou professor.
Nasci num país onde a escolaridade obrigatória era, e continua a ser, até aos 18 anos. O que ganharia o país? Muito, se quisesse.
Mas também reconheço que antes disso não seria pior tratar da rede pré-ecolar em 1º lugar.
Em acrescento ao meu post anterior:
Não acha ilógico a escolaridade obrigatória ser até aos 15, mas só se poder trabalhar a partir dos 18?
Dr António Barreto,
També fui rever o texto, que diz o seguinte:
"Segundo a OCDE, o abandono escolar na União Europeia foi, em 2007, de cerca de 15 por cento. Portugal, com 36,3 por cento, tem a taxa mais alta."
Ainda mais uma questão para o Daniel: Acha então que também não valeu a pena ter-se instituído a 4ª classe como obrigatória? Que essa escolaridade depois tenha sido alargada para o 6º ano? Que depois foi alargada para o 9º?
Ignorância e arrogância impedem um professor de o ser.
Concordo consigo, Sílvia.
Por isso espero bem que não seja professora.
Com cumprimentos
Caros correspondentes Brit Com, Silvia e outros,
Há por aqui uma polémica que só tem sentido em parte.
Vamos admitir duas coisas. Primeira: a definição formal e legal de abandono diz respeito aos que sairam do sistema educativo antes de acabar a escolaridade obrigatória e entre os limites etários correspondentes. Posso ter sido culpado de falta de precisão nas linhas que escrevi. Este critério é importante, porque formal e permite comparações, além de que aponta para as obrigações do Estado e dos pais, assim como para a organização da escola.
Segunda: esse critério é limitado e não traduz a realidade das coisas actuais. Um jovem com 16 anos que completa o básico e não prossegue estudos, não abandona legalmente, mas abandona realmente os estudos que poderia fazer durante pelo menos mais três anos. Ou mais. E para a vida real e social este critério é importante. Para mim é o mais importante.
Reparem que na maior parte dos países europeus (talvez todos? Não sei) o secundário começa mais cedo e tem duração superior. Por isso, nas comparações europeias e internacionais (para mim sempre preciosas, mesmo se devem ser ponderadas) há sempre essa imprecisão. Na UE, quem sai do sistema aos 15 anos, já está a abandonar o secundário quase a meio...
Finalmente e para que conste: sou favorável à escolarida obrigatória de 9 anos e também à futura de 12 anos. Não que hoje seja muito importante (o facto de ser obrigatória), mas implica deveres para as escolas e os orçamentos, assim como para os pais mais renitentes. Estes são hoje, creio uma minoria. Quando se "inventou" a escolaridade obrigatória, era sobretudo nos pais que se estava a pensar. Hoje, a escola é cada vez mais um direito social e cada vez menos uma obrigação...
Por acaso fui dos primeiros a ser abrangido pela nova lei de bases da educação, no final dos anos 80.
Vamos obrigar os alunos a estudar quando eles não querem?
E em que ofertas formativas vão ser integrados?
Podem começar a trabalhar com 16. Tal como casar, procriar, etc. Não faz sentido obrigá-los a andar na escola até aos 18.
A ser assim as escolas secundárias ficariam cheias de alunos de 19/20/21 anos.
Dr António Barreto,
percebi perfeitamente, após o seu segundo comentário, a distinção que faz entre o abandono legal e o abandono "social".
Pela minha parte só quis deixar esclarecida que havia efectivamente essa diferença e que as estatísticas têm de seguir determinadas regras de realização.
Quanto à Srª Sílvia, respondi-lhe simplesmente às acusações que fez, em particular, à minha "ignorância" sobre o conceito de abandono escolar e, em geral, aos 120000 professores que se manifestaram, mostrando a sua discordância face às políticas educativas. Pelos vistos somos todos anti-patriotas.
Peço desculpa por ter "invadido" esse seu espaço com a resposta à SrªSílvia, mas é do meu género ser directa e frontal.
Cara Brit Com,
Não tem nada que pedir desculpa. Esta conversa e estas polémicas servem para alguma coisa. Quem não quer ver o seu "blogue" ou "espaço" invadido, não faz um blogue ou simplesmente bloqueia as entradas. Só lhe peço que continue quando quiser...
Daniel,
Devo um pedido de desculpas e a respectiva rectificação. Efectivamente o trabalho é autorizado a maiores de 16 anos, desde que concluida a escolaridade obrigatória e desde que haja autorização dos seus representantes.
Para ajudar a senhora professora a entender o conceito de abandono escolar, eu acrescento mais um exemplo. Aqui vai. Imagine que tem uma aluna de 16 anos de idade a frequentar o 8º ano de escolaridade e que resolve abandonar a escola sem ter, assim, concluído o 3º ciclo do ensino básico. Este caso é ou não é um caso de abandono escolar?
Guterres lançou boas sementes no campo da educação, com a colaboração de pessoas que hoje se encontram ao serviço do ME. Hoje, chegou-se à conclusão que já não é necessário implementar a obrigatoriedade da escolaridade até aos 18 anos de idade. E sabe porquê? Bem, em primeiro lugar, porque não somos ricos e depois, se consultar as estatísticas, verá que o número de estudantes no ensino secundário aumentou significativamente, com ou sem a inclusão dos cursos profissionais.Como deve saber, os cursos profissionais oferecem uma boa alternativa ao prosseguimento de estudos, daí a procura.
Vou repetir mais uma vez e é a última, Srªa Sílvia: A escolaridade obrigatória é até aos 15 ANOS DE IDADE, não até ao 9º ano. Portanto LEGALMENTE, e repito, LEGALMENTE, não é abandono escolar e como tal não deve contar para as estatísticas de abandono escolar. Outra coisa é contar para as estatísticas de não conclusão de um certo ciclo de ensino.
Apenas para recentrar a questão no seu verdadeiro ponto!
A "guerra" ao abandono escolar não é mais que a "guerra" aos verdadeiros números do desemprego!
Manter os "putos" na escola o mais tempo possível (não interessa o que aprendam, o que é preciso é que lá andem) é simplesmente para esconder os números desastrosos do desemprego que surgiriam!
Não há "bondades" que apregoem que não tenham segundo sentido. O importante com o que este e outros governos se deviam preocupar é a qualidade do ensino, os conhecimentos adquiridos, a verdadeira formação (pessoal, técnica, social, etc.) dos alunos.
Isso não é preocupação!
Como deixei subentendido em comentário anterior, onde está o livre arbítrio, que é o direito sagrado de cada um escolher o que pretende? Os governos actuais (sejam o português ou outro) escondem mais do que mostram; mentem mais do que falam verdade; propagandeiam mais do que fazem. Em suma, publicidade enganosa...
São governos que vivem de aparências, do engano, da dissimulação, da mentira... E o "Zé", que na sua maioria, não tem capacidade para ir além da evidência mais que evidente (e quantas vezes falsa) acredita.
Assim como acreditam todos aqueles que de boa fé, ainda seguem de forma acrítica os líderes políticos, não tendo nada a ganhar e não fazendo parte do "inner circle" do poder.
A senhora professora não precisa de me gritar aos ouvidos porque eu já percebi que a senhora tem um conceito bastante estreito de abandono escolar. Quanto mais escreve, mais se lhe reconhece a ignorância nesta matéria.
Caro touaki,
Essa teoria é tão velha como reaccionária e quem a defende revela ignorância dos princípios e valores da escola pública.
Já reparou, Srª Sílvia, que, em cada comentário que faz, chama ignorante a alguém?
Como sou professora estou habituada a explicar as coisas vezes sem fim:
Eu não apresentei o meu conceito de abandono escolar. Apresentei o conceito legal de abandono escolar.
Se o acha "estreito" deverá escrever ao ME (aquele tal que acha que está a fazer um bom trabalho) para o alargar, que essa decisão cabe mesmo a eles.
Tomei conhecimento deste seu blog, por outro artigo e desde já o felicito por mais um espaço de troca de ideias. Também tenho este vício da blogosfera, virei aqui mais vezes.
Srª Sílvia
Do alto de sua tão ilustre sapiência espero que saiba conjugar o verbo ignorar.
Se não se lembra comece pelo presente do indicativo e não saia da primeira pessoa do singular até interiorizar bem a mensagem...
Aqui vai:
Brit tu és ignorante,
A Silvia é ignorante,
Touaki e a ministra, vós sois ignorantes,
O Sócrates e os políticos são ignorantes.
Já está.
lolololololol
Li o post e li os comentários que se lhe seguiram.
Concordo com muito do que aqui foi dito e vi bem rebatido muito daquilo que li e com que não concordei.
Adiante, pois: Parece-me que a discussão que sobreveio a determinada altura -o alargamento da escolaridade obrigatória- necessita de uma discussão muito ampla. Uma das questões desta discussão deve passar pelo equacionar de níveis diferentes de exigência no ensino público de acordo com a capacidade dos alunos. Sem medo ao 'medo ao elitismo' que o Estado Novo nos arreigou, e sem respeito ao pedagogês que, sob a forma de portarias e despachos avulsos têm envenenado a eficiência das escolas e a auto-estima dos professores, devemos olhar para os sistemas francês, alemão e holandês, por ex:... e equacionar a possibilidade de adequar a oferta educativa às necessidades dos alunos e às necessidades do País.
Sem mais assunto, um abraço,
Francisco Nunes
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