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A RECUPERAÇÃO DO CHIADO teve boas e más soluções. Mas o problema não é apenas, nem sobretudo, o do gosto. É o do ambiente geral que se vive no centro da cidade. A noite do Chiado é de abandono, a sugerir um princípio de vida marginal. Ao fim-de-semana, a “cena” repete-se. Como, aliás, em grande parte da Baixa pombalina. O que se passa neste centro histórico é lamentável.
As causas têm de ser encontradas em questões mais gerais: a lei das rendas, a especulação, os horários dos comércios, o privilégio aos centros comerciais, a prepotência camarária... Tudo foi muito mais grave do que o incêndio!
Daqui a vinte anos, gostaria de ver um Chiado com residentes, rendas livres, mais emprego, divertimentos e comércio aberto dia e noite”.
As causas têm de ser encontradas em questões mais gerais: a lei das rendas, a especulação, os horários dos comércios, o privilégio aos centros comerciais, a prepotência camarária... Tudo foi muito mais grave do que o incêndio!
Daqui a vinte anos, gostaria de ver um Chiado com residentes, rendas livres, mais emprego, divertimentos e comércio aberto dia e noite”.
«Expresso» de 23 de Agosto de 2008
11 comentários:
Apesar de tudo, o Chiado ainda consegue ser menos confrangedor do que a Rua Augusta, tal-como-ela-está-agora.
A meu ver, merece uma boa reportagem fotográfica e uma descrição realista e reflexiva sobre "a(s) causa(s) desta(s) coisa(s).
Lojas fechadas ao longo de toda a rua, mas fechadas quse diria maldosamente, tal o aspecto de incúria e decadência que provocam.
Interrogo-me:
1.faltarão leis que, de facto, protejam o espaço público e obriguem os privados a respeitá-lo?
2.existe legislação mas não é cumprida?
3.creio que exite legislação para punir com cóimas os promotores de espectáculos e outros eventos, quando a publicidade a este é colada em paredes, caixas de electricidade, etc.
E?
Por mais participativo que o cidadão seja, esbarra sempre na indiferença, na falta de resposta, ou, o que é pior, numa resposta "chapa 3" a bugalhos, quando perguntamos por alhos.
Obrigada por partilhar o seu saber clarividente connosco.
Cara Odete Pinto,
Obrigado pelo seu comentário. Subscrevo as suas perguntas e as suas dúvidas. Quando procuramos perceber, encontramos sempre, como você diz, uma lei "perfeita", mas que ninguém cumpre, uma autarquia indiferente, uma Câmara que não dá o exemplo e um poder político que deixou construir centenas de Centros Comerciais dentro das cidades. Mas também cidadãos que não se preocupam, sindicatos que fazem tudo para manter os comércios fechados, comerciantes que não querem pagar horas extraordinárias ou nem sequer abrir aos fins de semana ou à noite, pessoas que sujam a cidade e gente que estraga e pinta as paredes... Até de monumentos!
Eu não gosto muito de dizer, como se faz frequentemente em Portugal, "somos todos culpados", pois é a melhor maneira de diluir as responsabilidades. Mas é certo que as responsabilidades são muitas.
Do lado do poder, diz-se com frequência que "Lisboa está suja porque os cidadãos a sujam". Mas eu prefiro dizer que os cidadãos sujam Lisboa, porque as autoridades não limpam... O exemplo, bom e mau, vem de cima!
A propósito de Lisboa, aconselho toda a gente a espreitar o "blogue" LISBOA SOS... Está ali um retrato aterrador! Mas verdadeiro.
Caro Dr. António Barreto
Muito obrigada pela sua resposta.
Se quiser e puder, passe pela Rua Augusta e veja com os seus olhos a decadência.
Sou leitora do S.O.S. Lisboa, bem como de outros blogues sobre Lisboa.
Quero até enviar para o S.O.S. Lisboa umas fotos que tirei duma construção enormíssima, no bairro de Sta. Cruz de Benfica, e que há mais de 10 anos está esventrada, vandalizada, servindo de antro ao que se sabe.
À espera de decisão do tribunal.
Os moradores do bairro sofrem as consequências.
Embora resida em Alfragide, vou ali com alguma frequência e não consigo deixar de me indignar.
Respeitosos cumprimentos.
Efectivamente houve erros no Chiado e oportunidades perdidas, mas, mesmo com erros e falhas o Chiado ressurgiu, está na moda, tem comércio vibrante, tem sempre gente, é disputado por marcas nacionais e internacionais, tem um mini centro comercial que atrai muitas pessoais sem ser opressivo.
O metro deu o impulso necessário a uma grande afluência de pessoas e a saída da estação é no único sitio onde havia espaço e ainda permite ter escadas rolantes da baixa para o Chiado.
A habitação é cara mas é um mero reflexo de uma zona mais vibrante.
A Baixa morreu porque se calhar não teve intervenção á altura.
Os dois barros estão interligados mas tratam-se de duas entidades bem diferentes, como sempre o foram, seja pelo comércio, pelo tipo de habitação, pela vivência.
Podem enquadra-se no mesmo plano e beneficiar de medidas de interligação e até beneficiar das potencialidades do outro, mas tratam-se de realidades completamente diferentes, seja antes ou depois do incêndio.
O arquitecto, obviamente, que tem responsabilidades mas apenas pode condicionar as dinâmicas de uma cidade e nunca sobrepor-se a elas. A não ser que se trate de uma zona completamente nova, sem passado e construída de raiz. E mesmo aí, pode ganhar uma vida que não fora prevista pelo arquitecto.
A questão do estacionamento é controversa. Não me parece que o arquitecto tenha feito um erro descomunal. O Chiado é servido por 3 parques de estacionamento subterrâneo que apenas enchem ao sábado e ás vezes á sexta, devido ao movimento do Bairro Alto.
Quanto há habitação a preços económicos a responsabilidade não é do arquitecto, mas de quem gere a cidade. Recordo que muitos imóveis foram reabilitados no Chiado e Bairro Alto, com objectivo de albergar rendas económicas e para jovens, mas a CML rapidamente as colocou do mercado para venda livre ou para as “sortear” com critérios pouco conhecidos
Acresce que a dinâmica da cidade supera todo o planeamento. Hà zonas de gradadas que rapidamente são tomadas por classes mais altas, devido á dinâmica crescente da zona. Veja-se Santos e Chiado. Outras zonas construídas para classe média ou média alta, por vezes são tomadas por classes mais baixas e logo por preços mais baixos, porque a dinâmica da zona foi pobre
O Chiado foi vítima do seu sucesso.
O municipio tem obrigação de controlar este tipo de situações, mas a verdade é que, em Lisboa não controla.
A Baixa não está morta, mas está a morrer e concordo que os proprietarios estão de mãos e pés atados devido ao congelamento de rendas.
Quanto a parques de estacionamento na Baixa, recordo que existem dois – Praça da Figueira e Restauradores, sendo a zona servida de eléctricos, metro e autocarro. Outro parque de estacionamento? Era isso que faria o sucesso da Baixa? Não! A Baixa foi morrendo, mesmo quando se construíram os outros parques, introduziu-se o metro e os electrivos. A questão é mais profunda e não se resolve com o privilégio aos carros.
Acredite que quem quer morar na Baixa não desiste de o fazer por causa do estacionamento. È por outros factores.
O projecto de reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 não está terminado. Foi genial. Mas tem 250 anos.
A meu ver, mesmo com problemas, há que replicar o CHiado na Baixa e passa, sem margem para dúvidas e em primeiro lugar pela recontsrução dos edifícios, com cuidados, mantendo a traça, a estrutura interna e dotando-os de comodidades modernas.~
O comercio de qualidade, a habitação (mesmo que cara) e adinâmica, virão depois.
Antes disso, não vale a pena discutir estacionamentos e transportes...
Quanto aos edifícios da zona destruída pelo fogo, são praticamente iguais aos anteriores e à construção pombalina.
Quanto ao estacionamento, existem no Chiado 3 enormes parques de estacionamento (Lg do Camões e Lg do Carmo e Praça do Município)
Efectivamente lojas com falsa fachada foram um desastre, mas representam uma pequeníssima parte do total das lojas daquela zona (alias, resumem-se apenas a um prédio).
Mesmo aquelas que estão nos pátios, o seu fracasso deve-se mais á má estratégia (ou falta dela) comercial dos donos da lojas do que do arquitecto. Aqueles espaços eram logradouros não aproveitados e hoje são espaços públicos lindíssimos.
O facto de os apartamentos serem caríssimos, a culpa é do mercado não do arquitecto. A não ser que se fizesse um bairro social. Depois queria ver que comércio é que ia para ali.
E mal ou bem, o Chiado é disputado por marcas nacionais e internacionais.
Num país em que o comércio apenas inova nos centros comerciais, este é um ponto positivo.
O Chiado, neste momento, é a continuação da Avenida da Liberdade, em termos de coomércio de qualidade, menos institucionais e mais criativo e fora do mainstreem. Aqui competem as marcas a ver quem é o mais criativo e inovador.
Um bom prenúncio para um cluster de turismo cool, em conjunto com o Bairro Alto, que tem vindo a ser noticiado em muita imprensa estrangeira.
Não é tudo, mas já é qualquer coisa.
Daqui a 20 anos? Que idade terá AB daqui a 20 anos? Desejo de verdade que consiga ver isso tudo.
Daqui a 20 anos? Que idade terá AB daqui a 20 anos? Desejo de verdade que consiga ver isso tudo.
Daqui a 20 anos? Que idade terá AB daqui a 20 anos? Desejo de verdade que consiga ver isso tudo.
Daqui a 20 anos? Que idade terá AB daqui a 20 anos? Desejo de verdade que consiga ver isso tudo.
Daqui a 20 anos? Que idade terá AB daqui a 20 anos? Desejo de verdade que consiga ver isso tudo.
(peço desculpa pela repetição involuntária).
Já agora, uma explicação: eu também não vou para novo...
(...) enfim, de certa forma, o Chiado continua a arder, em combustão lenta, silenciosa, bem como a maioria da Lisboa antiga, tal como a conhecemos.
O problema não será desta zona em particular (talvez a menos problemática de todas, atendendo à sua localização, transportes e... história, ou o Chiado não fizesse parte da memória colectiva) mas sim, e tal como dizem os economistas, estrutural, ou melhor ainda, sistémico (segundo as teorias doa urbanistas ;)
Quando o arrendamento passou a ser um verdadeiro pesadelo, principalmente para os proprietários, enquanto impedimento a uma venda, normalmente dependente da libertação da totalidade das fracções de um prédio, está tudo explicado! Para exemplificar, esta evidência e perversa relação entre a desocupação e a correspondente valorização, nada como recordar um especialista de promoção imobiliária, comentando (c/ o orgulho da tarefa cumprida) que o crescimento do seu fundo, deveu-se, até ali, unicamente ao trabalho (árduo, paciente) de negociação c/ inquilinos (e que, pasme-se sempre consegue ser mais célere, que um licenciamento p/ obras, passado pela CML!?
Se tal diagnóstico não é novidade, por outro lado, reconheça-se que a receita que urge aplicar também o não é ...senão vejamos: o NRAU (novo regime de arrendamento urbano), que parecia ser o paliativo que até aqui ninguém tinha tido coragem de apresentar, está, digamos, nado-morto (um mortório ;), congeladíssimo, remetido p/'águas-de-bacalhau', amolecido algures, no torpor dos corredores do funcionalismo público... as SRU, que apareceu como instrumento especial (um tónico de fazer saltar os mais Fortes - sim, o dos Olímpicos ;) igual destino lhe deram, porque, não convém, afinal não fomos nós que tivemos a ideia, há que abafar o processo...silenciosamente,
assim, porquê continuarmos a falar em planos, nas pedras e na cal?
um Anónimo/pseudónimo
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