domingo, 21 de maio de 2017

Sem emenda - Súplica ao Senhor dos Aflitos

São dias fastos. O défice abaixo de 1,4%! E a baixar… O crescimento a 2,4%! E a subir… O Presidente Marcelo já fala de 3,2%... A sorrir… O desemprego a 10%! A diminuir… O consumo privado a subir. Muito pouco, mas a subir… A poupança a subir. Pouco, mas para cima. O investimento a dar sinais. Poucos, mas bons… Os fundos europeus a chegar. Muitos e a aumentar… O turismo a subir. Muitíssimo… As exportações a subir. Sempre… Só a dívida não mexe…

O presidente Marcelo, o Primeiro-ministro Costa e o governo têm feito tudo o que podem para aproveitar a oportunidade boa conselheira e o vento favorável. E têm conseguido. Com alguns proventos que herdaram do governo anterior. Com a paz social, obra e graça dos sindicatos. Com a benevolência dos empresários, cansados de apertos. Com o clima geral económico de feição. Com os auspícios da Europa e do Ocidente. Com uma inédita conjuntura turística que ainda pode durar mais uns anos. Com uma coragem excepcional dos exportadores. Com a mudança de atitude europeia relativamente aos países do Sul, aos devedores e aos mais atrasados. Não estava escrito no céu, era possível não aproveitar os faustos. O mérito do governo é o de saber estar no sítio certo. E o do equilíbrio entre compaixão e austeridade.

Costa é muito hábil. Sim. Habilidoso. Sim, também. Sabe tudo de manhas e artimanhas. Sabe. É pragmático. É. Trata sem dogmas e resolve sem ideologia. Sim. Não perde tempo com o acessório. Não. O importante é manter-se. Sim. Tem enorme capacidade de negociar tudo. Tem. Pode durar mais do que se pensa. Pode. Tem sorte. Muita. Está a ser ajudado pelo mundo e pela Europa. Sim. Todos ajudam, a economia, a reacção a Trump, a derrota de Hollande, o receio de Merkel e as ameaças de Putin. Os comunistas estão por tudo. Estão. Sabem que é a sua última oportunidade. Sabem.

Vivemos aquele momento estranho que vem descrito nas teorias dos jogos. O PS quer ganhar e dispensar os dois outros. Os dois outros querem mostrar que são indispensáveis, mas desejam impedir que o PS ganhe com maioria absoluta. Se o PS ganhar, os dois outros podem ir para a rua. Ou ficar cortesmente lá, sem uso nem força. Ninguém sabe, nem PS nem os dois outros, quem bate com a porta, quem deve sair a correr ou ser corrido. Quem fica com as culpas e quem ganha. Quem ganha a perder ou perde a ganhar. Mas, até 2020, alguém vai perder… Esperemos que não sejam os Portugueses.

Há um clima favorável. Que é sempre o mais importante. É o bom clima que gera a confiança. Para isso, contribuíram os Portugueses e os estrangeiros, os empresários e os trabalhadores, a economia europeia e as autoridades portuguesas, a União Europeia e o governo português. É possível, perfeitamente possível, que tenhamos iniciado um período de retoma, de recuperação económica e de crescimento, a par de outros vividos aquando das crises do petróleo, da crise da revolução e das crises dos dois resgates dos anos setenta e oitenta. É possível. Depois do que sofreu, entristeceu e empobreceu durante quase vinte anos, é essencial este pobre país reconciliar-se consigo próprio. Seria ainda mais importante que, após três ou quatro anos de recuperação e restauro de forças, tivéssemos alguma esperança em que tudo não recomeçaria depois, mais uma vez…

Esta é uma prece ao senhor dos Aflitos. Uma súplica para que os nossos dirigentes políticos não estraguem tudo outra vez, para que não abram desalmadamente os cofres, para que não voltem a meter ao bolso, para que não gastem o que não têm, para que não construam túneis e viadutos, para que não desperdicem como novos-ricos, para que não façam mais parcerias ruinosas em que os privados ficam com os lucros e o público com o prejuízo, para que não autorizem swaps, para que não voltem a recrutar dezenas de milhares de funcionários públicos, para que não aumentem salários acima do razoável, para que não voltem a bater nos pobres, para que não dêem aos ricos o que eles não precisam, para que não continuem a pensar que se pode viver eternamente com dívidas, para que parem de pensar que os credores têm a obrigação de socorrer os devedores, para que dêem espaço e liberdade aos empresários e para que não voltem a viver como se não tivessem filhos.

DN, 21 de Maio de 2017

2 comentários:

bea disse...

àmem.

..."e não voltem a viver como se não tivessem filhos". Que é um cansaço cheio de penas viver neste país a afundar repetidamente e o bolso dos mais pobres a pagar os afundanços.

Anónimo disse...

Hey, hombre, que pasa?!
Su voz grave dio lugar a una voz aguda y afligida. Se relaja!...
Tiene fe, hombre de Dios. Por tus hijos ...