São dias fastos. O défice abaixo
de 1,4%! E a baixar… O crescimento a 2,4%! E a subir… O Presidente Marcelo já
fala de 3,2%... A sorrir… O desemprego a 10%! A diminuir… O consumo privado a
subir. Muito pouco, mas a subir… A poupança a subir. Pouco, mas para cima. O
investimento a dar sinais. Poucos, mas bons… Os fundos europeus a chegar.
Muitos e a aumentar… O turismo a subir. Muitíssimo… As exportações a subir.
Sempre… Só a dívida não mexe…
O presidente Marcelo, o
Primeiro-ministro Costa e o governo têm feito tudo o que podem para aproveitar
a oportunidade boa conselheira e o vento favorável. E têm conseguido. Com
alguns proventos que herdaram do governo anterior. Com a paz social, obra e
graça dos sindicatos. Com a benevolência dos empresários, cansados de apertos.
Com o clima geral económico de feição. Com os auspícios da Europa e do
Ocidente. Com uma inédita conjuntura turística que ainda pode durar mais uns
anos. Com uma coragem excepcional dos exportadores. Com a mudança de atitude
europeia relativamente aos países do Sul, aos devedores e aos mais atrasados. Não
estava escrito no céu, era possível não aproveitar os faustos. O mérito do
governo é o de saber estar no sítio certo. E o do equilíbrio entre compaixão e
austeridade.
Costa é muito hábil. Sim.
Habilidoso. Sim, também. Sabe tudo de manhas e artimanhas. Sabe. É pragmático. É.
Trata sem dogmas e resolve sem ideologia. Sim. Não perde tempo com o acessório.
Não. O importante é manter-se. Sim. Tem enorme capacidade de negociar tudo. Tem.
Pode durar mais do que se pensa. Pode. Tem sorte. Muita. Está a ser ajudado
pelo mundo e pela Europa. Sim. Todos ajudam, a economia, a reacção a Trump, a
derrota de Hollande, o receio de Merkel e as ameaças de Putin. Os comunistas
estão por tudo. Estão. Sabem que é a sua última oportunidade. Sabem.
Vivemos aquele momento estranho
que vem descrito nas teorias dos jogos. O PS quer ganhar e dispensar os dois
outros. Os dois outros querem mostrar que são indispensáveis, mas desejam
impedir que o PS ganhe com maioria absoluta. Se o PS ganhar, os dois outros
podem ir para a rua. Ou ficar cortesmente lá, sem uso nem força. Ninguém sabe,
nem PS nem os dois outros, quem bate com a porta, quem deve sair a correr ou
ser corrido. Quem fica com as culpas e quem ganha. Quem ganha a perder ou perde
a ganhar. Mas, até 2020, alguém vai perder… Esperemos que não sejam os
Portugueses.
Há um clima favorável. Que é
sempre o mais importante. É o bom clima que gera a confiança. Para isso, contribuíram
os Portugueses e os estrangeiros, os empresários e os trabalhadores, a economia
europeia e as autoridades portuguesas, a União Europeia e o governo português. É
possível, perfeitamente possível, que tenhamos iniciado um período de retoma,
de recuperação económica e de crescimento, a par de outros vividos aquando das
crises do petróleo, da crise da revolução e das crises dos dois resgates dos
anos setenta e oitenta. É possível. Depois do que sofreu, entristeceu e
empobreceu durante quase vinte anos, é essencial este pobre país reconciliar-se
consigo próprio. Seria ainda mais importante que, após três ou quatro anos de
recuperação e restauro de forças, tivéssemos alguma esperança em que tudo não
recomeçaria depois, mais uma vez…
Esta é uma prece ao senhor dos
Aflitos. Uma súplica para que os nossos dirigentes políticos não estraguem tudo
outra vez, para que não abram desalmadamente os cofres, para que não voltem a
meter ao bolso, para que não gastem o que não têm, para que não construam
túneis e viadutos, para que não desperdicem como novos-ricos, para que não
façam mais parcerias ruinosas em que os privados ficam com os lucros e o
público com o prejuízo, para que não autorizem swaps, para que não voltem a
recrutar dezenas de milhares de funcionários públicos, para que não aumentem
salários acima do razoável, para que não voltem a bater nos pobres, para que
não dêem aos ricos o que eles não precisam, para que não continuem a pensar que
se pode viver eternamente com dívidas, para que parem de pensar que os credores
têm a obrigação de socorrer os devedores, para que dêem espaço e liberdade aos
empresários e para que não voltem a viver como se não tivessem filhos.
DN, 21 de Maio de 2017
2 comentários:
àmem.
..."e não voltem a viver como se não tivessem filhos". Que é um cansaço cheio de penas viver neste país a afundar repetidamente e o bolso dos mais pobres a pagar os afundanços.
Hey, hombre, que pasa?!
Su voz grave dio lugar a una voz aguda y afligida. Se relaja!...
Tiene fe, hombre de Dios. Por tus hijos ...
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