O navio Niassa, no
cais de Alcântara, em 1974, com soldados regressados da Guiné – Pirada era
uma aldeia perto da fronteira com o Senegal. Ali, uns soldados portugueses
inventaram um grupo “Os Cavaleiros de Gabú”, do nome de um antigo reino. Talvez
sejam estes que, faz agora 43 anos, chegavam a Lisboa. A guerra terminara. O
PAIGC ocupava Bissau e todo o território. Preparava-se a independência para
Setembro desse ano. O Niassa estava atarefado, desde Abril, em trazer os soldados
do Ultramar. A guerra colonial acabava. Foram duas as promessas do movimento e
da insurreição de 25 de Abril: a democracia e a paz. Ambas se cumpriram. A
primeira, mal e bem, com dificuldades, demorou uns anos, atravessou uma
revolução, conseguiu-se. A segunda, mal, foi obtida a elevado preço. Sem meios
nem força, sem estabilidade nem legitimidade, a paz alcançou-se com o simples
abandono. Portugal estava incapaz de cuidar dos Portugueses ou dos Africanos,
dos Brancos ou dos Negros. Entregaram-se os países aos partidos amigos da União
Soviética, começaram nos novos Estados várias guerras civis que só acabaram,
vinte ou trinta anos depois, com centenas de milhares de mortos. Chegaram a
Portugal, num só ano, mais de 600 000 Portugueses, Angolanos e Moçambicanos,
sem bens nem pátria.
DN, 23 de Abril de 2017
1 comentário:
AB é ótimo a contar histórias. Melhor, só o direitista Rui Ramos!...
Eu acredito que a diáspora portuguesa na Europa não será travada por políticas nacionalistas provocadas por uma eventual implosão da UE. Neste momento, não há razões para pensar seriamente nessa possibilidade. Não acredito que daí possa haver “retornados”.
Tout va bien!
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