Os governos “ganham” sempre os
debates orçamentais. Assim fez o PS. Revelou compaixão e vontade de
distribuição de rendimentos. Não soube mostrar investimento ou crescimento, mas
não era esse o objectivo. O governo conseguiu disfarçar a sua excessiva
dependência do Bloco e do PCP. Saiu airosamente do debate. O PCP e o Bloco
exibiram a sua enorme influência sobre o governo. O PSD e o CDS não acertaram
no modo, nem no estilo. Não argumentaram e não conseguiram mostrar o que
querem.
Era tema adequado para uma
discussão séria. Havia diferenças bastantes para que os afrontamentos, sem
deixar de ser enérgicos, fossem civilizados e intelectualmente estimulantes.
Mas foi como se não houvesse matéria. Os protagonistas entregaram-se
voluptuosamente ao berreiro habitual, com a nova agressividade que passa por
pensamento político elevado. Inventaram, mentiram, acusaram, denunciaram e
prometeram com igual exuberância e sem hesitação! Falaram para os crentes e os
crentes aplaudiram. Acreditam em António Costa os que acreditam em António
Costa. Acreditam em Passos Coelho os que acreditam em Passos Coelho.
Houve meios e alguma habilidade
para fazer um orçamento que aguente a aliança e dê um pouco de conforto a quem
mais precisa: pensionistas, doentes, idosos, crianças e desempregados. Mas toda
a gente sabe que esta ginástica não pode ser repetida muitas vezes. Vai ser
preciso mais dinheiro. Vai ser necessário investimento. É indispensável o
crescimento.
É o problema do presente. Quem quer
governar tem de arranjar prosperidade, o que quer dizer rendimento, o que
significa emprego, o que implica investimento. Para haver investimento, tem de se
procurar quem tem capital. Os privados ou o Estado. Dentro do país ou no
estrangeiro. Com meios próprios ou fiado.
Ora, por cá, as coisas estão mal.
Falido, o Estado vive do crédito, paga milhares de milhões de juros, aumenta os
impostos a pagar por uma população fiscalmente exaurida. Crédito há cada vez
menos, cá dentro nenhum, lá fora ainda algum cada vez mais caro. Dinheiro
português quase não há, acabaram-se praticamente os capitalistas portugueses, a
poupança segue o mesmo caminho. Mais impostos parecem impossíveis. Dinheiros
públicos, só os da União Europeia, apesar de tudo insuficientes, mas que se destinam
a infra-estruturas, pouco à economia produtiva e muito pouco à competitividade.
A conclusão é simples: ou dinheiro privado internacional ou nada!
O problema é que o dinheiro privado
internacional põe condições, incluindo políticas. Exige vantagens e benefícios.
E requer condições gerais favoráveis à actividade económica privada.
Apesar de acreditar mais no
investimento público, o PS gosta tradicionalmente de investidores privados. A
maior parte das vezes para poder criar emprego, desenvolver a economia e
manter-se no poder. Os seus aliados, PCP e Bloco, detestam o investimento
privado, a não ser que seja pequeno e obediente. Abominam o investimento
externo, qualquer que seja.
O governo procura o que lhe falta:
euros e votos. A aliança dá-lhe os votos, mas gasta-lhe os euros. O governo sabe
que, se conseguir euros, acabará por ter votos. Mas também sabe que se
conseguir muitos euros, os seus aliados tiram-lhe os votos. Os euros podem
produzir votos, mas os votos não produzem euros.
As fantasias das nomeações para a
CGD deixam qualquer pessoa perplexa. Uma trapalhada que só governos
inexperientes eram capazes de organizar. Mas conseguiram. Ao mesmo tempo, por
acaso ou por deliberação, aprende-se mais uma vez que a CGD fez favores e se entregou
a negócios ruinosos de licitude duvidosa. Mais casos para ilustrar a promiscuidade
entre público e privado. Mas ficámos a saber que aqui não há inocentes: público
e privado; capitalistas e políticos. Se, ao menos, houvesse Justiça!
Pior é que, sem banca à altura,
pública e privada, a economia não vai conseguir. O país também não.
DN, 6 de Novembro de
2016
1 comentário:
Quando se constrói um silogismo com batatas,a conclusão é batatas!!!... Tão relevante quanto isso.
Enviar um comentário