Não é aconselhável confundir
refugiado com imigrante, mas a verdade é que não se tem feito outra coisa. Só
na Europa, o número de candidatos a refugiado é tal que quase estamos a falar
de vagas de imigração. Como sempre, a difícil questão continua a ser: qual a
política de acolhimento de imigrantes?
Há duas maneiras de organizar a
recepção de imigrantes. Uma tem a designação genérica de integração. A outra de
multiculturalismo. Sem contar os compromissos e as variedades possíveis, são
estas as duas políticas essenciais.
Pela integração, são feitos
esforços para assimilar e incluir os imigrantes nas sociedades onde vivem. São-lhes
facultadas as condições necessárias à aprendizagem da língua, ao acatamento das
leis vigentes, ao respeito pelos costumes, ao benefício dos direitos existentes
e ao cumprimento dos deveres cívicos. Haverá certamente áreas de privacidade,
incluindo religiosas, que os imigrantes poderão preservar, desde que não sejam
incompatíveis, publicamente, com a ordem existente. Numa sociedade integrada,
tendencialmente toda a gente vive com toda a gente, não há bairros segregados,
nem guetos. As escolas são frequentadas por todos. O mesmo se aplica aos
hospitais, aos tribunais e aos espaços públicos. Na Europa, os imigrantes têm o
dever de respeitar o “ethos” cívico e
democrático que caracteriza actualmente as sociedades deste continente. Estou
convencido que a integração é, para a liberdade individual e a democracia, mas
também para o bem-estar dos imigrantes, uma política superior e vantajosa!
Pelo multiculturalismo, tudo é
feito, nas sociedades de acolhimento, para que os imigrantes possam manter e
cultivar as suas tradições, regras de vida e valores, tanto privados como públicos.
Numa sociedade multicultural, os bairros dividem-se, planeada ou
espontaneamente, por etnias, as escolas são diferentes para cada grupo, podendo
as instituições ter regras diferenciadas. A segregação pode ver-se no
urbanismo, na economia doméstica e no emprego. Pode ser reflexo de autodefesa dos
grupos minoritários ou da recusa da integração. As burcas e os niqab, a
poligamia, a excisão das mulheres, a venda de crianças, as várias formas de
escravatura, a proibição de bebidas alcoólicas, a interdição de conduzir
automóveis, os casamentos contratados de crianças, as regras do poder conjugal,
paternal e marital, assim como do poder político do sacerdote, são alguns dos
exemplos de tradições que fazem parte das culturas não ocidentais. Creio que a
fragmentação social, para não dizer “apartheid”, levada a cabo pelo
multiculturalismo pode destruir os sistemas democráticos.
As questões de integração e do
multiculturalismo têm sido abordadas a propósito dos atentados terroristas
islâmicos. Não tem faltado quem os procure justificar com as famosas condições
sociais. E com os traumas históricos. Ora, são cada vez mais débeis os
argumentos que defendem haver uma relação entre imigração e terrorismo. Há hoje
dezenas de milhões de imigrantes estabelecidos em comunidades onde não há
qualquer terrorismo. Os Europeus têm dificuldade em tratar destes problemas com
clareza. Deixam-se atrair pela demagogia com facilidade. Sentem culpas
históricas próprias do pesado “fardo do homem branco”. Querem hoje redimir-se das
suas culpas reais e fantasmagóricas do passado. Querem refazer a história.
Foram incapazes de compreender os refugiados e repatriados brancos de África e
de outras paragens. Classificaram de retornadas pessoas que nunca tinham visto,
nascido ou vivido nas metrópoles… Para os Europeus com mal da história, um
branco rodesiano ou moçambicano não vale um muçulmano francês ou belga. Pobres
europeus que assim desistem e assim se culpam!
DN, 3 de Abril de 2016
1 comentário:
O multiculturalismo e a integração estão um para o outro como, salvaguardando as devidas diferenças, a tolerância e a aceitação.
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