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O GOVERNO esforça-se. Desmultiplica-se em acções para acudir à crise. O elenco de medidas é vasto. Linhas de crédito bonificadas. Apoios às pequenas e médias empresas. Garantias de depósitos bancários, de crédito e de recurso a capitais. Tomadas de posição, pelo Estado, em empresas financeiras e outras. Apoios específicos às empresas exportadoras. E sobretudo investimento público em grandes obras polémicas (o TGV, o aeroporto...), inúteis (mais auto-estradas...) ou necessárias (reparação de escolas e de hospitais...). Cerca de 15.000 empresas terão já beneficiado dos apoios extraordinários. No sector social, o Governo está também activo e, aparentemente, generoso. Apoios à criação ou manutenção de emprego. Alargamento das condições de atribuição do subsídio de desemprego. E ajudas aos lares de idosos e às famílias com carências especiais. É possível que haja intenções políticas próprias do ano eleitoral. A estridência paralela (“Tirar aos ricos para distribuir à classe média”...) é demagógica e mancha a folha de serviços. Mas o esforço é real. Perante uma assembleia da Associação Nacional de Empresas Familiares, o secretário de Estado Castro Guerra, académico reputado e ponderado, enumerou, factualmente, sem oportunismo eleitoral, as medidas tomadas e os esquemas disponíveis para quem queira obter apoios e combater a crise.
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A MERA LISTA é impressionante. Mas sobram dúvidas. O Estado vem, mais uma vez, para ficar? A dependência das empresas e da sociedade civil aumenta? As escolhas de programas e de empresas foram as melhores? Todos os que merecem têm oportunidades iguais? Há sectores e empresas esquecidos? Os recursos são suficientes? Há fundos disponíveis e não utilizados? Estas medidas têm resultados a prazo, no futuro, ou limitam-se a adiar mortes certas? Há maneira de saber se os apoios são realmente aproveitados e não são desviados? Temos a certeza de que uma parte destes recursos não é simplesmente apropriada pelos predadores habituais? O que já está comprometido com a banca é perdido, recuperável, fértil, útil? Os investimentos públicos estão pensados da melhor maneira, com horizonte de médio e longo prazo? Ou é a corrida habitual atrás de pressões e de votos? Todo este esforço tem como principal objectivo mudar e transformar ou manter e preservar? As empresas ajudadas têm capacidade, inteligência, estratégia, vontade e condições para aproveitar os apoios e “dar a volta”? Vale a pena aumentar consideravelmente o défice público? Está alguém a pensar que tudo isto merece uma estratégia ou trata-se de acudir a fogos de modo indiscriminado? Aquele não era talvez o lugar para responder e esclarecer. Quanto mais não fosse, os empresários falam pouco. Não correm riscos. Não querem ficar sujeitos a represálias do governo. Não gostam de desvendar os seus problemas nem os seus segredos. Os economistas também não falam muito. Muitos dependem do governo. Uns ficam-se pelas teorias académicas. Outros são simples crentes de um qualquer paradigma e não perdem tempo com a análise empírica. E quase todos revelam uma imperial indiferença perante a urgente tarefa de esclarecer, com clareza, a população.
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POR ESTAS RAZÕES, o Parlamento é o local ideal para discutir e perceber. Nesse mesmo dia, a televisão relatava em directo, a partir da Assembleia da República, o debate sobre as questões económicas e, por inevitável consequência, o pacote de medidas tomadas pelo governo. O que se viu era confrangedor. De envergonhar qualquer cidadão. Governo e partidos esganiçavam e berravam, insultavam-se mutuamente, acusavam-se das piores selvajarias. Ninguém estava interessado em convencer ou esclarecer, fundamentar ou simplesmente reflectir. Todos se acham titulares de uma bula para dizer disparates e de uma dispensa de pensar. A menor das preocupações era a de pensar que a população poderia estar à escuta e a tentar perceber. Nem um só deputado, num total de 230, pensou em fazer um apelo ao entendimento, à cooperação entre alguns partidos, à convergência de esforços para encontrar soluções. Não se trata de esperar pela união nacional, mas muito seriamente de cooperar com vista a resolver alguns problemas causados pela maior crise económica e social das últimas décadas. Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.
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ALI AO LADO, com um clique de televisão, tínhamos a possibilidade de ver o canal que transmitia o debate, no Senado americano, sobre o mesmo problema: ajuda e apoio à economia, programas sociais, intervenção colossal do Estado e políticas sociais de emergência. Os senadores falavam devagar, com razão, defendiam os seus pontos de vista, argumentavam. Tratavam-se delicadamente, com cerimónia. Diziam por vezes frases de enorme violência no conteúdo, nunca na forma. Mostravam que faziam um esforço para chegar a um qualquer ponto de cooperação. Aprovaram um pacote com 65 por cento dos votos. De ambos os lados, do sim e do não, havia democratas e republicanos. Ali, vota-se por nome e por Estado, não por partido, em bloco. Após dias ou semanas de intenso trabalho conjunto, conseguiram chegar a acordos suficientes para que as medidas e os dinheiros tenham uma qualquer eficácia. A legitimidade e a autoridade dos programas de emergência estavam assim garantidas. Ficámos a perceber mil vezes melhor a natureza, o alcance, o sentido e os objectivos das medidas americanas do que o programa português.
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UM ÚLTIMO ponto. Na assembleia de empresários acima referida, chegado o período de debate, alguém perguntou: “Em vez de pagar milhares de milhões com apoios às empresas, não seria melhor política o governo pagar as suas dívidas”? O secretário de Estado respondeu: “O Estado deve-lhe alguma coisa”? O empresário disse: “Por acaso, sim, mas não é esse o ponto. Quero é discutir a política geral”. À bruta, cruamente, o governante retorquiu: “Faça-me chegar ao gabinete o seu caso pessoal e logo se resolverá”. Assim não, senhor secretário de Estado.
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«Retrato da Semana» - «Público» de 15 de Fevereiro de 2009
O GOVERNO esforça-se. Desmultiplica-se em acções para acudir à crise. O elenco de medidas é vasto. Linhas de crédito bonificadas. Apoios às pequenas e médias empresas. Garantias de depósitos bancários, de crédito e de recurso a capitais. Tomadas de posição, pelo Estado, em empresas financeiras e outras. Apoios específicos às empresas exportadoras. E sobretudo investimento público em grandes obras polémicas (o TGV, o aeroporto...), inúteis (mais auto-estradas...) ou necessárias (reparação de escolas e de hospitais...). Cerca de 15.000 empresas terão já beneficiado dos apoios extraordinários. No sector social, o Governo está também activo e, aparentemente, generoso. Apoios à criação ou manutenção de emprego. Alargamento das condições de atribuição do subsídio de desemprego. E ajudas aos lares de idosos e às famílias com carências especiais. É possível que haja intenções políticas próprias do ano eleitoral. A estridência paralela (“Tirar aos ricos para distribuir à classe média”...) é demagógica e mancha a folha de serviços. Mas o esforço é real. Perante uma assembleia da Associação Nacional de Empresas Familiares, o secretário de Estado Castro Guerra, académico reputado e ponderado, enumerou, factualmente, sem oportunismo eleitoral, as medidas tomadas e os esquemas disponíveis para quem queira obter apoios e combater a crise.
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A MERA LISTA é impressionante. Mas sobram dúvidas. O Estado vem, mais uma vez, para ficar? A dependência das empresas e da sociedade civil aumenta? As escolhas de programas e de empresas foram as melhores? Todos os que merecem têm oportunidades iguais? Há sectores e empresas esquecidos? Os recursos são suficientes? Há fundos disponíveis e não utilizados? Estas medidas têm resultados a prazo, no futuro, ou limitam-se a adiar mortes certas? Há maneira de saber se os apoios são realmente aproveitados e não são desviados? Temos a certeza de que uma parte destes recursos não é simplesmente apropriada pelos predadores habituais? O que já está comprometido com a banca é perdido, recuperável, fértil, útil? Os investimentos públicos estão pensados da melhor maneira, com horizonte de médio e longo prazo? Ou é a corrida habitual atrás de pressões e de votos? Todo este esforço tem como principal objectivo mudar e transformar ou manter e preservar? As empresas ajudadas têm capacidade, inteligência, estratégia, vontade e condições para aproveitar os apoios e “dar a volta”? Vale a pena aumentar consideravelmente o défice público? Está alguém a pensar que tudo isto merece uma estratégia ou trata-se de acudir a fogos de modo indiscriminado? Aquele não era talvez o lugar para responder e esclarecer. Quanto mais não fosse, os empresários falam pouco. Não correm riscos. Não querem ficar sujeitos a represálias do governo. Não gostam de desvendar os seus problemas nem os seus segredos. Os economistas também não falam muito. Muitos dependem do governo. Uns ficam-se pelas teorias académicas. Outros são simples crentes de um qualquer paradigma e não perdem tempo com a análise empírica. E quase todos revelam uma imperial indiferença perante a urgente tarefa de esclarecer, com clareza, a população.
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POR ESTAS RAZÕES, o Parlamento é o local ideal para discutir e perceber. Nesse mesmo dia, a televisão relatava em directo, a partir da Assembleia da República, o debate sobre as questões económicas e, por inevitável consequência, o pacote de medidas tomadas pelo governo. O que se viu era confrangedor. De envergonhar qualquer cidadão. Governo e partidos esganiçavam e berravam, insultavam-se mutuamente, acusavam-se das piores selvajarias. Ninguém estava interessado em convencer ou esclarecer, fundamentar ou simplesmente reflectir. Todos se acham titulares de uma bula para dizer disparates e de uma dispensa de pensar. A menor das preocupações era a de pensar que a população poderia estar à escuta e a tentar perceber. Nem um só deputado, num total de 230, pensou em fazer um apelo ao entendimento, à cooperação entre alguns partidos, à convergência de esforços para encontrar soluções. Não se trata de esperar pela união nacional, mas muito seriamente de cooperar com vista a resolver alguns problemas causados pela maior crise económica e social das últimas décadas. Aqueles deputados têm os mesmos reflexos, os mesmos comportamentos e a mesma visão do mundo que um bando de hooligans em claques de futebol.
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ALI AO LADO, com um clique de televisão, tínhamos a possibilidade de ver o canal que transmitia o debate, no Senado americano, sobre o mesmo problema: ajuda e apoio à economia, programas sociais, intervenção colossal do Estado e políticas sociais de emergência. Os senadores falavam devagar, com razão, defendiam os seus pontos de vista, argumentavam. Tratavam-se delicadamente, com cerimónia. Diziam por vezes frases de enorme violência no conteúdo, nunca na forma. Mostravam que faziam um esforço para chegar a um qualquer ponto de cooperação. Aprovaram um pacote com 65 por cento dos votos. De ambos os lados, do sim e do não, havia democratas e republicanos. Ali, vota-se por nome e por Estado, não por partido, em bloco. Após dias ou semanas de intenso trabalho conjunto, conseguiram chegar a acordos suficientes para que as medidas e os dinheiros tenham uma qualquer eficácia. A legitimidade e a autoridade dos programas de emergência estavam assim garantidas. Ficámos a perceber mil vezes melhor a natureza, o alcance, o sentido e os objectivos das medidas americanas do que o programa português.
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UM ÚLTIMO ponto. Na assembleia de empresários acima referida, chegado o período de debate, alguém perguntou: “Em vez de pagar milhares de milhões com apoios às empresas, não seria melhor política o governo pagar as suas dívidas”? O secretário de Estado respondeu: “O Estado deve-lhe alguma coisa”? O empresário disse: “Por acaso, sim, mas não é esse o ponto. Quero é discutir a política geral”. À bruta, cruamente, o governante retorquiu: “Faça-me chegar ao gabinete o seu caso pessoal e logo se resolverá”. Assim não, senhor secretário de Estado.
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«Retrato da Semana» - «Público» de 15 de Fevereiro de 2009
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NOTA: O Jacarandá e o Sorumbático propõem-se premiar o melhor comentário que seja feito a este Retrato da Semana até às 20h de 20 Fev 09. O prémio pode ser visto [aqui].
Actualização (21 Fev 09 / 10h40m): ver a decisão do júri em "actualização" - [aqui]
14 comentários:
A comparação entre o Senado americano e o nosso Parlamento é possível, com certeza, mas com a noção da diferença das entidades comparadas, sobretudo no que respeita aos processos de selecção dos seus membros.
O Parlamento português, como reflexo imediato da degradação dos partidos políticos, entrou há várias legislaturas num processo contínuo de degenerescência.
Em cada legislatura, salvo as cada vez mais raras excepções, tem-se visto baixar a categoria dos Deputados seleccionados por facções organizadas dentro dos próprios partidos que, ordinariamente, se digladiam para colocar os seus representantes em posições elegíveis nas listas de candidatos ao Parlamento.
Nos critérios de selecção, predominam, a grande altura, a amizade e a fidelidade dos candidatos a cada uma das facções com quota representativa na constituição das listas: a direcção do Partido, as concelhias, as organizações de juventude, sindicais, se existem, as empresariais, etc., isto tudo muito bem pesado, ordenado pelo grau de confiança ou de conveniência que cada candidato merece da parte das instâncias partidárias envolvidas.
Como resultado, surge uma composição fortemente diminuída, de quase funcionários, que sabem bem a quem devem a distinção recebida quando se acham investidos da dignidade de membros de órgão de Soberania.
Daí que não manifestem depois autonomia de pensamento, aceitando ser tratados como autómatos, cumprindo escrupulosamente as ordens da direcção do Partido, que, sumariamente lhes diz como e quando devem votar as leis e diplomas em discussão.
Pode parecer uma violência, mas na verdade não será, dada a forma como os putativos Deputados da Nação são recrutados. Sem prestígio próprio, amiúde sem sequer autonomia profissional, ficam totalmente dependentes das boas graças das facções que os indicaram, conhecendo antecipadamente as regras do jogo e a consequência inevitável, em caso de quebra de compromisso: não voltarão a entrar nas listas de candidatos para futuras legislaturas. Surpreendentemente ou não, a esmagadora maioria parece conformar-se com esta situação.
Durante os debates, a gritaria, o espavento, a teatralidade, a utilização de truques baixos, o recurso ao insulto soez, etc., decorrem naturalmente desse processo de selecção, facto agravado quando vêem todos estes tiques presentes no estilo do actual Primeiro-Ministro, que parece um campeão da berraria, discursando sempre num estilo regateiro, em que, de resto, é muito difícil batê-lo, reconheça-se.
A fidelidade dos Deputados firma-se, assim, com prioritariamente com os Partidos, muito acima da que deveriam manter com o Povo que os elegeu. Desprezam a cooperação com os demais colegas, porque assumem um comportamento de pertença a grupos de Futebol, para quem o que importa é sempre ganhar, com ou sem razão, de forma limpa ou enviesada.
Não conheço o processo de selecção de Senadores praticado nos EUA para não me custa a crer que seja diferente, muito mais cuidadoso, exigente nos méritos dos candidatos, até por tradição elitista que julgo cultivarem, embora obviamente com as suas falhas, vide o que aconteceu recentemente com o caso do decepcionante George W. Bush, que, não obstante, atingiu, por duas vezes, o vértice da pirâmide política americana.
No final, a velha questão : como reverter a presente degradada situação política portuguesa, no Parlamento e fora dele, no Governo, nas Autarquias e demais Instituições do Estado ?
O tempo, entretanto, vai passando, sem que apareçam as desejadas melhorias…
Votos de bom resto de Domingo, boa semana de trabalho e inspiração continuada para o nosso anfitrião do Jacarandá, para seu e nosso comum proveito.
Vejo que me excedi um tanto nos comentários. Peço desculpa a António Barreto, bem como aos demais contertulianos aqui reunidos, sem esquecer o nosso amigo Medina, que, em boa hora, ofereceu esta tribuna a tão excelsas figuras de colunistas.
Quando a factura chegar... teremos muita confusão nas ruas!
Temo que esse dia acontecerá muito mais cedo do que pensamos, talvez já em 2010.
Espero que haja investimento público também para a conclusão da obra útil da "variante" que ligará Arouca ao nó da Feira, interrompida, há alguns, anos por falta de dinheiro. Os poucos quilómetros já construídos não servem praticamente para nada. É importante que AB saiba que ainda há muitas populações isoladas.
A população de Arouca, por exemplo, não exige hospital, intitutos politécnicos e outros equipamentos sociais dentro dos limites do seu concelho, mas exige uma boa estrada que lhe dê acesso, em tempo razoável, a esses serviços. E, como Arouca, há muitos outros concelhos a necessitar de melhores acessibilidades.
Quanto à comparação entre o estilo do parlamento nacional e o Senado americano, lembro que enquanto o primeiro se encontra no ocaso, o segundo encontra-se em plena aurora. Lembro ainda que enquanto em Portugal o Primeiro Ministro é achincalhado por todos os seus adversários políticos, comunicação social e outros, Obama é endeusado dentro e fora de fronteiras.
Lembro mais ainda que o PM precisa de ser muito santo para aturar uma oposição com bastante sentido de oportunidade, em ano de eleições. Mas, santo era o outro socialista, e foi-se. Este não é santo. Ficará.
Olá Sílvia!
Quando fiza comparação entre os Parlamentos de Portugal e dos EUA, pensei exactamente nesse argumento: não se devem comparar coisas tão diferentes! Eis que ouço de vez em quando esta crítica. Mas não concordo de todo. É justamente entre diferentes, até muito diferentes, que se devem fazer as comparações. Assim, sempre se aprende alguma coisa. E deixe-me dizer-lhe: gosto de me comparar com iguais ou melhores, não com piores ou medianos. É entre os melhores que ambiciono que o meu país se distinga um dia. O que se aplica também à pessoas. Distinguir-se entre analfabetos, medíocres e pobres é fácil!
Mas, se não quer utilizar o Senado americano, pode ver, todos os dias, na BBC, o Parlamento inglês. E olhe que o francês é de quilate parecido. Até o espanhol me deixa sonhador, a desejar um sítio onde se pode falar e pensar, argumentar e fundamentar!
Você diz que o nosso Paralemento está na aurora! Olhe que nasceu torto... E já será difícil mudar para melhor. A política em Portugal só é adversarial na forma, no conteúdo muito menos. E há esta concepção, talvez machista, certamente ordinária, de que é aos berros que se vence um debate!
Finalmente, as obras. Não conheço a variante de que fala, nem a sua utilidade. Repare que eu não falava de estradas, na generalidade, mas de auto-estradas. Conheço várias, em Portugal, cuja utilidade é muito relativa. A do interior, por exemplo, que acabará um dia em Bragança, vindo cá de baixo, Santarém, Castelo Branco, etc. Já a fiz várias vezes, de manhã, à tarde ou à noite, em dia de semana e ao sábado e domingo: os carros contavam-se como nos tempos do "lá vem um"! A auto-estrada que continua a A.8 até ao Porto parece-me igualmente um exagero de ricos e um incentivo desavergonhado ao uso do carro. Lá para Trás-os-Montes preparam-se coisas parecidas. O isolamento exige boas estradas, não necessariamente auto-estradas, cujos preços são elevadíssimos.
Não há solução milagrosa mas o que diferencia a actual sociedade americana da nossa é capacidade dos seus governantes movimentarem a sociedade civil para um esforço conjunto que é preciso levar por diante!
É como a imagem de alguém que se oferece para limpar a nossa casa: essa pessoa tem de aparecer de mangas arregaçadas, com produtos de limpeza adequados e saber a ordem do processo de limpeza a levar a cabo, senão não vamos acreditar que resulte.
Os nossos políticos continuam numa "versão fato e gravata". E não dão mostras de arregaçar as mangas: que tal começar por ajustar os ordenados dos administradores às reais situações – o cidadão pagador de impostos certamente ficaria ciente da necessidade do esforço conjunto! (Obama começou por aí)
Cristina Garcia -Objectiva3
Olá, AB!
Não acho importante querer comparar-me aos melhores ou ser melhor que alguém, uma vez que eu acredito que vou sempre encontrar, em qualquer lugar, pessoas melhores e piores que eu. O que acho importante é amanhã eu vir a ser uma pessoa melhor da que fui hoje. Acho mais bonito assim. De qualquer maneira, gosto da diferença. Transponho esta ideia para o futuro do nosso Parlamento.
«Governo e partidos esganiçavam ... Ninguém estava interessado em convencer ... ou simplesmente reflectir»
a) Farto de ver este tipo de comportamentos na AR. Há anos. Pura e simplesmente inconcebível.
Pior é difícil, para quem os esteja a ver nas TV's.
Difícil perceber onde termina a infantilidade e começa o amadurecimento intelectual dos intervenientes.
Longe vão os tempos, em que um deputado do CDS (para incómodo dos seus pares), cumprimentava e manifestava votos de sucesso a Mário Soares, PR (general Galvão de Melo).
Muito oportuna, a descrição do que se passa nos EUA.
b) Ainda há poucas semanas, o governo/PS apresenta na AR um conjunto de três projectos de diplomas legislativos, para com eles encerrar a reforma da Forças Armadas (segundo o MD).
Vejo que o PSD (e CDS/PP)vão apoiar. Assim faz quem não sabe nem quer saber. Dá trabalho estudar,investigar e rebater, propondo em conformidade, isto é, diferente. Tudo ali irá portanto ficar na mesma, a saber, pior.
c) A resposta do secretário de Estado, dá bem a medida do espírito democrata que por vezes nos atinge.
Das dívidas do Estado ás empresas, tive em tempos a experiência de me confrontar com um défice orçamental de fim de ano, de valor elevado. Regularizado no prazo de três/quatro meses, com fornecedores a receber meio ano depois do fornecimento do material. Perfeitamente inconcebível, ainda por cima numa base militar. O Estado, afinal.
«enquanto em Portugal o Primeiro Ministro é achincalhado ... Obama é endeusado»
Pois é, soube dar-se ao respeito.
Tenho-me perguntado, quer perante a campanha eleitoral quer perante a constituição do governo de Obama, se alguém no mundo político português, tirou algumas ilações.
BMonteiro
Primeiro algumas imagens.
Gosto do tamanho do Parlamento Inglês, torna os sues membros todos actores implicados na cena.
Alguém me explicou há poucos dias que a Obamania americana se devia ao facto de ele, Obama, ter conseguido implicar os tradicionalmente excluídos.
Um dia numa terra do interior demandei qual seria a melhor coisa da terra nos últimos tempos, desabrido o meu interlocutor respondeu : - A estrada para nos levar daqui para fora.
Convém ter em conta que o nível de discussão do Senado americano não está desligado da forma presidencialista de regime.
A separação efectiva dos poderes legislativo e executivo - contrariamente ao que sucede por cá - origina um parlamento de facto autónomo, com capacidade para produzir ideias e mentes próprias e capaz de se desligar dos aparelhos partidários quandos os eleitos assim o desejam ou os eleitores pressionam. Tivemos um exemplo disso mesmo aquando da votação do primeiro plano de estímulo, nesse caso no Congresso e não no Senado, com os próprios congressistas republicanos a votarem contra o proposto pela administração Bush. E em larga medida por pressão dos eleitores, que encheram as caixas de correio e linhas telefónicas dos seus representantes. Essa aberração que dá pelo nome de disciplina de voto é coisa difícil de acontecer num sistema com uma tripartição de poderes de facto.
Nestes momentos, lembro-me de deputados do PS que chegaram a considerar ilegítima a pressão dos eleitores sobre eles dias antes da votação sobre os casamentos homossexuais. E nestes momento eu lembro-me sempre das palavras de Montesquieu, de que a liberdade existe quando o poder está habilitado a parar o poder. Que ideia tão longínqua dos nossos dogmas políticos da "governabilidade" e da fidelidade partidária...
Em minha opinião não existe de facto comparação entre o n/ Eng.(???)e Obama, também porque não existe possibilidades de comparar os dois Estados; contudo,não me restam muitas dúvidas de que só fomos " formalmente" informados dos valores da "crise", porque quase todos eles ( os políticos, os ricos, os comilões)tinham as suas aplicações em Instituições Americanas que começaram a "berrar". O pânico foi geral, e mal parecia que o Sr.PM não nos viesse "alertar" para um facto que todo o simples cidadão se vinha apercebendo há bastante tempo: não há dinheiro nos bolsos dos portugas.Contudo, também já não há solvência nos bancos dos ricos, dos políticos, dos espertos! Mais uma vez, quem paga? - o Zé Povo! -
O Estado, o n/ Estado continua entretanto a enganar o portuga que trabalha; vejamos que andam a gastar carradas de dinheiro em publicidade enganosa " 50% de desconto na compra de equipamentos de energias renováveis", e depois quem os vende não sabe como os reaver, pois não há qualquer indicação nesse sentido.
Então Sr. Secretário de Estado do Ambiente, como é??
Como é que o Estado vai pagar esses 50%?
Como é que nós beneficiamos dessa redução?
Há apoios da Banca que não sabe de nada?
O Estado antes de oferecer já deve.....
Fiquem bem!
A determinada altura pareceu-me que estava a contar a Queda de um Anjo; engraçado este carácter provinciano e intemporal que têm os nossos políticos e o seu modo de fazer política. Nada de novo neste Portugal dos Pequeninos.
Parabéns pelo Post
Pedro Gama
«O Governo esforça-se. Desmultiplica-se em acções para acudir à crise. O elenco de medidas é vasto. Linhas de crédito bonificadas. Apoios às pequenas e médias empresas. Garantias de depósitos bancários, de crédito e de recurso a capitais. Tomadas de posição, pelo Estado, em empresas financeiras e outras. Apoios específicos às empresas exportadoras. E sobretudo investimento público em grandes obras polémicas (o TGV, o aeroporto...), inúteis (mais auto-estradas...) ou necessárias (reparação de escolas e de hospitais...). Cerca de 15.000 empresas terão já beneficiado dos apoios extraordinários. No sector social, o Governo está também activo e, aparentemente, generoso. Apoios à criação ou manutenção de emprego. Alargamento das condições de atribuição do subsídio de desemprego. E ajudas aos lares de idosos e às famílias com carências especiais. É possível que haja intenções políticas próprias do ano eleitoral. A estridência paralela (“Tirar aos ricos para distribuir à classe média”...) é demagógica e mancha a folha de serviços. Mas o esforço é real.»
Temo que o esforço enunciado por Castro Guerra, suponho, não passe de engordada retórica. Nunca me chegaram aos ouvidos acções de fundo, actos, desempenhos, consequências visíveis de quaisquer anúncios de monta do Governo. A montanha dos anúncios não pára de parir ratinhos ou os coelhinhos de Louçã.
Mas não há dúvida que o Governo se desmultiplica em retórica maléfica para simular uma acção que desconhece como operacionalizar de todo e que por isso mesmo tarda em existr até ser tarde de mais.
Os Jornais são beneficamente incómodos para o Sistema Político com os seus quadros envelhecidos e ainda mais envilecidos: por exemplo, Sócrates e Almeida Santos, par de velhos com imenso em comum, e a sua premência mórbida e mortiça por debate em torno da justaposição Gay e Eutanásia ou Lei das Duas Mortes, segundo Mário Crespo; o jornalismo livre demonstra a terrível possibilidade de corrupção em milionários da política e em asnos doirados irritáveis; acossa o poder político quanto ao Tom e ao Modo insolente com que aparece, aflito e acossado porque tudo é insuportavelmente visível e comentável, sobretudo a incompetência e a pesporrência mal-educada; os jornalistas exprimem com provas e dados concretos o quanto o Regime segue enfermo de Moral, doentio nos Processos, insaciável nas Sanhas, excessivo na Fiscalidade, desbragado sobre pequenos e pobres, desigual e esmagador na Justiça. Fica transparente que o PRACE não foi feito, só rabiscado por alto e sem atingir multidões de verdadeiras rémoras do Sistema, fora a devida simbiose.
Opinadores, como o António, têm sido letais na visão de Raio-X à situação Situacionista e Situacionante que nos caracteriza o tempo. São eles que levantam a séria hipóteses de que, all in all, o Governo passou afinal quatro anos não a governar, mas a Anunciar-se para Depois. O problema é que agora já não dá para disfarçar o Show de um só Número.
Tudo é visível. O ilusionismo de agir já não ilude. E são trinta e cinco anos que apanham por tabela porque nem sempre houve internet, e-mail, partilha de grandes volumes de informação, crivo crítico, confronto de versões, apuramento de factos encharcados de rigor.
Está na hora de um Regeneração Endógena ou Exógena do Sistema Político Português, que abarque a Justiça, deixe em sossego o opresso cidadão endividado. Está na hora de uma Transformação da Ética e da Verdade na Política. Ela será feita a Bem ou, recusados e desdenhados os sinais, certamente a Mal e de Mal a Pior.
[É sempre um prazer para mim ler e comentar o António Barreto aqui, no seu Jacarandá. Por ele mesmo e também por uma misteriosa afinidade com o que nele intuo: um espírito nobre, esclarecido, agudo e delicado no trato, perfeitamente maduro para ser o nosso Obama, se o quisesse. Seria o meu, com toda a certeza.
Na verdade, falta-nos um estadista que seja um intelectual e ouse sacrificar-se. Alguém com moral suficiente para persuadir ao exemplo cortando no básico desbragamento remuneratório dos que ocupam a sua vez nos lugares de designação política, que aliás deveriam cessar ou então obedecer a mecanismos de estrito e cabal escrutínio porque é um direito absoluto nosso SABER e regular.
As cliques partidárias, tão sôfregas como caranguejos num balde, carecem de uma travessia do Deserto do desemprego das sinecuras. Independência e civilidade pura anti-sistema talvez sejam a esperança que nos resta fazer despontar].
Concordando com tudo o que disse, penso que a questão principal é a de que "Ali, vota-se por nome e por Estado, não por partido, em bloco".
Não sendo a democracia um mar de rosas (embora permita afastar, à partida, alguns espinhos), há vários sistemas eleitorais possivéis dentro desta.
Sei que não há vontade (porque traria maior responsabilização dos eleitos perante os seus eleitores), mas a implementação de um sistema uninominal para o Parlamento poderia, em principio, modificar a forma de discutir e pensar (e, em consequência, agir) a politica.
Porque para cada decisão, para cada voto, para cada tomada de posição de um deputado da minha circunscrição tivesse, este teria, mais cedo ou mais tarde, de me prestar contas e de dizer exactamente (porque me interesso e porque quereria saber o que foi decidido nos corredores do poder) qual a sua forma de actuação em sede de Parlamento e de que forma isso me beneficiou, ou não, no dia-a-dia.
Assim, e votando "ao molho" nas eleições legislativas, há quase um sentimento de impunidade e desresponsabilização por parte dos eleitos, mesmo dos que me são mais próximos geograficamente, porque o deputado meu vizinho "não manda sozinho", "só ia em 6º ou 7.º na lista", e, portanto, tem que prestar contas a "alguém", ou pura e simplemente diz "eu tentei, mas não pude fazer mais".
Nas próximas eleições, basta que concorde com o ponto de vista global e com as propostas apresentadas pelo candidato a Primeiro Ministro (e que vote nele, claro está), que, e mesmo não o querendo fazer, acabo por levar por arrasto o tal deputado que, em 4 anos, nada fez em beneficio dos seus.
Poderia aqui divagar, por exemplo, sobre os deputados de determinados distritos que são eleitos por outros que não lhe devem dizer absolutamente nada, só para que possam ser eleitos todos os nomes importantes para o Parlamento, ou para garantir uma maior votação em determinado distrito, mas não o vou fazer, por questão de espaço, de tempo, e porque sei que toda a gente sabe que é assim que, por cá, as coisas funcionam e o que elas significam.
Alterem a Lei Eleitoral, aproximem os eleitos dos seus eleitores, responsabilizem-nos perante estes e, concerteza (embora não resolvendo todos os problemas do nosso País), bastantes temáticas serão tratadas de forma diferente.
No estado actual da coisa... bom... eles são eleitos por Partidos diferentes, eventualmente, até poderão ter divergências de fundo em determinadas matérias, mas acabam por ser (quase) todos "amigos" e como amigo não empata amigo, eu cedo aqui e tu cedes acolá, e na proxima legislatura, no poder ou na oposição, cá no encontramos.
Discutir para além disto, no actual quadro eleitoral em vigor, será, talvez, chover no molhado.
O prazo de 48h para António Viriato reclamar o prémio expirou às 10h40m de ontem.
Assim, e como sucede em casos semelhantes, o livro vai ser sorteado no início do próximo mês.
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