domingo, 5 de outubro de 2008

Os 50 anos da Televisão - Quando tudo começou

COMO EM TUDO NA VIDA, também a data verdadeira de início da televisão em Portugal é objecto de discussão. Para uns, foi em Setembro de 1956, quando, num perímetro reduzido à volta da Feira Popular, começaram as emissões experimentais em Lisboa. Ou em Dezembro do mesmo ano, com o segundo ciclo de experiências alargadas à cidade e arredores. Para outros, terá sido a 7 Março de 1957, data oficial das primeiras emissões “a valer”, com as grandes áreas de Lisboa e Porto já abrangidas. Mas ainda há a data legal, a da aprovação do decreto-lei que cria a RTP, em 1955. Assim como a de uma experiência feita no Porto, em 1956, por empresa comercial. Ou, finalmente, a data de chegada das imagens à minha terra, esta sim, efeméride real para tantos portugueses. É a data que eu prefiro. Foi em 1958.
.
(...)
.
Dada a sua grande extensão, o texto integral foi afixado à parte - v. [aqui]

3 comentários:

António Viriato disse...

Mais um excelente texto nos é oferecido aqui, por António Barreto. Para lograr destas pepitas, vale a pena joeirar este campo.

Claro, que não se trata de nenhuma descoberta inesperada, dado que estamos perante textos de autor consagrado. A evocação epocal é, de facto, magnífica.

Mas, sem invalidar nada do que aqui fica escrito, diria que é também forçoso reconhecer o enorme poder de alienação que a TV hoje representa.

Nada, nem ninguém detém actualmente semelhante capacidade de influenciar consciências, determinar comportamentos ou formar mentalidades.

Há um bom par de anos, num pequeno ensaio, depois saído em livro, salvo erro da Gradiva, o filósofo Karl Popper viu na TV um perigo para a Democracia. Nem mais, nem menos do que um real perigo para a vida das sociedades democráticas.

Na altura, li com muito interesse o livro, embora me parecesse exagerada a preocupação de Popper.

De então para cá, tudo se agravou. A chamada Televisão popular rebaixou continuamente os seus padrões éticos e culturais, em busca de públicos cada vez mais vastos.

A multiplicação de estações e de canais não trouxe qualidade, trouxe lixo. Nem na Informação, inicialmente mais diversificada, mais aberta e pluralista, a melhoria se confirmou.

Telejornais desmedidos, recheados de historietas, faits-divers avulsos, reportagens sobre futilidades e idiotices, tudo tem aí cabimento.

Basta olhar para a Programação para se ter arrepios : horas intermináveis de telenovelas, todo o horário nobre delas cativo, apenas partilhado com concursos que não apelam à inteligência, mas sobretudo à sorte, sempre premiada com dinheiro e mais dinheiro.

Nunca a incultura, a boçalidade e a ganância se viu tão bem remunerada.

A responsabilidade da TV e daqueles que a dirigem na promoção da idiotice e da alarvidade, em níveis cada vez mais elevados entre a população indefesa e inconsciente, não pode ser iludida.

Da mesma forma, a complacência dos intelectuais, comentadores e demais fazedores de opinião não pode ser escamoteada.

Elites subjugadas ao feitiço do dinheiro, para além do impensável, deixaram o Povo desguarnecido, tornado presa dócil de todas as alienações.

Que escreveria Popper, hoje, se assistisse a tamanho descalabro cultural ?

Teria Marx ainda coragem de apontar a Religião como ópio do Povo, se vivesse na era actual ?

Onde se situará o limite da presente degradação televisiva ?

Quem poderá avaliar completamente os seus danos na mentalidade e no comportamento das populações de todo o mundo, o mais avançado como o mais atrasado ?

Que antídoto será possível encontrar para este verdadeiro flagelo do tempo presente ?

Peço desculpa pela extensão e pelo tom algo dramático do comentário, mas assim o achei necessário.

Agradeço ao ilustre autor da crónica e ao nosso prestimoso confrade Medina Ribeiro, que em boa hora franqueou a sua tribuna a este notável conjunto de colunistas, a oportunidade de exarar um juízo porventura cruento, mas justificado, de quem já se encontra saturado de assistir a tanta poluição televisiva incompreensivelmente impune, insuportavelmente impante.

Bom início de semana para todos os que aqui se reúnem.

António Barreto disse...

Caro R. da Cunha,
Você tem de ser de Vila Real, da “Bila”, como lá se diz!
E tem boa memória.
Só que também pede de mais... Como seria possível meter tanta gente, tanta figura pitoresca, tantos factos, tudo a propósito da televisão?
Já agora, um por um...
Em Maio, era “novena” do “mês de Maria”.
Noites de Verão no Jardim da Carreira! Até arrepia, só de lembrar!
Concordo com todas as outras recordações. Algumas, lembro bem. Outras, foi você que mas trouxe de volta.
À sua lista de corredores de automóveis, falta o Boneto (que corria a fumar cachimbo...) e o Ascari, além do Jean Béhra, o que deu “luta” ao Stirling Moss...
O Fângio, acho que nunca foi!
No Teatro Circo, os mais famosos eram os “Bailes da Carolina”...
Um abraço

António Barreto disse...

Caro A. Viriato,
Não tenho qualquer dúvida: a capacidade da televosão para alienar é enorme! A sua evolução, ao longo destas décadas, foi quase sempre nesse sentido.
O ensaio do K. Popper, de que fala, li-o há muitos anos e devo dizer que, de início, fiquei chocado. Se era verdade o que dizia, "o maior perigo para a democracia", era necessário continuar: que fazer então? Proibir? Censurar? Controlar? Entregar ao Estado? Submetê-la a um "Inquisidor Mor"? Não havendo respostas satisfatórias para estas perguntas, estávamos num beco...
Com o tempo e com as tendências muito negativas verificadas desde então (e de que A. Viriato traça um breve e adequado retrato), comecei a dar-me conta de que era necessário pensar de outra maneira, procurar outras vias e outras respostas.
É verdade que a televisão é perigosa para a democracia, tal como as eleições (sim, as eleições...), a liberdade de imprensa e de associação ou até a sociedade de consumo. Temos de conviver com elas, mas temos também de procurar os meios de limitar esses perigos. A democracia é assim: convive com as suas ameaças, vive com os seus perigos, coexiste com os seus inimigos!