A Agência Europeia do Medicamento
poderá vir para Portugal! A saída da Grã-Bretanha da União tem consequências
destas. Organismos estabelecidos no Reino Unido serão deslocados. Dezenas de
empregos apetecíveis serão criados noutros países. Muitos funcionários sairão
de Inglaterra. Centenas de funcionários britânicos deixarão Bruxelas,
Estrasburgo, Luxemburgo e outras localidades onde existem representações. Em
vários países, por efeitos do despedimento de britânicos, abrirão vagas e empregos.
Percebe-se. É uma maneira de castigar os irreverentes e de favorecer os
disciplinados. Também é verdade que mal se compreenderia que uma agência não
estivesse sediada num país membro. Cargos até hoje ocupados por ingleses ficarão
acessíveis à competição: muitos são os técnicos e os cientistas, indivíduos e
empresas, que se preparam para colher os despojos. Uns casos serão decididos por
mérito e concurso, outros pela família ou o partido.
Há, na União, dezenas de
instituições que desempenham funções importantes e beneficiam de elevados
orçamentos e de quantidades de pessoal qualificado. Todos os países querem ter
organismos destes dentro das suas fronteiras. Os mais poderosos conseguem os melhores.
Uma dúzia de países lançou-se atrás da Agência do Medicamento. A sede fica num
prestigiado centro de edifícios modernos, em Canary Wharf, Londres. Trabalham
lá 800 funcionários de elevada competência técnica. O organismo tem a tutela,
por assim dizer, de umas dezenas de instituições nacionais que tratam dos
medicamentos e das indústrias farmacêuticas.
Já há dezoito candidatos, entre
os quais Barcelona, Paris, Amesterdão e Milão. Assim foi que o governo e o
parlamento decidiram candidatar Lisboa à localização da agência. Tudo corria
bem, até que surgiu a polémica. Então e o Porto? A resolução votada no Parlamento
era explícita: Lisboa! Os deputados não viram. Ou não se deram conta. Ou não
perceberam. Ou foram obrigados a mudar de posição. Algo aconteceu. Os chefes
partidários, os deputados de várias cidades e os organismos locais dos partidos
acordaram! Pensaram nas autárquicas. Na descentralização. Nas regiões. Uns mudaram
de opinião e disseram, outros mudaram e não disseram, outros ainda não mudaram…
Dias depois, com o coração apertado pelas autárquicas, o governo decidiu reabrir
a hipótese de outras cidades, isto é, do Porto. E até o Primeiro-ministro
afirma que foi enganado! Sobra a questão: o que se passou para que uma
unanimidade fosse posta em causa em tão poucos dias por tanta gente? Como foi
possível?
Pense-se num dia de votações no
Parlamento. Veja-se como aquilo funciona e percebe-se que tudo é possível. São
listas de votações automáticas, umas seguidas às outras, para que ninguém falte
e não haja surpresas. A música é conhecida e vê-se bem no “Canal Parlamento”. Resolução
número tal, projecto de lei número tanto, proposta disto e daquilo, quem vota
contra, quem aprova, quem se abstém, está aprovado pelos partidos tal e tal,
rejeitado pelos partidos assim e assado. Quando o presidente pergunta quem vota
a favor e contra, de cada grupo levanta-se um senhor ou senhora, é como se
todos se levantassem, não há indivíduos nem pessoas, não há deputados nem
representantes, há unidades colectivas, regimentos e claques. Voto sindicado e obediente.
Vota um por todos.
O voto sobre a Agência Europeia
do Medicamento é a demonstração da falta de liberdade e independência dos
deputados, que verdadeiramente o não são, antes parecem funcionários. Um ou
outro desses senhores, nomeadamente de Lisboa e arredores, sabia vagamente o
que estava a votar, tinha lido na diagonal a resolução em causa, sabia que
Lisboa era a cidade candidata do governo. A maioria dos deputados não fazia a
mínima ideia do que votava, não lhe interessava o assunto e só despertou quando
lhe disseram que assim podiam ganhar ou perder as autárquicas.
DN, 25 de Junho de
2017
3 comentários:
Meu Deus, espero que não seja exactamente como diz. Que votem os deputados por interposta pessoa, já custa a admitir; mas desconhecer o que é votado.... concordo com o Presidente da República quando afirmou que esta polémica de para onde ir a agência se devia ter resolvido antes e não depois de votada a cidade de Lisboa. Não abona a favor dos portugueses. Ele falava da imagem, eu não. Tanto sururu...não somos os parentes pobres na pretensão?!
AB continua a querer desacreditar o Parlamento português. Depois da sua última passagem por lá, de 1987 a 1991, como deputado do PS pelo círculo de Évora (sério?!), tem centrado a sua ação política a desprestigiar o Parlamento onde não foi feliz, uma vez que não conseguiu deixar o seu nome associado às reformas realizadas.
Até parece que a vaidade ferida de um “aristocrata” o obriga a estar atento a qualquer contradição ou deslize de parlamentares “plebeus” , na procura de os inferiorizar e lhes lembrar a ilegitimidade e incompetência para o exercício do cargo.
Ás vezes têm graça quando, por cá, se lembram de evocar o parlamento britânico para legitimarem reformas.
Trivial!
Hey "Tout va bien", you missed the last boat to GIVEAFUCKISTAN!
Shame Shame
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