quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Nuno da Académica

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APESAR DE TER NASCIDO NO PORTO,
conhecia mal a minha cidade quando, em 1974, regressei a Portugal. Na verdade, tinha vivido até então em Vila Real e na Régua, depois em Coimbra, logo a seguir em Genebra, na Suíça. Ao voltar a Portugal, instalei-me em Lisboa. O meu interesse era, naquela altura, marcadamente político, por isso só a capital me interessava.
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Ao tentar refazer a minha vida em Portugal, um dos primeiros problemas era o da biblioteca. Mau grado ter acompanhado o movimento editorial português durante o exílio (assinava uns boletins mensais da Livraria Portugal...), muito me tinha escapado. E também me faziam falta os clássicos portugueses que, nas mudanças, haviam desaparecido. Por isso me dirigi a um ou dois alfarrabistas, a fim de me ajudarem à reconstrução. Um deles foi o Nuno. O meu pai, que vivia em Vila Nova de Gaia, aconselhou-me a Livraria Académica, que tinha pertencido, em tempos, a um conhecido dele. Agora, disse-me, está lá um rapaz novo, muito simpático e muito competente.
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Segui à letra o sábio conselho. Conheci então o Senhor Nuno Canavês, que uns anos depois se transformou no Nuno da Académica, para ser agora, simplesmente, o Nuno. Um amigo. Um conselheiro. Quando vou ao Porto, quase nunca falho uma visita. Já fui bom cliente, quando estava a fazer a reconstituição da biblioteca, hoje sou menos. Mas ele continua amigo. Quando tenho a sorte de lá passar aos fins-de-semana, quase sempre encontro uns fiéis amigos que fazem da casa uma espécie de tertúlia. Se alguém quer saber alguma coisa sobre aquela cidade, coisa séria ou divertida, é ali que deve bater à porta.
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Encontrou quase todos os livros raros ou difíceis que procurei e de que lhe fiz rol. Livros sobre o Douro e o Vinho do Porto, sobre Trás-os-Montes, sobre a política no século XIX, revistas, livros de fotografia, dicionários, livros de estrangeiros sobre Portugal, Jorge de Sena e Eça de Queirós, Torga e Orlando Ribeiro, nada falhou. Para além disso, do amigo e do livreiro atento, o Nuno é também um Transmontano estudioso e dedicado à sua região. É ele o autor da melhor e mais completa bibliografia de interesse regional que vai fazendo e actualizando, com a perícia de um profissional, mas com o carinho e a arte de um amador. A nossa província, o nosso “reino maravilhoso” tem para ele uma dívida que é também de todos nós.
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Em tempos de “fast food” e de “short books”, de resumos e fotocópias, é reconfortante saber que existe uma Académica, que o Nuno está à sua frente, que os seus amigos e os seus clientes o respeitam tanto pela amizade e pela fidelidade, como pelo profissionalismo e pela seriedade.

2 comentários:

Helena Velho disse...

A Académica e o Porto! Há lugares onde fomos felizes e existem para sempre, mesmo que tudo mude à nossa volta. As memórias são alicerces fantásticos para a construção de narrativas que sustentem a nossa existência.
E que pode uma nortenha, adoptada pelos "tripeiros" dizer , além de : o Porto é uma das cidades mais LINDAS do Mundo?!

joshua disse...

Só o meu Porto tem gente assim.